- 07 de abril de 2019

Na contramão etária

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O envelhecimento populacional precisa de boas ideias para proporcionar ou manter qualidade de vida adequada para os VIPPES em expansão numérica. O metrô paulista não pensa assim.

Notícia dos jornalistas Caio do Valle e Bruno Ribeiro da Agência Estado divulgada pelo jornal O Estado de São Paulo  e republicada em outros veículos de comunicação no dia 7 de março 2014, informa com detalhes sobre a redução de assentos nas composições do metrô de São Paulo, conforme o quadro-resumo abaixo:

período

nº assentos

por composição

Década de 1980

368

Final de 1990

274

Atual

264

Nova linha 5

236

Os vagões da composição da linha 5 ainda serão comprados com a nova quantidade de assentos – redução de 28 assentos na composição em relação à quantidade atual e 132 em relação à década de 1980.

Essa mudança permitirá que o trem com seis vagões comporte mais 150 passageiros.

A ideia foi recebida em parte com aprovação e em parte com críticas.

As aprovações são daqueles que acham melhor resolver a falta de transporte público adequado na maior cidade da América do Sul e uma das cinco maiores do planeta, lotando mais os vagões.

As críticas são dos usuários de mais idade, os VIPPES, que já não estão bem atendidos e vão ficar em pior situação ainda, pois com mais gente dentro dos vagões e a falta de mais assentos, a sensação de “sardinha em lata” será ainda mais intensa.

Segundo a notícia, um dos aprovadores da medida é um engenheiro especializado em transportes. Com certeza ele entende bem de transportes e quase nada da condição humana. 

Certamente também não tem a mínima noção do processo de envelhecimento populacional em curso no País e mais exuberante na capital paulista.

Essa notícia sobre a redução do número de assentos já havia sido divulgada em 2011 e recebeu na ocasião uma enxurrada de críticas de todos que dela tomaram conhecimento.

Colocando de lado os argumentos baseados em partidarismo político que nunca são racionais, alguns usuários acham que a solução de reduzir os assentos de idosos não vai melhorar a superlotação e nem evitar o “efeito sardinha em lata”. Alegam que parte dos assentos é ocupada por pessoas que não apresentam nenhuma das dificuldades que justificariam a necessidade de assentos.

Evidentemente, se o Portal VIPPES Negócios efetivasse agora uma pesquisa para conhecer a opinião dos leitores e usuários, o resultado seria semelhante: parte aprovaria, parte não.

Esse tipo de consulta, entretanto, não é importante e necessária para a tomada de decisões por parte do Estado ou das empresas terceirizadas pelo Poder Público. O que efetivamente precisa existir é inicialmente o conhecimento da demografia em toda a sua profundidade. Não é aceitável desconhecer o crescimento de participação dos VIPPES no conjunto populacional.

No quadro abaixo dá para ter uma visão (para quem puder e quiser enxergar) do que estará acontecendo na expansão demográfica na cidade de São Paulo nos próximos anos. (Informação imprescindível para a formação de opinião racional: um vagão de metrô pode durar 25 a 30 anos).

                                                           Município de São Paulo
                                                                  Em milhares

 

VIPPES de

60 anos

em diante

% sobre

total

Proporção de VIPPES de 60 em diante em relação á população de 11 a 59 anos

1914

1.355

11

1 para 6,4 =   15,6%

1920

1.728

14

1 para 5,2 =   19,2%

1925

2.090

16

1 para 4,4 =   22,7%

1930

2.503

19

1 para 3,6 =   27,8%

1935

2.808

21

1 para 3,2 =   31,2%

1940

3.143

23

1 para 2,8 =   35,7%

O envelhecimento populacional é um fator novo que vai mudando a face do planeta e as normas ainda não foram adaptadas para isso.

No quadro acima para o município de São Paulo é possível verificar que a relação de VIPPES e da população de dez anos para cima é hoje superior a 12% e subirá a cada ano. Como as composições duram de 25 a 30 anos, fica claro que as reformas nos vagões existentes e a compra de novos vão contra os fatos.

A chave da solução não está em reduzir ou aumentar o número de vagões nas composições ou a quantidade de assentos a mais ou a menos.

É preciso “sair do quadro”. Pensar em alternativas de transporte.

Há que se fazer uma avaliação estratégica para mudar as cidades, reduzir as deslocações de pessoas indo de lado a lado da cidade para trabalhar, para fazer compras, para
realizar programas culturais, para ir atrás de hospitais e serviços insuficientes.

É um trabalho para gente inteligente.

O grande debate não pode ser a decisão de colocar meia dúzia de bancos em um vagão de metrô, mas discutir a cidade, o trabalho, o atendimento obrigatório das necessidades básicas de toda a população sob a visão do envelhecimento populacional. Senão será tudo supérfluo!

O envelhecimento populacional é uma grande oportunidade para mudar a sociedade em todos os aspectos. É a fórmula para criar grandes negócios. Todos vão ganhar. TODOS!

G. Hansen Jr.

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