- 04 de abril de 2019

Gastronomia etária

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Que boa alimentação é coluna mestra da saúde ninguém mais discute. O problema é coordenar boa alimentação com a idade. Onde está a informação correta, isenta de interesses de mercado?

idoso no supermercadoNo assunto alimentação os meios de comunicação estão coalhados de informações planejadas ou circunstanciais que não beneficiam parte da população. As novelas e filmes apresentam muitas cenas que envolvem alimentação. Reuniões familiares, eventos, almoços românticos ou de negócios, viagens em transatlânticos e aviões fantásticos e até sanduíches em pipoqueiros nas ruas, como em Nova York.

É praticamente ausente a preocupação com a dieta dos personagens. Raramente se fala em dificuldades alimentares ou orgânicas. Parece que a saúde e a idade são detalhes não cinematográficos.  As exceções são observadas em algumas películas onde o diretor provavelmente deseja o máximo de realismo para compor a obra em sua proposta total.

A questão então é: a idade efetivamente exige cuidados diferentes na alimentação e por quê?

A resposta permitirá que todos os agentes ativos da sociedade se tornem colaboradores essenciais para a melhor qualidade de vida dos VIPPES que comporão a parcela mais crescente e poderosa do composto populacional. Não se trata apenas de mudança nos cardápios de casa, mas nos dos restaurantes, bares, navios, nas novelas, nas peças de teatro, nos filmes e em todas as atividades que mostrem “como se mata a fome dos VIPPES”. Não se pode esquecer da  mídia em todos os seus veículos e ferramentas. Importante também a elaboração de programas educacionais que conscientizem o público.

Assim, a resposta correta informa que a idade realmente exige mudanças alimentares porque o organismo sofre alterações estruturais que precisam ser compensadas. Comprovado está que a diminuição de massa muscular que ocorre concomitantemente com elevação do tecido adiposo, torna desaconselhável a ingestão de calorias na mesma quantidade de antes dessa alteração.

Para aqueles que preferem medidas mais expressivas é possível esclarecer que se pode pensar em cerca de 1% a menos de calorias para cada ano a partir da entrada no grupo dos VIPPES (50 anos em diante). Para alguém que precisasse de duas mil calorias diárias, com 60 anos de idade bastariam 1.808 calorias em lugar de duas mil. Quando alcançar os 80 anos, provavelmente cerca de 1.100 a 1.200 calorias darão conta das necessidades.

E se o VIPPES não diminuir a ingestão dessas calorias “excessivas”? Com toda certeza aumentará a possibilidade de se tornar diabético, apresentar algum comprometimento da saúde cardíaca e, inevitavelmente, dificuldades locomotoras principalmente nos joelhos.

Fora das calorias e aumento traiçoeiro de peso, o organismo altera a absorção de muitos nutrientes. Em alguns casos para mais e em outros para menos que as necessidades.

Caso típico do cálcio. Em excesso poderá causar a produção de cálculos renais e na falta será o maior responsável pela osteoporose ou fragilidade óssea.

É lógico que o mercado está repleto de suplementos alimentares e “medicamentos” para suprir ou “equilibrar” as novas necessidades dos VIPPES. São produzidos laboratorialmente e efetivamente trazem resultados. Mas se a alimentação for tratada como um aliado de primeira escolha para a manutenção da saúde, não haverá necessidade de suplementos, complementos ou quaisquer outros meios artificiais e muito mais propensos a causar efeitos colaterais adversos.

Uma situação prática pode levar a questionamentos sobre a real necessidade de adotar mudanças e divulgá-las para que se tornem efetivas. Vale a pena analisar as transformações etárias neste século. Tendo como base um casal de VIPPES de 50 anos de idade no ano de 2000 e imaginando um almoço comemorativo para cem pessoas proporcionalmente à composição etária brasileira, teríamos uma determinada quantidade de convidados por grupos de faixa etária.

Como ficaria a composição por grupos nos anos seguintes?

Quantidade de membros de grupos etários diversos em
conjunto de 100 pessoas de 2000 a 2060

Idade

2000

2014

2020

2030

2040

2050

2060

0 a 4

10

8

7

6

5

4

4

5 a 9

10

8

7

6

5

5

5

10 a 14

10

8

8

6

6

5

5

15 a 24

20

17

16

14

13

11

10

25 a 39

23

25

23

23

22

19

17

40 a 49

11

13

14

15

16

14

13

50 a 59

7

10

11

12

14

14

14

60 a 79

7

9

11

14

15

22

25

80 a 89

1

1

2

2

3

5

5

90 em diante

1

1

1

1

1

1

2

      (Fonte IBGE – Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade 2000/2060)
(Revisão 2013)

Como se pode ver claramente, convidando cem pessoas, o almoço terá que ser adequado à idade dos convidados. No ano 2000, 16 convidados tinham 50 anos em diante e acabavam almoçando o que a maioria comia.

Apenas 14 anos depois, já somam 21 os convidados que passam dos 50 anos e já se torna conveniente pensar em uma alimentação mais leve, afinal serão mais de um quinto do evento.

Em 2020 serão um quarto do total e em 2040, ou seja, daqui a pouco mais de vinte e cinco anos comporão um terço dos componentes do ágape.

Essa relação indica a necessidade de pensar na alimentação como um dos fatores que pode influenciar substancialmente a qualidade de vida neste século. Se o pessoal de cinquenta anos em diante tiver boa saúde, a sociedade conseguirá vencer a transição etária sem consequências adversas de grande impacto.

Evidentemente isso só poderá ser obtido se houver um projeto de comunicação que comprometa todos os agentes ativos nessa determinação.

F. Aristóteles Filho

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