- 07 de abril de 2019

O velho envelhecimento

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Muita gente ainda não se deu conta da grande mudança social do século XXI: o envelhecimento populacional. Entretanto, os sinais vão se tornando mais chamativos e volumosos.

a_beleza_nao_envelheceEm mais ou menos dez anos o assunto envelhecimento populacional estará “bombando” em todos os meios de comunicação. Se o Portal VIPPES Negócios hoje se apresenta como vitrine, em meados da próxima década muitas vitrines formarão o shopping da nova sociedade mais envelhecida.

Uma pergunta que poderia ser formulada é sobre quanto tempo os agentes ativos levam para constatar mudanças profundas na maneira de compreender o mundo e a vida.

O envelhecimento populacional traz uma metamorfose similar à da lagarta em borboleta. Quando temos a exata compreensão da fantástica transformação de um ser em uma criatura diferente, bela, delicada, suntuosa mesmo, a lagarta se torna também admirável.

A literatura, técnica ou não, que tem como base o envelhecimento em suas múltiplas arestas é profusa a partir da década de 1990 e neste século já começa a se destacar.

Nas décadas de 1970 e 1980 quando no Brasil não se pensava em envelhecimento, na Europa e nos Estados Unidos muitas obras já tinham sido publicadas. Os primeiros trabalhos foram fruto de grupos técnicos profissionais nas universidades e em setores especiais do governo e instituições científicas. Nesse período apareceram também as sociedades de geriatria e gerontologia que produziram farto material de pesquisa e avaliações.

Exemplo é o relatório de cunho técnico sobre uma pesquisa com uma centena de idosos com mais de setenta anos, publicada em 1954. Com cerca de 100 páginas procurou dar uma noção da realidade de vida sob os ângulos social e econômico desses “sobreviventes” longevos em meados do século XX. “Over seventy”, de Kathleen M. Slack.

Talvez uma das mais antigas obras impressas sobre a Longevidade seja o Tratado de Saúde e Longa Vida,  de Leonardus Lessius (1554/1623). É possível encontrar uma edição original de 1634 gratuita na Internet. A obra é muito interessante e em treze capítulos formula conselhos para obter ou manter uma boa saúde orgânica e mental. Nota-se a influência religiosa na obra e os conceitos morais e éticos vigentes em Roma onde ele passou parte de sua formação. A fundamentação é principalmente sobre o valor da escolha correta da comida e da moderação na bebida.

Entre outras no Brasil, algumas publicações apareceram com o tema da longevidade muito antes do atual processo de envelhecimento surgir:

– “Da velhice”, de Émile Faguet e Eugénio de Castro (Livraria Francisco Alves – edição de 1921 (121 páginas);
– “Como emplacar 100 (i.e. cem) anos”, de Mario Filizzola – publicado pela Edições “O Cruzeiro”, de 1966 (222 páginas);
– “A vida não tem idade: uma experiência a serviço da gerontologia social”, de Carlos Coelho de Faria – edição de 1973 publicado pelo Departamento de Geriatria D. Pedro II da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (288 páginas);
-“Meus oitenta anos”, de Modesto de Abreu – edição de 1981 da Revista Continente Editorial (174 páginas);
-“Velhice: e outros contos”, de Salim Miguel – edição de 1981 da FCC Edições (121 páginas).

Como se vê o tema sempre despertou interesse, mas sob o ângulo da longevidade pessoal. As obras com características biográficas demonstravam a excepcionalidade de viver até os oitenta e noventa anos. Cem anos era um objetivo fantástico, para poucos exemplares humanos.

Neste século, viver oitenta ou noventa anos não despertará interesse de nenhuma editora, porque muita gente vai chegar e passar dessa barreira. A tabela que segue comprova (Fonte: IBGE Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade 2000/2060 – Revisão 2013):

  Evolução da quantidade de VIPPES de 90 anos em diante em relação  
                                      ao total da população brasileira

 

   ano

População de 90 em diante

% da evolução

dos VIPPES

% da evolução da população total

2000

284.467

 

 

2014

504.610

77,4

16,9

2015

538.633

6,7

0,8

2020

743.209

38,0

0,7

2030

1.262.580

69,9

5,2

2040

2.134.707

69,1

1,9

2050

3.562.951

66,9

-0,8

2060

5.024.073

41,0

-3,6

O quadro demonstra de forma inequívoca a expansão fabulosa do grupo etário de noventa anos em diante. Em 60 anos, esse grupo cresce 1.766% contra 25,8% da população total. E então mais uma comparação ressalta: com os bebês até 12 meses de idade.

Fonte: IBGE Projeção da população do Brasil por sexo e idade 2000/2060
                                                         Revisão 2013      

  2000 2014 2015 2020 2030 2040 2050 2060
90 e + Partic.no total  

0,16%

 

0,25%

 

0,26%

 

0,35%

 

0,57%

 

0.96%

 

1,57%

 

2,30%

Bebês até 12 meses  

2,0%

 

1,43%

 

1,41%

 

1,28%

 

1,09%

 

0,97%

 

0,86%

 

0,80%

E aí está a Substituição Etária “pedindo” ao marketing que enxergue esse novo mercado em expansão no Brasil.

O tema envelhecimento populacional precisa “bombar” em todos os veículos de comunicação, livros, artigos e folhetos de divulgação educacional e comercial para que todos os agentes ativos e passivos da sociedade não se surpreendam daqui para frente com o novo perfil etário do País.

F. Aristóteles Filho

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