- 04 de abril de 2019

Testes p/ motoristas

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A PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, inicia uma pesquisa de avaliação do comportamento de VIPPES de 65 anos em diante, na direção de automóveis.

testes_para_motoristasEnquanto não temos maiores informações sobre os critérios da pesquisa, podemos imaginar vários aspectos que envolvem a questão. A pesquisa é realizada em razão da elevação da participação dos VIPPES de 65 anos em diante na composição do universo de motoristas no Rio Grande do Sul.

Essa justificativa é curiosa porque o envelhecimento populacional é fenômeno que se processa nos últimos anos e só agora vai entrar em projeto de pesquisa? Antes tarde do que nunca.

Mas o fato mostra claramente o que tem acontecido no Brasil em todos os setores de atividade. Só quando a chuva começa a entrar pela janela é que se corre para fechar a janela como se a chuva surgisse do nada de uma hora para outra.   O envelhecimento populacional já é um acontecimento observado no final do século passado no Brasil e se acelera na segunda década. Muitas pesquisas já deveriam ter sido realizadas anos atrás. Muitas providências a serem tomadas em razão do resultado de pesquisas, poderiam demorar – muitos anos, mesmo – para serem implantadas. A probabilidade de medidas imprescindíveis não serem efetivadas em tempo hábil é uma sombra difícil de eliminar.

Com a velocidade incrível do envelhecimento, ficará cada vez mais difícil a obtenção de pesquisas bem-feitas. Corre tempo de formulação do projeto, discussão em grupo, preparação de pesquisas-piloto, reformulação provável de alguns aspectos, preparação de equipes de trabalho em campo ou em call-centers ou centros informatizados. Depois do levantamento terminado vem a filtragem e elaboração de um relatório final e se a pesquisa não estiver comprometida com falhas graves, então será utilizada para a elaboração de projetos de acordo com os objetivos.

Essa operação é complexa em um país continental e diversificado.

No caso da pesquisa gaúcha, serão utilizados aparelhos simuladores para testar os VIPPES. Excelente a proposta. Em razão da alegada perda de capacidade física e mental, os VIPPES serão analisados em suas reações ao trânsito normal das cidades e estradas.

Catarata, Alzheimer, audição, reflexos, dificuldades motoras e outras deficiências eventuais farão parte das análises que pretendem ser abrangentes.

Qual será o resultado da pesquisa e quais serão as decisões e medidas a serem estudadas ou efetivadas em relação a ele?

Aí poderá residir um dos maiores questionamentos da finalidade da pesquisa. Servirá para limitar a possibilidade dos VIPPES continuarem a dirigir veículos?

Antes da realização dessa pesquisa, deveria ser realizada uma que estudasse o comportamento de todos os motoristas e composta por amostragem proporcional à composição etária da população geral.

Menores de 18 anos não dirigem. Esse filtro automaticamente faz aumentar a participação de VIPPES na condução de veículos em relação à composição total da população, pois a quase totalidade dos VIPPES pode dirigir. (Há motoristas de mais de cem anos que ainda guiam seus veículos).

Qual a incidência de responsabilidade por acidentes de acordo com as faixas etárias? Parece que várias pesquisas demonstraram menor incidência de culpabilidade nas faixas etárias exatamente dos VIPPES. Todos sabem que os jovens são mais temerários e por inexperiência confiam mais nas máquinas. São mais hábeis fisicamente, mas também mais ansiosos e menos pacientes.

As seguradoras de veículos conhecem muito mais o comportamento dos VIPPES no trânsito do que qualquer pesquisa de campo revelaria. É o relato dos acidentes que indica precisamente os motivos e responsabilidades de motoristas.
Entretanto, sempre as pesquisas podem auxiliar a tomada de decisões, mas é preciso não transformá-las em parâmetros únicos e muito menos instrumentos de preconceito ou interesses não identificáveis.
F. Aristóteles Filho

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