- 07 de abril de 2019

Decisões Médicas

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Quando um dorzinha resolve dar as caras, VIPPES não pensam duas vezes em procurar seu médico. A competência, empatia e confiança mútuas conduzirão as decisões. Colaboração de Dra. Janice Caron Nazareth.

Dra. Janice Caron Nazareth*decisoes_medicas (1)A partir do fim do século passado, o vasto conhecimento decorrente dos meios de comunicação permitiu aos leigos acesso aos mecanismos e tratamentos das doenças, assim como colocou os consumidores às claras com seus direitos. Expandiu-se o culto à autonomia, e, embora ela seja muito diferente nas legislações dos diversos países, a tendência geral é que seja de tal forma observada, que não leva em consideração a ignorância técnica, inerente ao leigo.

A classe médica, outrora respeitada ao extremo, teve, como consequência da proliferação incontida de escolas de baixo nível e profissionais mal preparados, progressivo desgaste de sua imagem. Da mesma forma, advogados incitaram a população a processos contra médicos, o que trouxe à tona reais erros médicos, mas, também, erros jurídicos, acuando nossa classe. As “diretrizes” tem sido seguidas de maneira inflexível, como se jamais houvessem exceções, sendo usadas pelos planos de saúde como pressão sobre nós.

Devemos fornecer a nossos pacientes e familiares informações necessárias para que entendam, dentro de suas condições intelectuais, sociais e emocionais, a doença e suas implicações terapêuticas e prognósticas, sem nos eximirmos de manifestar, assim que possível e sem deixar dúvidas, a nossa decisão técnica, para então, levando em consideração as condições circunstanciais, fazer a tomada final de decisão . Sabemos que há doenças complexas que permitem alternativas válidas de tratamento, mas uma será sempre melhor, de acordo com o paciente, o conhecimento técnico do time e os recursos disponíveis.

Apenas nós, médicos, temos o saber para melhor indicar se o antibiótico deve ser este ou aquele, se o procedimento deve ser cirúrgico ou percutâneo, se é necessária uma cirurgia ou tratamento clínico. Nós é que nos devemos manifestar com clareza sobre os benefícios reais do paciente ser ou não dialisado ou intubado. Se alguma dúvida houver, ela deve ser dissipada por consultas a outras equipes, ou para as comissões de Bioética, não deixando para paciente e família a total responsabilidade de escolhas difíceis, pois não tem equilíbrio emocional e conhecimento técnico para tal. Jamais devemos temer manifestações jurídicas contrárias, se nossa atuação estiver de acordo com as normas técnicas. Afinal, quem melhor do que nós, profissionais da área, para estimar resultados e prognósticos? Mesmo que algum membro da família possa dizer o contrário, nosso julgamento, se correto, será endossado por peritos médicos e instituições de classes.

Nos casos de maior complexidade, devemos ponderar as informações fornecidas por pacientes e familiares, e, junto deles, tomar uma “decisão compartilhada”. Nesse caso, todos deverão ser orientados sobre as opções terapêuticas, de forma que possam ter a real compreensão das implicações que cada uma traz, com análise dos benefícios reais, inclusive quando a opção for nada fazer. Da mesma forma, o médico deverá ter em mente os desejos do paciente, respeitando suas determinações, vontades e sentimentos, que podem ser totalmente distintos conforme sua trajetória de vida , suas crenças e experiências prévias.

Decisões complexas exigem racionalização e avaliação das alternativas possíveis, maximizando ganhos e minimizando perdas. A neurociência vem desenvolvendo métodos para avaliar como cognição, emoção, atenção e outras variáveis contribuem para o processo. A decisão não é uma simples escolha entre alternativas, mas depende da experiência e sensibilidade do indivíduo, as quais determinam sua capacidade de identificar os principais fatores da situação. Quem detém tal capacidade mais do que nós, médicos, com o suporte do time multidisciplinar?

*(médica cardiologista e coordenadora da CoBi do HAOC – Comissão de Bioética do Hospital Alemão Oswaldo Cruz)

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