- 06 de abril de 2019

Longevidade: critérios

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À medida que o envelhecimento populacional vai se tornando um processo globalizado e influente nos destinos nacionais, a longevidade adquire importância inédita. O que se conhece dela?

logevidade_criteriosSe o ângulo a ser analisado for o do tempo de vida, longevidade fica simples de entender. É possível criar uma escala de idade e encontrar vários graus de longevidade humana.

Atualmente se considera idosa a pessoa que alcança sessenta anos, mas já é vigente em alguns países, legislação que estende a idade inicial do grupo para sessenta e cinco anos. O aumento da esperança de vida tem sido elevado substancialmente nos últimos vinte anos e os setenta anos de idade já não provocam estranheza. É bem provável que em parte do planeta a legislação pulará a faixa dos sessenta e cinco anos, passando diretamente de sessenta para setenta anos a idade definidora do grupo idoso.

Nesse ângulo simples de idade cronológica, o grupo etário de sessenta anos em diante irá se tornando volumoso até se tornar maioria na população total. No Brasil esse fato acontecerá nas duas últimas décadas deste século. A lógica social, política e econômica determinará a criação de critérios para a longevidade e eles prevalecerão sobre o entendimento atual.

Em meados do século passado, pessoas de sessenta anos em diante não eram numerosas e se sentiam marginalizadas. Não havia dúvidas sobre a longevidade porque passar dos setenta anos era tarefa hercúlea. Chegar aos oitenta ou noventa anos se tornava exceção à normalidade e passar dos cem anos entrava no campo das aberrações, milagres e casos de estudo científico.

Centenários. Por que seria caso de estudo científico?

A base da resposta está na tabela abaixo:

                                           População centenária no planeta

             ano      população
     1950        24.000
     2009        269.000
     2050 (previsão)      3.800.000

Fonte: artigo “Centenários no mundo: uma visão panorâmica”, por Marina Tisaka Kumon, Valcilene Pinheiro da Silva, Antonio Itamar da Silva e Lucy Gomes.

Até para localizar vinte e quatro mil pessoas em 1950 era tarefa complicada. Conversar com alguns deles era uma tarefa admirável. Realizar estudos para saber como chegaram a viver um século se tornava um desafio com poucas chances de resultar em constatações de efeito universal.

Muitas obras escritas nessa metade do século XX apresentavam a longevidade como resultado de alguns padrões de vida. A dificuldade residia no pequeno número de amostras de cada caso e chegar a algum denominador comum parecia ter mais um toque de circunstância e não comprovação científica.

A situação mostra uma alteração extraordinária em 2009 com duzentos e sessenta e nove mil VIPPES de cem anos em diante.

Assim se torna possível com menor dificuldade a realização de estudos e pesquisas mais detalhadas em uma amostragem mais significativa. Com certeza absoluta, o trabalho realizado pelos autores do artigo mencionado possui um valor que supera quase todas as pesquisas e obras levadas a cabo até a virada deste século.

Não se trata de desmerecer estudos competentes realizados anteriormente, mas a aplicabilidade das constatações apresentadas por eles era quase impraticável. Saber que em determinada micro-região de um país asiático incrustado no alto de uma montanha havia maior porcentagem de centenários não se tornava útil. Praticamente ninguém conseguiria copiar o estilo de vida, alimentação, clima e outros aspectos exclusivos do local e dos costumes milenares.

Veja-se, por exemplo, o caso do Japão, que apresenta o maior índice de centenários em todo o mundo: em 1963 a população centenária da 3ª maior potência econômica da Terra (só perde para os Estados Unidos e no ano passado para a China também), era da ordem de (para pasmar): 153 pessoas.

Cento e cinquenta e três VIPPES com cem anos e mais.

Como se poderia estudar os centenários japoneses? Caberiam com sobra em um único vagão de metrô, sentados. Passados cinquenta anos, o Japão já conta 54.397 VIPPES centenários. Seriam necessários trinta trens de seis vagões de duzentos e trinta e seis passageiros para comportar todos os centenários japoneses.

Do ponto de vista técnico, já há número suficiente para se fazer excelente pesquisa sobre longevidade. Só com os japoneses que alcançaram cem anos de 2012 para 2013 são mais de três mil pessoas, suficientes para um estudo qualificado.

No Brasil já temos mais de vinte e cinco mil centenários e já se pode iniciar trabalhos confiáveis sobre a longevidade. Esse novo quadro de longevos em quantidade que forma “massa crítica” para quaisquer tipos de avaliações antropológicas, sociológicas e biológicas poderá servir de base para a formulação de critérios de longevidade que poderá favorecer a elaboração de políticas públicas e empresariais para fazer do envelhecimento populacional um grande negócio.

Torquato Morelli

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