- 05 de abril de 2019

Morrer de fome

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Algumas projeções de cientistas e pesquisadores alertavam que, em algumas décadas, a humanidade enfrentaria o pesadelo da fome em razão do elevado aumento populacional. Não é mais verdade.

morrer_de_fomeEntretanto, os últimos setenta anos modificaram as condições básicas que dão suporte às projeções.

Com efeito, a tecnologia proporciona aumento substancial da produção de alimentos.

Mas o fator mais significativo na mudança das perspectivas demográficas é o envelhecimento populacional. A redução na taxa de fecundidade e de natalidade é tão expressiva, que mesmo com aumento da esperança de vida, o aumento da população caiu para um ritmo lento e em muitos países até negativo.

Para o Brasil havia uma perspectiva de passar dos trezentos milhões de habitantes ao redor dos anos 50 deste século. Ao contrário, já se definiu uma praticamente inevitável redução populacional a partir de 2043. Apenas na África se registrará ainda crescimento da população em níveis acima da média mundial. Nesse Continente a fome acompanhará a expansão demográfica da mesma forma como aconteceu em todo o século XX e acontece também hoje.

No Brasil, a fome não é mais uma possibilidade real em razão do aumento populacional. Este já é menor e será substituído por uma diminuição em menos de 29 anos.

O território nacional continuará o mesmo e a área agricultável também. O clima não se alterará muito e, portanto, a produção de alimentos não sofrerá crises permanentes.

A fome, se existir, poderá ocorrer por ausência ou falha na distribuição de renda ou logística geral, mas não por motivo de aumento populacional.

E os VIPPES? A sua expansão notável poderá ser acompanhada pela fome? Os novos VIPPES terão dificuldades para encontrar ou pagar pelo alimento?

Uma resposta sonora deveria ser: não!

Entretanto, a fome não é apenas um pesadelo sem nexo. Ela pode realmente se tornar uma companheira desagradável para os VIPPES das classes menos abastadas. Se não houver uma política social que crie uma estrutura de atendimento à saúde, um competente sistema previdenciário e consistente oferta de trabalho, a fome se tornará crônica.

Assim, é fundamental que a sociedade tenha informações corretas e completas sobre o envelhecimento populacional para que não se atribua a ele a responsabilidade por dificuldades originadas pela falta de conhecimento e planejamento da realidade.

Muitas nações que já apresentam um índice elevado de VIPPES em seu componente demográfico etário, sustentam excelentes índices de desenvolvimento. Em várias delas, os serviços públicos garantem atendimento básico e aposentadoria adequada à sobrevivência com o mínimo de dignidade. Não se faz mágica ou manipulação estatística e sim trabalho planejado e bem direcionado e administrado.

No Brasil a situação geral é otimista. O País tem território para acolher população de maior densidade demográfica, água em abundância, terras cultiváveis em quase toda sua extensão e clima temperado durante quase todo o ano.

Pode começar imediatamente um programa de enriquecimento do solo com a adição de nutrientes que se incorporarão aos produtos plantados nele e que melhor alimentarão os consumidores. Indivíduos bem nutridos envelhecerão com mais saúde. Nutrição não é quantidade de alimentos, mas a qualidade do alimento.

Morrer de fome no Brasil não é preocupante, mas o envelhecimento populacional é uma realidade. Seria irracional imaginar que por ausência de políticas públicas, parte dos novos VIPPES deste século teria que viver em permanente jejum.

Torquato Morelli

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