- 05 de abril de 2019

A Plástica é Inútil

0

A geriatra Mariana Jacob, em entrevista à revista IstoÉ,  afirma ser inimiga das dietas dos spas, das lipoaspirações e das cirurgias rejuvenescedoras,  além de garantir que só envelhece bem quem é feliz. Mariana detém este saber e o desfruta. Saiba como!

O telefone toca incessantbeleza_essencialemente. Agendar uma consulta com a geriatra Mariana Jacob não é tarefa das mais fáceis e pode levar de dois a três anos. Isso porque ela costuma atender somente a dois ou três pacientes por dia.

Romena de nascimento, carioca por opção, a doutora de 63 anos é uma das profissionais mais disputadas do mercado. Entre seus clientes, dezenas de atores famosos, socialites e grandes empresários. A maioria está na faixa dos 40 a 45 anos. Discípula de Ana Aslan, do Instituto Nacional de Geriatria e Gerontologia de Bucareste, Mariana detém um saber que milhões de mulheres e homens em todo o mundo adorariam desfrutar: a arte de envelhecer bem.

Sua fala é doce, mas seu recado bastante ríspido. De pouco adiantam cirurgias plásticas, lipoaspirações ou dietas mirabolantes. Pelo contrário, elas geralmente representam riscos altos demais. Importante mesmo é ter saúde. Este é, na sua opinião, o maior patrimônio que as pessoas podem ter na velhice.

ISTOÉ – A partir de que idade as pessoas começam a envelhecer?

Mariana Jacob – Envelhecemos desde sempre, mas o processo se acentua a partir dos 35 ou 40 anos. Nem todo mundo, porém, envelhece da mesma forma ou nas mesmas partes do organismo. O envelhecimento normalmente está associado àquele período da vida em que a pessoa começa a usar óculos, a ter fios de cabelos brancos e, no caso específico das mulheres, com a menopausa.

ISTOÉ – Existe uma idade ideal para procurar o geriatra?

Mariana – Recomenda-se que as pessoas comecem a se tratar nesta época, por volta dos 35 anos. No Japão e na Alemanha vem ganhando terreno uma corrente filosófica baseada na idéia de que o envelhecimento começa ainda no útero materno e que, portanto, a prevenção geriátrica deve começar bem cedo. Acreditam que enquanto o feto se desenvolve o tempo está correndo e envelhecendo aquele ser. Algumas crianças então são submetidas a uma dieta extremamente rigorosa à base de proteínas de qualidade e substâncias que aumentam a imunidade. O objetivo é fazer com que aquele ser envelheça mais tarde e com mais saúde. Pessoalmente, discordo dos cuidados excessivos. Acho que a criança não deve crescer como uma planta numa estufa.

ISTOÉ – A sra. considera a cirurgia plástica um meio válido para atingir o rejuvenescimento? A sra. faria uma plástica?
Mariana – Nunca digo que desta água não beberei, mas acho que nunca faria isso. O mais importante na vida é ser e não aparentar. Relevante mesmo é ser lúcida, vital e não se interessar tanto por uma ruga ou uma papada. Cada operação representa um risco. Se Deus – ou a natureza – não me mandou uma doença, porque vou me expor a um risco como este? Minhas rugas não me incomodam. Elas mudam um pouco o rosto, mas seria anormal ficar com a cara esticada. Todo mundo percebe quando uma pessoa fez plástica. Por melhor que seja, é sempre um pouco artificial. Às vezes é a boca que fica fora de lugar ou a cabeça que ganha uma forma estranha. Não é possível esquecer que aquela cabeça está sobre um corpo, que precisa se exercitar para ficar esbelto. Portanto, para mim a plástica é inútil.

ISTOÉ – A plástica não é um avanço, um recurso para pessoas envelhecidas ou nitidamente feias?

