- 05 de abril de 2019

Vitalidade

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Comentar o mercado dos VIPPES pressupõe conhecer a realidade do envelhecimento humano. Se o considerarmos como desagradável e negativo, todas as avaliações serão pessimistas.Foto: Reprodução
O envelhecimento foi considerado um desastre natural contrário à natureza do homem.

Quando na década de 1940, a esperança de vida no Brasil (no mundo era um pouco maior) situava-se nos 40/45 anos, parecia realmente difícil aceitar o envelhecimento como algo positivo.

De lá para cá, aumentamos para quase 75 anos a média esperada de vida. E vai continuar a aumentar nos próximos anos. Não na mesma escala, mas continuará positiva. Como aceitar que o envelhecimento é negativo se a morte foi postergada e os trinta anos adicionados registraram mais qualidade de vida? Mas os seres humanos continuam a enrugar, as doenças aumentaram a intensidade e quantidade e a longevidade não mudou muito a aceitação da velhice. Essas observações conceituam a avaliação negativa do processo natural da maturidade.

O homem nasce, cresce, amadurece e morre.

Em 1940 o homem nascia, crescia, amadurecia e morria com 40/45 anos em média. Em 2014 o homem nasce e sabe que poderá viver até 75 anos em média. A situação não é a mesma. Isso é um fato inegável. O homem estendeu o conceito de longevidade. Ampliou muito, no mínimo uma geração completa.

Então, a fase do amadurecimento foi extraordinariamente prolongada. Os velhos decrépitos sexagenários da década de 70 do século XX não se parecem em nada com os VIPPES de 60 anos do século atual. E o envelhecimento continua a ser característico do homem. Continua a acontecer como sempre aconteceu.

É evidente que as doenças, a degeneração celular, a redução hormonal, a diminuição da energia muscular e outras características do organismo vão continuar o seu processo como sempre ocorreu. Mas o homem atual não morre de maneira tão fácil como antes.

Os VIPPES já sabem boa parte dos segredos da longevidade. Alimentação adequada, exercícios coerentes, trabalho, ausência ou diminuição de fatores agressivos (tabaco, álcool) faz grande diferença na conquista da qualidade de vida na longevidade.

Como dá a entender o “papa” do envelhecimento ativo em todo o mundo, o brasileiro Dr. Alexandre Kalache, a revolução da longevidade é sobretudo uma mudança do comportamento em relação à idade. É preciso aceitar que o ganho da longevidade não foi apenas uma extensão cronológica da vida, mas uma conquista do direito de aproveitar melhor as conquistas da evolução da civilização.

O perfil dos VIPPES não é representado pela figura patética do boneco curvado com apoio de uma bengala e equiparado a deficientes, doentes e mulheres grávidas (como se gravidez também fosse algo temerário e constrangedor). Deficientes constroem teorias da criação do Universo (Hawkins), emocionam multidões (Ray Charles), doentes dão exemplos de sobrevivência. Doentes podem sarar, deficientes podem recuperar membros e órgãos, grávidas fabricam novas vidas. Os VIPPES são, cada vez mais, parte ativa de uma sociedade em contínua mudança e que envelhece também.

Quem não acreditar nesse novo perfil continuará a ser apenas velho e precisará de muitas bengalas para tentar chegar ao final do ano.

F. Aristóteles Filho

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