- 05 de abril de 2019

Planeta de VIPPES

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Em um mundo de jovens, os VIPPES poderiam ser celebridades incontestáveis? O filme “O Preço do Amanhã” é bom como instigador para avançar nas perspectivas das mudanças etárias.

planeta_de_vippesNo filme “O Preço do Amanhã” (“In Time” nos Estados Unidos) todos os personagens são jovens adultos que não passam dos 25 anos. Filme de Andrew Niccol com Amanda Seyfried, Justin Timberlake (no papel de Will Salas), de 2011.

No mundo de “In Time”, a moeda é o tempo. Todos param de envelhecer aos 25 anos. Em uma determinada família não se sabe, pela aparência, quem é a mãe, a avó ou a filha, pois as três mantêm a aparência da juventude. Os ricos podem “comprar” décadas de tempo de uma só vez e sem restrição à imortalidade.  Os demais têm de pedir esmolas, pegar emprestado ou até cometer crimes para roubar tempo de quem tem mais. Acusado de ter roubado todo o “tempo” de um homem, o que teria provocado sua morte, Will Salas, morador da periferia, tentar provar sua inocência e encontrar uma maneira de mudar o sistema.

A ficção, que custou 40 milhões de dólares, valoriza a aparência e a riqueza como os principais valores de uma sociedade futura.  A longevidade “desaparece”, pois todos os habitantes desse mundo impossível apresentam o mesmo traço etário.

Se o filme for assistido como uma simples diversão, é interessante. Os absurdos se tornam detalhes não significativos e as profundas questões sociais deixam de ter qualquer importância.

Entretanto, o filme pode ser um gatilho para se avaliar qualquer sociedade a partir da eliminação do fator etário: todo mundo com a mesma idade, todos jovens em um primeiro parâmetro.

O que faria a diferença entre as pessoas?

Imagine um grupo de uma dezena de “jovens” debatendo sobre o tema “envelhecimento”.  Alguns com o dobro ou mesmo o triplo da idade dos mais jovens reais. Mesmo supondo que o processo de envelhecimento tenha sido paralisado por meios biológicos válidos, a quantidade de experiências “vividas” seria também o dobro e o triplo daqueles que ainda não necessitaram fazer uso do processo de freio biológico?

Como eles interpretariam essa  imensa diferença?

A outra questão implícita é o banco de memórias. Será que um processo de estancamento do envelhecimento também paralisaria o registro de dados na memória?

Seria possível nivelar o resultado das emoções sentidas em uma vida de 50 anos em relação à outra com “apenas” 20 anos de percepção de sentimentos?

Os VIPPES continuariam a existir em função do tempo cronológico maior ou simplesmente desapareceriam da realidade aparente?

E se o diretor do filme resolvesse criar o reverso da situação eliminando a gravidez e a natalidade?

Nessa circunstância, o mundo caminharia para um envelhecimento definitivo, sem a renovação geracional.

O que faria a ciência?

Inicialmente tentaria a gravidez artificial. Supondo que, para efeito da tese, a tentativa fosse um fracasso, o que restaria?

Haveria um esforço fantástico para retardar o envelhecimento ou estender a longevidade. Em qualquer hipótese, o planeta seria apenas de VIPPES e considerando que fisicamente todos estariam saudáveis, o que efetivamente os diferenciaria entre si e no conjunto da sociedade?

Essas e outras questões sairão do ambiente cinematográfico para a realidade das ruas, porque estamos a passos rápidos para uma transição etária cujos limites ainda não conhecemos.

F. Aristóteles Filho

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