Mariana – Sem dúvida que a cirurgia plástica é um avanço da medicina, mas há um exagero na sua utilização. Nos países da Europa só se costuma operar as pessoas em casos de correções e reconstituições, como aconteceu com aquele piloto Niki Lauda, que sofreu um grave acidente automobilístico. Não adianta fazer plásticas e mais plásticas simplesmente por questões estéticas. Existem coisas, como a postura, a maneira de andar, o tipo de pele, que não têm nada a ver com aquele rosto operado. Mas isso é um problema cultural da América do Norte que desceu para a América Latina e tomou conta do Brasil.

ISTOÉ – O que pensa então sobre a lipoaspiração?

Mariana – É outra violência. Uma violência maior que as operações plásticas, porque é feita às cegas. O médico faz aquela sucção sem saber o que está tirando. Apalpa e suga, mas não vê. Aquele tecido adiposo que se encontra entre a musculatura e a pele não é como manteiga em cima do pão. É vascularizado. Tem vasos e nervos. Aquilo é um aspirador que arranca tudo isso e rompe com uma série de estruturas.

ISTOÉ – A sra. então condena a lipoaspiração, mesmo no caso de modelos, que precisam estar sempre em forma?
Mariana – Assim como policiais e bombeiros, existem outras profissões de risco. As modelos sabem que precisam estar sempre em forma e por isso se submetem a dietas rígidas. Também é uma profissão de risco, como é a de ator. O Antonio Fagundes, por exemplo, declarou recentemente que, para melhor compor seu personagem na novela, passou 15 dias num spa e conseguiu perder dez quilos. Ele afirma que se sente bem, leve. Acredito que ele esteja se sentindo melhor. Mas isso é uma violência. O metabolismo dele foi violentado. Não desejo isso a ele, mas em pouco tempo ele deverá recuperar todos os quilos que perdeu.

ISTOÉ – A sra. também é contra os spas como um recurso para emagrecimento?

Mariana – Acho que os spas só servem para relaxar as pessoas que vivem sob constante stress, mas é muito pouco tempo para mudar o hábito alimentar de uma pessoa. Para manter a linha é preciso comer sempre pouco, beber muito líquido e fazer bastante ginástica. Em termos de calorias, é fundamental importar tanto quanto se exporta, ou seja, que se consuma tanto quanto se gasta. Outro que fez uma dieta braba – só que para engordar – foi o Robert De Niro no filme Touro indomável. Aquilo tampouco é saudável, mas faz parte do risco que corre um ator famoso e que ganha muito dinheiro com a sua profissão. Por isso, não concordo quando falam em ditadura da moda ou qualquer coisa assim. A Cláudia Liz escolheu esta profissão sabendo que teria de estar sempre em forma. Ninguém manda na vida dela, mas ela provavelmente quer continuar sendo modelo e ganhar bem. É o preço que paga.

ISTOÉ – A sra. tem algum problema em revelar sua idade?

Mariana – Qual idade você deseja saber? A cronológica, a biológica, a psicológica ou a estética? Minha idade cronológica é de 63 anos. A idade biológica, aquela em que me sinto, é em torno de 40 ou 45 anos. Me lembro que aos 30 não tinha a vitalidade que tenho agora. Quando uma pessoa está de bem com a vida e com saúde, ela aparenta ser bem mais jovem. Os olhos e a pele brilham mais. Neste aspecto, é claro que não estou igual a que estava há 20 anos, mas considero que minha idade estética também é menor que a cronológica. Além disso, não tive as tais crises dos 40 ou 50 anos.

ISTOÉ – Como se explica que certas mulheres, como a atriz Vera Fischer, consigam se manter bonitas depois dos 40 anos, mesmo levando uma vida social agitada? Existe uma explicação científica?

Mariana – Um ponto em comum em pessoas como Vera Fischer é que elas sempre foram bonitas. Geralmente, vêm de famílias bonitas. Existe uma carga hereditária grande. A beleza dela é intrínseca e ela deve ter um compromisso com ela mesma de manter aquela beleza. Nunca vi a pele dela de perto, mas sei que pega muito sol. Não sei se irá resistir por muito tempo. Se ela realmente leva uma vida desregrada como dizem, poderá ter uma queda rápida, envelhecer de uma hora para outra, o que seria uma lástima! O que faz uma pessoa bonita é, principalmente, estar de bem com a vida. E jamais se estará de bem com a vida se não tiver saúde. Este é o maior patrimônio que as pessoas podem ter.

