- 07 de abril de 2019

Menos é Mais

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VIPPES querem  menos… menos cabeça quente, menos falta de tempo, menos distância…  Porém,  mais e menos aqui não diz respeito ao tempo, nem à repetição, e sim à qualidade. Não deixem as coisas irem sem que nada seja acrescentado…

Vera Paraboli Milanesi*

veraDe um bom tempo para cá, tenho tentado ao máximo simplificar minha vida, mas hoje, especialmente, acordei extremamente motivada a isso. Já ao me levantar, apenas passei os olhos sobre as manchetes das notícias do dia, sem me preocupar em saber em detalhes o que vai pelo mundo. Tirei alguns itens do meu café da manhã por não sentir fome suficiente para todos eles, talvez sua ingestão se dê, diariamente, mais por hábito do que por necessidade. Olhei para a pilha de revistas, livros e papéis de meu escritório e me decidi a não terminar o dia sem antes fazer uma seleção do que deverá ficar comigo e do que deve ir para doação. O mesmo pensei a respeito das roupas que vi ao escolher a que usaria nesta manhã ensolarada.

Talvez por isso tenha me sentido mais leve e me sentindo assim, comecei minha oração matinal com a cabeça e o coração mais aliviados. Agradeci pelo novo dia, pela nova oportunidade de me tornar um ser mais humano. Pedi pelos que sofrem, entreguei minhas dores e meus desejos  `Aquele em quem confio e que, pela fé, sei que cuida de mim. Em minha reflexão pensei sobre o quanto acumulamos “lixo” ao longo de nossa vida, o quanto juntamos coisas que já não nos servem; ao contrário, só servem para tornar nossa vida mais pesada. Se não acredita, você que me lê, dê uma olhada em seus pertences: será que consegue usar tudo o que possui? Por mais que façamos faxinas e mais faxinas, por mais que tenhamos já o saudável hábito de doar o que não nos serve mais, sempre há coisas demais para nós. Isso porque, pode prestar atenção, com o passar do tempo, vamos precisando cada vez de menos: menos espaço, menos papel, menos roupas, menos sapatos, menos tudo! Menos coisas e mais essência; menos desperdício e mais partilha; menos ostentação e mais fruição.

“Menos é mais”, talvez seja esse o mantra que deve nos acompanhar desde o nascer até o por do sol, para nos ajudar a não nos perdermos no meio de tanta informação inútil e tantos objetos que mais atrapalham do que ajudam nossa rotina, já tão conturbada por agendas repletas de compromissos inadiáveis, muitos deles também totalmente prejudiciais à nossa saúde física, emocional e espiritual.

“Simplificar” é a palavra-chave que hoje vejo “maximizada” e percebo, com alguma alegria, que ela já tem recheado meus dias de um bom tempo para cá. Só que hoje ela me acordou gritando sua urgência e parece me dizer: menos complicação e mais singeleza; menos racionalização e mais leveza. Menos sofisticação e mais autenticidade. Respondo que isso é nadar contra a corrente, pois o mundo nos grita que devemos ter, ter e ter; que o bonito é parecer e aparecer; que importante é acumular. Daí, a tal palavrinha me repete, insistentemente: “simplifique, simplifique, simplifique”.

Olho para o céu azul, vejo pássaros desenhando danças impensáveis no quadro de meu quintal e sinto que estar mais perto da natureza é um belo exercício de simplificação. Olhar o ciclo natural da vida, o balanço das folhas das árvores se curvando sob a força do vento, ouvir os sons que tudo isso cria, é algo que nos aproxima de nossa essência e nos deixa mais leves.

Tento fazer um paralelo dessa experiência, até agora puramente meditativa, com nossa vida emocional. Quanto e quanto  lixo acumulamos voluntária ou involuntariamente dentro de nós, que vão apodrecendo nossas entranhas? Quantas mágoas, ressentimentos, iras, invejas; enfim, sentimentos mal elaborados que vão se acumulando e empobrecendo nossa vida e nos tornando escravos de nossas dores… Realmente, a faxina também deve ser interior. Começar pelo externo talvez mobilize movimentos internos que tragam mudanças. Penso que somente assim, livrando-nos das velharias e inutilidades externas e internas daremos espaço ao novo. Somente assim conseguiremos vivenciar a riqueza da descoberta de que “menos é mais”. Somente assim conseguiremos cantar com Mogli, o menino lobo que habita o sonho de minha infância: “Necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais”. Somente assim, conseguiremos a viver a única necessidade de que realmente não podemos abrir mão: a de amar e ser amado. Mas isso já é assunto para outra conversa; por enquanto, me contento em compartilhar com você essa minha gostosa experiência de ir me livrando dos pesos desnecessários e poder viajar pela vida com uma bagagem bem menos pesada. Tente também, garanto que vale a pena.

* Psicóloga, mestre e doutora pela UNESP, com pós-doutorado pela USP. – Universidade de São Paulo.
Revista Bem Estar. Jornal ” Diário da Região  (São José do Rio Preto – SP)” – 12/08/2012

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