- 07 de abril de 2019

Marketing cego ou doente?

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Produtos farmacêuticos para a população em geral não são adequados para VIPPES, da mesma forma que produtos para crianças devem atender a determinados requisitos. Não é hora de mudar?

marketing_segoA linha de produtos farmacêuticos é de uma diversidade extraordinária. Em parte o que a causa é a atualização constante de pequenos detalhes em produtos antigos.

Esses “detalhes” são supérfluos em alguns casos e em outros tornam os produtos mais adequados para o uso. Um detalhe supérfluo é a troca de embalagem e outro é a mudança de um componente inativo na fórmula.

Em algumas circunstâncias essas mudanças são aproveitadas como meio de definição de novos preços e de justificativa para promoção a médicos.

Um produto pode apresentar uma mudança muito conveniente para o usuário quando, por exemplo, a forma cápsula é substituída pela forma comprimidos reduzindo o seu tamanho e facilitando a tomada. Em outros casos mudanças na forma de abrir ou fechar o frasco, mudar o sabor em formas líquidas e alterar de creme para gel em produtos dermatológicos torna os produtos mais fáceis de usar.

Para uma pequena população de VIPPES, como era a estrutura demográfica etária no século passado, tornava-se onerosa a criação de uma linha específica.

Com o envelhecimento populacional em velocidade máxima, a quantidade de VIPPES torna esta classe a de maior potencial de consumo de medicamentos da História. O problema é que a quase totalidade dos medicamentos existentes não está adaptada às necessidades dos VIPPES.

Inicialmente é preciso que os ensaios clínicos sejam realizados com VIPPES. A seleção das pessoas em fase de pesquisa de ensaios clínicos não atende a composição etária de hoje e muito menos das próximas décadas.

Muitos medicamentos ainda trazem na bula um esclarecimento de que eles não causaram maiores problemas no uso por idosos. Essa afirmação é desprovida, em quase todos os casos, de qualquer valor porque não houve uma quantidade adequada de usuários nos ensaios clínicos.

Outro aspecto muito importante e imprescindível é o uso de uma cesta de medicamentos por parte de VIPPES que sofrem de várias doenças. Ensaios clínicos não levam em conta o uso simultâneo de um medicamento com outros em circunstâncias e dosagens diferentes. Na medicina prática são incontáveis os casos de complicações pelo uso concomitante de medicamentos que, individualizados, não provocariam determinados efeitos colaterais adversos.

Quanto às características de apresentação também se registra uma ausência de preocupação com as necessidades dos VIPPES. Há alguns comprimidos e cápsulas impossíveis de serem tomados em razão do tamanho. Muitas vezes as próprias embalagens não favorecem a tomada dos produtos porque não levam em conta algumas dificuldades comuns em pessoas de idade mais avançada.

Esperar que um terceiro assumisse a responsabilidade é desconhecer a natureza do ser humano porque parte da nova geração de VIPPES pretende manter autonomia até o final da vida.

Quanto às bulas e informações gerais sobre medicamentos a situação é ainda pior. As indústrias e empresas de produtos farmacêuticos, aparentemente, têm apenas a preocupação legal em colocar as bulas e as informações, mas não consideram a necessidade de entendimento por parte dos usuários. Estes são imaginados como alienígenas que conseguem ler sinais minúsculos com explicações técnicas que não se sabe para qual público.

A indústria alega que a responsabilidade pelo problema é da ANVISA (Agência Nacional da Vigilância Sanitária) e esta rebate informando que as exigências se referem ao campo externo das embalagens e não às bulas. Talvez os dois pólos não se entendam para o benefício do consumidor, mas terão que fazê-lo porque os VIPPES cada vez mais irão exigir respeito e atendimento a suas deficiências normais da idade.

Chegou a hora de fazer marketing estratégico simples: entender e atender o mercado que mais cresce no País, o dos VIPPES (pessoas de 50 anos em diante).

Germano Hansen Jr.

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