- 07 de abril de 2019

Criatividade etária

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Adaptar produtos para a população que envelhece é remendo. A grande oportunidade para todos os inventores e “designers” é criar novos produtos. Para milhões de novos usuários, os VIPPES.

ideia_lampadaSe imaginarmos uma cozinha do tipo padrão com geladeira, fogão, pia, forno de micro-ondas, mesa, cadeiras, armários para utensílios e alimentos, poderemos desenhá-la em uma folha de papel.

Para a maioria da população, essa cozinha quase padronizada, poderia apresentar algumas nuances no estilo do mobiliário, na decoração e em algumas facilidades operacionais tais como gavetas deslizantes, geladeiras “frost-free”, panelas antiaderentes, fornos auto-reguláveis e alguns acessórios eventuais.

E se uma parte crescente da população, os VIPPES, quisesse cozinhas operacionais para a sua condição físico-orgânica? O desenho na folha de papel seria o mesmo?

Se a resposta for positiva, podemos afirmar com toda a convicção e experiência profissional, que a insatisfação seria enorme.

Os VIPPES sentiriam imensas dificuldades e algumas até insuperáveis para aproveitarem com satisfação um dos locais mais apreciados da residência. Altura, abertura e fechamento de móveis e armários, altura de prateleiras, operacionalidade de equipamentos e acessórios, facilidades de limpeza, etc. são aspectos que tornam o desenho geral da cozinha totalmente inadequado.

Adaptar acaba sendo o mesmo que “remendar”, porque colocar uma escada para alcançar a porta de um armário é o mesmo que dizer “vire-se”. Subir uma escada para parte dos VIPPES é tão problemático quanto escalar montanhas (por causa de artroses, escolioses, espondilólises, cardiopatias, dificuldades visuais, cãibras, tonturas, etc).

Na verdade, todo o desenho da cozinha precisa ser refeito em relação ao que é hoje.

Depois de um século de fabricação e uso de geladeiras com o freezer na parte superior, só recentemente foi colocado no mercado, um refrigerador com o freezer na parte de baixo, os chamados “reverse”.  Esse desenho é extremamente favorável para os VIPPES.

Acontece que tudo, mas tudo mesmo, na cozinha precisa ser repensado. Desde a arquitetura do local, dos pisos ao teto, até a lata do lixo.

Não há dúvida que o comportamento dos usuários também terá que mudar, mas quem não aceitará uma mudança francamente favorável?

Os VIPPES podem ser classificados em faixas etárias com características específicas bem definidas.  Uma residência diferente pode ser planejada para cada uma delas. VIPPES centenários raramente moram sozinhos. Isso ainda acontece em alguns locais afastados dos centros urbanos normais.

Já parte dos VIPPES de 90 a 99 anos, consegue e gosta de viver com autonomia para preservação de sua individualidade.

Entre 80 e 89 anos, mais da metade prefere a vida sem acompanhantes. Entre 70 e 79 anos é comum a busca da autonomia.

Os VIPPES mais “jovens” de 50 a 69 anos querem continuar a não depender de outros e farão o possível para não precisarem de nenhum tipo de ajuda para realizarem o que tiverem vontade.

O que, entretanto, os torna membros de uma classe etária bem definida é a redução natural de algumas capacidades funcionais. Em alguns mais, em outros menos, mas todos sentirão de alguma forma a perda de alguns atributos que antes não eram motivo para nenhum tipo de preocupação.

Automóveis, equipamentos eletrônicos, móveis e utensílios em geral, repentinamente se tornam “inadequados” para os VIPPES.

Quando eram poucos, “não valia a pena” gastar tempo e capital para encontrar soluções que os agradassem. Já se tornaram, entretanto, uma massa crítica não desprezível e crescerão tanto que em algumas décadas se tornarão o maior mercado consumidor do País e depois do planeta.

A criatividade tem uma oportunidade fantástica para transformar o mundo em uma civilização capaz de tornar o envelhecimento populacional uma alavanca de inovações sem precedente na História.

F. Aristóteles Filho

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