Higiene pessoal é composta por uma gama de procedimentos para proporcionar melhor barreira às doenças, principalmente infecciosas, e para proporcionar maior conforto e bem-estar. Principalmente para os VIPPES.
Gigantesco o mercado de produtos e serviços para higiene pessoal. A propaganda para sabonetes, cremes dentais, cotonetes, lenços descartáveis, fraldas, desodorantes e uma infinidade de outros itens é volumosa e constante. Bebês, crianças, jovens e adulto-jovens cedem suas imagens para apresentação dos mais recentes lançamentos em embalagens atraentes e preços nem sempre acessíveis para todos.
Entretanto, nesse mundo maravilhoso de modelos bonitos, sensuais, saudáveis e felizes, os VIPPES têm participação pequena, pouco perceptível.
Será que VIPPES não tomam banho? Não escovam dentes? Não possuem odores e nem suor? É claro que eles apresentam as mesmas características das demais classes etárias e até com mais disposição para cuidados quando se trata de higiene pessoal.
Por que então a propaganda é tão tênue para essa classe etária? Há campo para desenvolvimento de mercado de maior porte? Há muitas respostas para todas as questões. Podemos pensar em algumas:
- O mercado da higiene pessoal para VIPPES era pequeno até dez anos atrás. Acompanhava a participação dessa classe no conjunto da sociedade;
- Não havia muito interesse em conhecer o perfil dos VIPPES (velhos, na época);
- A sociedade não via com bons olhos a preocupação dos “velhos” com produtos que pouco melhoraria as suas condições precárias;
- As empresas consideravam dispêndio improdutivo o desenvolvimento de produtos específicos para “velhos” com pouco tempo de vida.
O processo de envelhecimento populacional vem mudar a situação. A sociedade troca os “velhos” pelos VIPPES. Estes demonstram uma personalidade mais forte e autônoma e sabem manifestar o que pensam e desejam. A tendência do mercado é cristalina: VIPPES já é a classe etária que mais cresce no País e em velocidade admirável.
Exemplo dessa mudança se observa na higiene dentária: fixadores dentais eram os produtos mais divulgados para os VIPPES da época. Hoje, com o advento dos implantes e novas tecnologias odontológicas, os VIPPES participam do mercado de cremes dentais nas mesmas condições que as demais classes.
O que não mudou ainda, entretanto, é o conjunto dos produtos de higiene pessoal. Continua como antes, sem distinção de classe etária. É como se realmente todas as pessoas fossem iguais. É como se os VIPPES não apresentassem características diferentes dos indivíduos de idades inferiores.
Acontece para a totalidade dos produtos de higiene pessoal. Todos são universais. Sabonetes, xampus, desodorantes, cremes de limpeza dermatológica e outros.
Para comprovação da ausência de pesquisas e planejamento de produtos com indicação precisa para as necessidades dos VIPPES, na maioria dos cursos para cuidadores de idosos, recomenda-se a não utilização de sabonetes e cremes dermatológicos com perfumes “em razão dos problemas alérgicos comuns nos idosos”.
Nesse alerta, duas interpretações podem ser aventadas:
- Os VIPPES efetivamente possuem maior tendência para a manifestação de alergias;
- Os produtos oferecidos ao mercado não fazem nenhuma referência à ausência de alergia como benefício. O silêncio seria concordância com a primeira interpretação? Ou seria falta de atenção do marketing para as preocupações do mercado?
A dúvida sobre a utilização de produtos para higiene pessoal não se restringe a sabonetes, mas para todas as linhas desse segmento: xampus, desodorantes, cremes em geral, etc.
De alguma forma, muitos VIPPES receiam que ao tomar um banho e façam uso de determinado produto sem indicação precisa de que são indicados também para VIPPES, eles possam ficar com a aparência do Shrek.
As organizações comerciais que quiserem ganhar enormes fatias de um mercado em crescimento vertiginoso devem dirigir sua atenção para as condições físicas e biológicas dos VIPPES e preparar produtos específicos para eles. Se os itens normais da linha atual também são indicados para VIPPES, é preciso que isso seja informado com clareza.
Se essas medidas não forem tomadas, os milhares de educandos dos cursos para cuidadores de VIPPES continuarão a receber orientação para não usarem produtos de higiene com perfume. E os VIPPES ficarão decepcionados e constrangidos em não poderem sentir mais o próprio “cheirinho” de limpeza a que estavam acostumados durante a vida.
Torquato Morelli
