Na substituição etária os produtos precisam de um apelo mais inteligente que aquele até então básico no ambiente de forte ritmo de crescimento populacional.
Não se trata de uma afirmação simplista e muito menos ausente de lógica de mercado.
Na fase de altas taxas de fecundidade e natalidade, as crianças, adolescentes e jovens adultos são o alvo das campanhas de propaganda e publicidade.
Não é de admirar, porque o volume de mercado desses grupos etários é efetivamente dominante no conjunto populacional.
O trabalho de criação publicitária sempre envolve talento e sensibilidade e na falta do primeiro é o segundo que vai dar as cartas.
Quem não gosta de fazer divulgação para crianças? Elas são receptivas e contentam-se com pouco. Em qualquer época, a figura de um palhaço já é suficiente para agradar qualquer criança. A foto ou desenho de um gatinho dispensa qualquer dissertação técnica.
Adolescentes então são alvos fantásticos. Geralmente se tornam admiradores de figuras marcantes na mídia esportiva (rapazes) e na arte musical (garotas). Variações criativas em torno desses temas acertam a maioria.
Jovens adultos também se deixam levar por ícones de áreas diversas e tendem a seguir alguns padrões durante alguns anos antes de maior amadurecimento.
Algumas marcas de produtos se tornaram quase “eternas” e muitos se lembram mesmo na idade madura, de imagens que significavam uma época de sonhos e alegria.
O leite do bebê, o cobertor do garotinho, o ursinho da menina, o álbum de figurinhas, os heróis dos vídeos-game, as bonecas e assim por diante.
Alguns produtos só existiam para crianças e outros apresentavam algumas versões que margeavam os limites da juventude.
Talco era produto para bebês. Naturalmente o talco poderia ser utilizado em qualquer idade, mas na prática era um produto de público específico e sólido, em permanente crescimento.
Acabou! ACABOU com letras maiúsculas.
Acabou o que? O produto?
É claro que não! O talco continua firme nas linhas industriais e vai continuar vendendo ainda. Só que as vendas vão cair porque não nascem mais crianças na quantidade em que nasciam até as duas últimas décadas do século passado.
Para dar uma comprovação da afirmação, a tabela abaixo mostra o que já acontece com o grupo etário de crianças até três anos que normalmente são usuárias de talco. Fonte IBGE Projeção da População Brasileira por Sexo e Idade 2000/2060 – Revisão 2013.
No mesmo quadro, também com a mesma fonte, a quantidade de VIPPES de 65 a 79 anos que mais representam a classe dos “vovôs”.
Em milhões de habitantes
idade / ano |
2000 |
2001 |
2014 |
2018 |
2024 |
2040 |
2060 |
Bebês |
13,86 |
13,88 |
11,871 |
11,279 |
10,53 |
8,966 |
7,111 |
até 3 anos | |||||||
Avôs |
7,950 |
8,178 |
12,319 |
14,547 |
18,806 |
29,498 |
39,299 |
65 a79 anos | |||||||
Participação |
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|
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dos avôs |
36,4% |
37,1% |
50,9% |
56,3% |
64,1% |
76,7% |
84,7% |
Destaca-se o ano de 2001 como o pico da quantidade de bebês até três anos em números absolutos no Brasil – 13, 882 milhões. Ponto mais alto do potencial de vendas de talco para bebês.
Pode-se também verificar a mudança substancial de 2001 para 2014 onde a quantidade de vovôs já ultrapassa a de bebês até três anos. Nos anos vindouros a substituição etária se acentua.
Já passou da hora de criar fórmulas adequadas de talco para vovôs homens e mulheres e esse “nicho” que na prática nunca foi trabalhado, já é este ano o fantástico substituto etário.
Torquato Morelli