- 07 de abril de 2019

A vitamina D para VIPPES

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A carência de vitamina D em grandes centros urbanos como São Paulo já atingiu índices alarmantes, especialmente entre os VIPPES. No entanto, a alimentação inadequada não é a vilã, e sim a falta de exposição solar.

medicamentos_sem toxicidadeA maior parte deste nutriente é sintetizada na pele, com o estímulo dos raios ultravioleta. O processo é prejudicado pelo uso de filtros.  Costuma-se dizer que 20 minutos de exposição nas primeiras horas da manhã ou no fim da tarde são suficientes, mas isso não é necessariamente verdade. É difícil saber ao certo o quanto de sol é necessário. Pessoas negras precisam de mais tempo do que pessoas brancas e os Vippes levam pelo menos o triplo do tempo para produzir a mesma quantidade de vitamina que os jovens. O estilo de vida moderno não favorece os banhos de sol. A fim de se adequar à nova realidade, é preciso suplementar.

A suplementação com vitamina D deveria fazer parte da rotina de acompanhamento geriátrico e ser regra entre os grupos de risco para fratura, como idosos institucionalizados, pacientes com lúpus, portadores de osteoporose e mulheres na pós-menopausa.

Mas, mesmo sendo o Brasil um país tão ensolarado, é possível que a população sofra com a falta de vitamina D? Vale lembrar que, a deficiência na população é muito grande, principalmente entre os idosos. Em uma pesquisa feita na cidade de São Paulo, descobriu-se que,  no caso dos 243 idosos que moravam em domicílio, o número foi de 85%. Entre os 141 jovens que compuseram o grupo controle, a taxa foi de 40%. Quando se avalia a proporção de pessoas com deficiência de vitamina D, que são valores ainda mais abaixo do ideal, o índice foi de 15% entre idosos em domicílio e 5% entre os jovens. Essa pesquisa foi concluída em 2004 e estudos posteriores indicaram que, embora os números de deficiência entre idosos institucionalizados sejam assustadores, eles continuam não recebendo suplementação. Provavelmente os médicos nem se lembram disso. Agora existem dados nacionais robustos que confirmam achados sobre a prevalência da deficiência de vitamina D em outras populações. A insuficiência é encontrada desde o Recife até Porto Alegre.

Porém,  o que caracteriza a insuficiência e a deficiência de vitamina D e qual é a consequência em cada caso já que os estudiosos mais conservadores afirmam que o ideal seria 20 nanogramas (ng) de 25-hidroxivitamina D (25OHD) – que é o metabólico dosado no exame – por mililitro (ml) de sangue. Outros resultados, entretanto, estão de acordo com a Sociedade Americana de Endocrinologia, que defende valores acima de 30 ng/ml. Abaixo de 10 ng/ml é considerado deficiência. Valores entre 10 e 30 ng/ml são considerados insuficiência e já estão associados ao aumento do risco de fratura devido à osteoporose, pois há elevação da produção do hormônio da paratireoide, o PTH, que provoca a desmineralização do osso.

Esse quadro é conhecido como hiperparatireoidismo secundário à insuficiência de vitamina D. Já os casos de deficiência causam uma doença ainda mais grave: a osteomalácia, que é o amolecimento dos ossos. Também causa fraqueza muscular muito grande. Estudos recentes têm associado a deficiência de vitamina D a uma série de outros problemas de saúde, como câncer de mama, de próstata, colorretal, além de condições autoimunes, como diabetes e esclerose múltipla.

As causas da hipovitaminose na população brasileira são causadas, sem dúvida, pela falta de exposição solar e uso de filtro solar. Quando os médicos recomendam aos seus pacientes que usem protetor e evitem o sol do meio-dia, deveriam também prescrever suplementação de vitamina D. Dizem que 20 minutos de exposição nas primeiras horas da manhã ou no fim da tarde são suficientes, mas isso não é necessariamente verdade. É difícil se saber ao certo o quanto de sol é necessário. Além disso, é necessária aquela quantidade de sol que deixa a pele avermelhada para estimular a produção de vitamina D.

No caso da alimentação não existe nenhuma influencia e ela é praticamente irrelevante. Trabalhos recentes mostram que a ingestão diária fica abaixo de 100 unidades de vitamina D por dia. São poucos os alimentos com quantidades significativas e eles não são consumidos com muita frequência – peixes gordos como atum, salmão e cavala. Agora, felizmente,  começaram a surgir alimentos fortificados com vitamina D, como iogurte e leite.

Vale lembrar que  a ingestão diária ideal baseia-se  nas determinações das agências de saúde americanas. Na última revisão eles aumentaram para 600 unidades diárias, mas alguns médicos afirmam ser pouco, principalmente para os grupos de risco para fratura. Um trabalho feito com pacientes atendidos no Ambulatório de Osteoporose da Disciplina de Endocrinologia da Unifesp – a maioria composta por mulheres na pós-menopausa – mostrou que, pelo menos nesse caso, foi necessária uma ingestão acima de 2 mil unidades diárias para manter os níveis ideais. Esse trabalho também mostrou que os pacientes que praticavam atividade física tinham níveis maiores de vitamina D.

Esse tipo de informação teria que ser divulgada em todos os meios de comunicação. E também deveria ser matéria obrigatória para todos os profissionais de saúde que trabalham com VIPPES. A iniciativa privada pode encontrar maneiras inteligentes de disseminar esses conhecimentos recentes e assim auxiliar a criação de novas gerações saudáveis de VIPPES. A produtividade deles será imprescindível para o equilíbrio da sociedade envelhecida.

Já em relação à atividade física, além dela estar relacionada com maior chance de exposição solar, a vitamina D, por ser lipossolúvel, poderia ter sua meia-vida alterada nas situações de maior metabolismo energético.

A suplementação deve fazer parte do acompanhamento geriátrico para todos os Vippes. Hoje, alguns médicos já prescrevem para todos os pacientes atendidos. E mais: perceberam que mil unidades ainda é uma dose baixa. Existe uma pesquisa de grupo que mostrou que a simples suplementação com vitamina D pode aumentar a força muscular dos idosos com deficiência de vitamina D. Nela, foram avaliados 46 pacientes divididos aleatoriamente em dois grupos. Metade recebeu suplementação e a outra, placebo. No grupo suplementado, a força dos músculos flexores de quadril aumentou 16,4% em relação aos níveis basais. A força dos músculos extensores de joelho subiu 24,7%. Como esses são os músculos responsáveis pela marcha, o ganho de força muscular também diminui o risco de quedas.

Finalmente, os principais benefícios da suplementação , com certeza, seria a diminuição dos casos de fratura, especialmente em idosos. Nos casos mais graves de deficiência, ajudaria a melhorar a força muscular. Existem outros benefícios que têm sido associados ao uso de vitamina D, como a redução do risco de câncer, melhora na resposta imunológica a infecções e redução no risco de doenças autoimunes. Parece que alguns médicos ainda relutam  mas é uma cultura que precisa mudar para se adequar ao modo de vida atual. As pessoas  não trabalham mais ao ar livre, usam filtro solar, quase não andam  a pé e ainda não se adequaram a essa realidade.

Mona C. Cury

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