- 07 de abril de 2019

Onde está a tecnologia?

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Importante reunião na Câmara de Vereadores da maior cidade do País e uma das maiores do planeta, para tratar de temas de políticas públicas para VIPPES. Assuntos para fazer tremer a metrópole.

onde  esta a tecnologiaA reunião se desenvolve com sugestões, recomendações, avaliações e análises sócio-políticas sobre os rumos do Estado na questão dos VIPPES. Profissionais de várias áreas dedicam o melhor de si para apontar problemas e discutir algumas soluções que dependem principalmente da vontade política de legisladores da grande capital fundada pelo agora santo José de Anchieta canonizado alguns minutos antes.

Então uma participante solicita o microfone e com voz macia, calma, tranquila, aponta uma das maiores dificuldades vivenciadas pelos idosos: abrir embalagens. Ninguém riu e nenhum dos participantes se estressou com a intervenção que parecia fugir do cerne da assembléia.

Acontece que todos convivem ou são especialistas em VIPPES e a observação era apenas a explosão silenciosa de um fato que agride a consciência de quem vive em um mundo tecnológico.

Políticas públicas, transformação das cidades, adequação dos sistemas de transporte e de saúde e mais uma infinidade de desafios complexos se chocam com a simples operação de abrir uma lata, um pacote de biscoito, um litro de leite, um chocolate.

A tecnologia está sendo útil para baratear os custos de produção de milhares de artigos e assim aumentar os lucros empresariais porque não há repasse da economia obtida para os preços. Mas o ganho observado nos novos modelos de embalagem não se refletiu em maior facilidade e praticidade para o consumidor e ao contrário, tornou-se um obstáculo muito constrangedor para milhões de VIPPES.

Centenas de empresas inundam o mercado diariamente com milhões de unidades de todas as variedades de produtos para todas as finalidades embalados lindamente por máquinas fantásticas.

Na hora de abrir a embalagem surge o drama.

Vidros cujas tampas parecem soldadas. Fechados a vácuo exigem força muscular de grau equivalente ao da máquina poderosa que os selou.
Latas cujo sistema de abertura exige mãos, dedos, braços, cervicais e colunas íntegras para o esforço hercúleo de vencer a resistência estóica das sardinhas que não querem ser consumidas.         

Além das latas e vidros, também pacotes de biscoitos exigem o uso de tesouras apesar de avisos indicadores de “abra aqui” e que não funcionam. Em muitos casos, depois de aberta externamente ainda há embalagens lacradas internas com dificuldades similares.

O que fazer?

Naturalmente o marketing pode apresentar os produtos de maneira “positiva”: “compre o produto tal porque para abrir a embalagem ele já exige um exercício terapêutico para a mobilidade dos VIPPES”; ou do tipo competitivo: “se você conseguir abrir a embalagem em menos de dois minutos terá direito a um cupom especial”.

Todos os participantes aprovaram a preparação de um projeto de lei a ser levado à Câmara Federal determinando a criação de embalagens adequadas para abertura por VIPPES de qualquer idade. A unanimidade deveu-se ao fato de que todos os presentes possuem parentes VIPPES que encontram a mesma dificuldade.

É complicado e fora de propósito que a própria sociedade inicie processos de reivindicação de soluções para melhorar as possibilidades de consumo de produtos. Sempre foi o marketing empresarial que saía na frente e “escutava” o mercado.

Aparentemente a tecnologia superou a inteligência empresarial e os profissionais de marketing ficaram reféns dela. Será triste o dia em que o Congresso Nacional tiver que determinar ao marketing como vender produtos de elevadíssimo consumo.

G. Hansen Jr.                              

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