ISTOÉ – Quem são exemplos de mulheres bonitas?

Mariana – A Lúcia Veríssimo é uma mulher muito bonita, do tipo clássico. Se tivesse nascido há 200 anos também seria considerada bonita. A cantora Simone é bonita. A Giulia Gam tem uma beleza que eu gosto, inteligente, interessante, que não segue os padrões de beleza clássica. Ela tem um tchan no olhar, que passa inteligência, uma coisa moderna na maneira de mexer com a cabeça e de cortar o cabelo. A Maria Bethânia também tem uma beleza singular, um perfil diferente.

ISTOÉ – O nariz da Bethânia não seria caso para uma plástica?

Mariana – Não, seria uma pena. O nariz dela transmite um ar de inteligência, de personalidade. A beleza não está somente naquela simetria que às vezes parece ter sido feita em computador. Xuxa, Vera Fischer e Lúcia Veríssimo têm este tipo de beleza simétrica, mas existem milhares de pessoas, inclusive de mais idade, que são belas de outras maneiras. A Fernanda Montenegro, por exemplo, tem uma cabeça muito interessante. A Tereza Rachel, que não gostaria de ser incluída na lista da terceira idade porque é muito vaidosa, é uma mulher muito bonita.

ISTOÉ – O que diz sobre a beleza de Tônia Carrero, que também está na lista da terceira idade?

Mariana – Não sei mais como é a verdadeira Tônia Carrero. Há uma mistificação em torno do rosto dela. Sei que fez muitas plásticas. Não saberia, portanto, avaliar.

ISTOÉ – A maquiagem faz mal à pele das mulheres?

Mariana – Não, apenas acho que as mulheres brasileiras usam maquiagem muito forte pela manhã, o que não é bom para a pele. Maquiagem forte é para aquelas pessoas que trabalham no palco. A maquiagem suave é até bem-vinda, funciona como um protetor solar. Devem passar inclusive nas mãos, que são um prolongamento da pele do rosto.

ISTOÉ – Os protetores solares protegem realmente a pele?

Mariana – Existe uma lenda no Brasil de que o protetor solar não permite o bronzeamento. O protetor impede a pele de envelhecer, desidratar, manchar e cancerizar, mas permite o bronzeamento. As pessoas podem ir à praia, mas devem saber com qual protetor. É preciso consultar um especialista para saber qual protetor se adapta melhor àquele tipo de pele. Não se deve é comprar qualquer protetor que se vende na praia. Aliás, o que se vende são bronzeadores, que só agravam o problema. As pessoas precisam ser educadas. Não se deve ir à praia entre as 9h e as 15h. O protetor permite que as mulheres fiquem bonitas e bronzeadas. Agora, não adianta uma pessoa loura querer ter a pele de uma mulata.

ISTOÉ – Que tipo de exercício é bom para pessoas de meia-idade?

Mariana – Andar a pé, no mínimo uma hora por dia, mas não uma vez ou duas por semana. Tem que ser de cinco a sete dias por semana. É melhor não andar do que andar uma vez ou outra. Isso prejudica o organismo, causa dores musculares e agride as articulações. O ácido úrico sobe mais nestes andarilhos de fim de semana. As pessoas que não têm o hábito de caminhar devem antes fazer um check-up cardiológico e ortopédico, para saber se estão andando corretamente e se não precisam de palmilhas ou outras coisas. Também recomendo uma ginástica leve, tipo sueca, que mexa com as articulações. Jamais com pesos. Falo para as minhas pacientes fazerem dança, pois isso mexe com o corpo e com a mente. Para quem não tem tempo de sair para fazer ginástica, recomendo esteiras rolantes ou bicicleta ergométrica.

