- 04 de abril de 2019

Alzheimer = tsunami social

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Foto: ReproduçãoTodos conhecem a lenda do avestruz que enfia a cabeça na areia para não ver o que acontece a sua volta. Parece que a lenda se torna realidade e que o planeta está se tornando um mastodôntico parque de avestruzes. Poucos querem conhecer e enfrentar a realidade da doença de Alzheimer. Esses poucos, estoicamente, tentam alertar sobre a natureza e perspectivas para os próximos anos, pena que a maioria não consegue ouvir com a cabeça enterrada na areia.

Uma obra bem elaborada sobre a doença pode servir de ponto de abertura para o conhecimento fundamental e confiável que todos os brasileiros de qualquer idade deveriam buscar. Trata-se do livro (já no final da 3ª edição) “Você não está sozinho… nós continuamos com você” de autoria de Vera Pedrosa Caovilla e Paulo Canineu (edição Novo Século para a ABRAZ – Associação Brasileira de Alzheimer).

O mérito da obra é apresentar a doença sob vários ângulos, além do foco na questão médica propriamente. É exatamente essa abrangência que pode proporcionar a abertura de uma visão para as dificuldades que o futuro reserva para o conjunto total da população brasileira.

Alzheimer afetará todos!

Alzheimer é uma patologia que contagia sentimentos, que influencia atitudes, comportamentos e que causa transformações sociológicas antes inimagináveis. A doença é observada geralmente nas pessoas a partir dos 60 anos, entretanto, pode ser diagnosticada também a partir dos 50 anos. O diagnóstico não é fácil nas primeiras manifestações e pode induzir a outros tipos de demência mais ou menos graves.
Uma noção primária, mas essencial, para compreender o avassalador impacto da doença é a previsão de que 45% de TODAS AS PESSOAS QUE PASSAREM DOS 95 ANOS TERÃO O MAL DE ALZHEIMER. Há algumas discordâncias, mas nenhum estudo relata números abaixo de 40% da população de 90 anos em diante.

Em números demográficos, o que significa essas porcentagens?

A análise a seguir é uma previsão firmada nos dados disponíveis. A possibilidade é que a realidade seja ainda mais preocupante, porque a doença precisa de mais estudos e registros detalhados. Outras demências que chegam a 30% do total de demências podem esconder casos de Alzheimer mal diagnosticados.

Outra preocupação é a velocidade na expansão dos casos. Com o envelhecimento populacional, os idosos aumentam a sua participação no conjunto populacional, graças à redução da fertilidade/natalidade e do aumento substancial na esperança de vida (longevidade). Esta equação alimenta a identificação de Alzheimer nessa faixa etária que mais cresce, a do pessoal de 50 anos em diante.

Apesar de excepcional, o Alzheimer já se manifesta a partir dessa meia centena de anos. Cresce a partir dos 60 anos e continua a aumentar a cada ano. Aos 90 anos, mais de 40% dos idosos estarão com Alzheimer. E o que é mais dramático e inevitável: cada paciente de Alzheimer necessita de cuidadores.

No início do processo ainda é possível administrar o paciente através de uma atenção familiar mais intensa. No desenvolvimento da doença, as dificuldades crescerão e a partir de certo ponto, o cuidado deverá ser diuturno. Três cuidadores por dia no mínimo (oito horas de atividade cada um). Os cuidadores podem ser familiares, amigos ou profissionais. Naturalmente, muitas famílias conseguirão manter apenas um, mas esse é um aspecto contrário ao bom senso. O cuidador que estiver nessa situação se tornará uma vítima com sofrimento físico e psíquico pior do que o paciente com Alzheimer.

O quadro abaixo mostra a mínima quantidade de pacientes com Alzheimer e a mínima quantidade de cuidadores necessários – 2000/2060, com base na Projeção da População do Brasil por sexo e idade – revisão 2013 do IBGE. Em milhares de pessoas.

Nesse quadro não se inclui o pessoal de saúde e auxiliares imprescindíveis, além dos cuidadores.

Como se pode observar, o Brasil caminha ao encontro de um verdadeiro tsunami social porque na atualidade os recursos humanos e econômicos já não atendem o mínimo necessário. No período de 15 anos (2000 a 2015) precisávamos criar 798 mil cuidadores para pacientes de Alzheimer (53 mil/ano). Para os próximos cinco anos, teremos que formar mais 880 mil (176 mil/ano).

É assustador constatar que em 2060, o País terá 6% da população envolvida exclusivamente pela doença de Alzheimer. Podemos também visualizar no quadro (última linha) o porcentual sobre o total da população acima de 14 anos uma vez que crianças não terão envolvimento no atendimento dos pacientes: 7%. Foto: PortalVIPPES
Esses números levam à conclusão do apavorante desafio que a sociedade brasileira estará enfrentando, conforme o quadro a seguir que fecha este artigo:

Foto: PortalVIPPES

G. Hansen Jr.

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