ISTOÉ – Quais as queixas mais freqüentes entre seus pacientes?

Mariana – A maioria dos brasileiros sofre de problemas com o tubo digestivo, de artrose e do coração. As mulheres se queixam mais do envelhecimento da pele, da perda de memória e concentração. Nos homens, a principal queixa é quanto à perda da potência sexual.

ISTOÉ – A partir de que idade os homens começam a se queixar de impotência?

Mariana – Este problema atinge homens de várias idades, jovens e velhos. Muitos empresários se queixam de impotência principalmente quando estão atravessando um momento difícil profissionalmente. O homem depois dos 40 anos normalmente precisa ser estimulado. Muitas mulheres não entendem isso. Por isso, recomendo sempre às pacientes que cuidem de seus maridos como faziam no início do casamento, que sejam amantes de seus maridos. Não devem sentir nojo se os maridos quiserem, por exemplo, ver uma fita pornô. Isso pode fazer bem ao casal. Poucas senhoras de idade entendem que não podem viver exclusivamente em função da casa, da família e dos netos. Não podem se descuidar desta outra parte. O homem está um pouco menos adúltero com o advento da Aids, mas só um pouquinho. Quando a esposa não cuida bem desta parte da vida, o perigo está no ar.

ISTOÉ – Que recomendações a sra. costuma fazer a seus pacientes?

Mariana – As pessoas precisam ir ao médico pelo menos uma vez por ano para fazer um check-up, mesmo que não sintam nada. Existem doenças silenciosas, como a arteroesclerose ou diabetes, por exemplo, com ação corrosiva sobre as artérias e que matam rapidamente. Quando se percebe já é tarde. Estima-se que 30 mil pessoas morrem anualmente no Brasil em decorrência de gripes e pneumonias. Então, é necessário se tomar anualmente uma vacina. Outro ponto importante é combater as depressões. Cerca de 40% das pessoas com mais de 65 anos sofrem de algum tipo de depressão. Cerca de 30% dos idosos acima de 85 anos sofrem de algum tipo de demência e 20% das mulheres brasileiras acima de 60 anos sofrem de osteoporose. Muitas pessoas não fazem idéia, mas já existem bons remédios para tratar ou reverter todos estes quadros.

ISTOÉ – Além de medicamentos, a sra. eventualmente recomenda a seus pacientes que procurem algum tipo de terapia?

Mariana – Acho que em vez de fazer análise ou de tomar calmantes, a pessoa deve fazer exercícios. Faz muito bem para a cuca. Venho de um país onde a psicanálise era proibida, onde não se costumava tratar das pessoas através dela. Uma grande terapia são os amigos, os netos, a família. Não tenho nada contra a psicanálise, mas acho que ela tem pouco retorno. Muitas vezes, o melhor remédio é uma boa viagem. Prefiro recomendar a meus pacientes que comprem um ingresso para o Teatro Municipal. O que importa nesta altura da vida é se distrair, é o lazer.

ISTOÉ – A classe médica jamais foi tão atacada. A sra. acha que os erros médicos são punidos com o devido rigor?

Mariana – Acho que há um exagero nisso tudo. Costuma-se condenar o médico antes de ser feita uma investigação competente em relação aos procedimentos usados. No caso específico do anestesista que cuidou da Cláudia Liz, houve um exagero. Um erro, que seja um em dez mil, acontece. Mas não se pode sair por aí atacando profissionais sem antes comprovar a sua culpa. Quantos acidentes não foram provocados por erros de engenheiros, causando a morte de muito mais gente? Basta lembrar o caso daquele shopping em Osasco. Alguém foi responsabilizado? Será que os culpados irão mesmo pagar por seus erros? Os médicos sofrem, trabalham sob grande pressão, sem recursos, mas são humanos. É preciso ter mais cuidado antes de atacá-los.

Entrevista de Mariana Jacob à revista Isto   É por Daniel Stycer

Compartilhe.

Leave A Reply