Uma tabela mostrando a composição da população brasileira conforme a idade e sexo não revela visualmente as dificuldades que a sociedade terá que enfrentar. Mas serão realmente complexas e insuperáveis?
A primeira resposta é firme e direta: as dificuldades podem ser solucionadas com grande margem de acerto. Quanto à complexidade não resta nenhuma dúvida de que se concretizará um desafio ímpar, inédito e preocupante.
Consideremos o ano de 2050 que está distante a apenas pouco mais de trinta e seis anos. A população brasileira em fase de redução será de 215 milhões; em 2039 o pico terá sido 219 milhões.
População brasileira – faixas selecionadas – em milhares de pessoas
População | 1980 | 2010 | 2020 | 2050 | % 2050 |
De 0 a 14 anos | 45.339 | 49.439 | 41.575 | 28.306 | 13,1% |
De 15 a 49 anos | 59.100 | 110.801 | 118.566 | 90.860 | 42.2% |
De 50 anos em diante | 14.123 | 33.012 | 47.002 | 96.121 | 44,6% |
De 55 anos em diante | 10.330 | 27.256 | 39.848 | 79.073 | 38,5% |
De 60 anos em diante | 7.197 | 19.282 | 28.321 | 64.050 | 29,7% |
Tot. Brasil (em milhares) | 118.562 | 193.252 | 207.143 | 215.287 |
Constata-se que de 2010 para 2020 há uma redução sensível na quantidade da população de 0 a 14 anos. Quase oito milhões a menos ou 16%. Em 2050, a diminuição passará de 21 milhões de crianças em relação a 2010 ou 43% menor.
Mas ainda mais assustadora é a relação da população de 15 a 49 anos que apresenta uma mudança preocupante:
49,8% do total em 1980
57,3% do total em 2010
57,2% do total em 2020
42,2% do total em 2050
Essa classe etária representa o setor mais ativo da população. Em demografia o período de maior participação dessa classe é conhecido como o fenômeno do “bônus demográfico”, ou seja, um período em que a classe mais ativa é maioria absoluta na sociedade. Tal situação permite vantagens com maior contingente ativo trabalhando e sustentando a economia e aqueles que não contribuem por impossibilidade (crianças, adolescentes e idosos). A redução dessa classe significa diminuição de mão de obra potencial para a necessidade da sociedade. Na década atual há uma estabilização no pico da participação em 57% seguida de forte diminuição nos anos seguintes.
Ora, se essa classe diminuir de forma tão intensa, quem vai atender a população mais idosa? Podemos, para efeito de avaliação mais otimista, considerar a classe de pessoas de 60 anos em diante que é a chamada classe de idosos de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). A tabela mostra que crescem de 28,3 milhões em 2010 para 64 milhões em 2050, ou cerca de 900 mil pessoas a cada ano. Em 2010, a classe de 15 a 49 anos apresentava uma relação de 5,7 pessoas para cada idoso de 60 anos em diante. Em 2050, a relação cai para 1,6 pessoas apenas.
Considerando que cerca de 15% dos idosos necessita de cuidados permanentes em 2010, dois milhões e novecentos mil idosos precisariam desse mesmo número de cuidadores pessoais. Isso representaria 2,6% do total da classe de 15 a 49 anos. Já em 2050, nove milhões e seiscentos mil idosos precisariam desse número de cuidadores. Se fossem buscar na classe de 15 a 49 anos, esse volume seria 10,7% do total, hipótese que pode se tornar impraticável.
Certamente, a solução estará em aproveitar a capacidade de trabalho dos próprios idosos que não apresentam problemas de mobilidade. Somando a classe dos idosos de 60 anos em diante com as pessoas de 50 anos em diante, mais consistente se tornaria a resposta da sociedade para a falta de mão obra causada pelo envelhecimento populacional.
Para que na prática não ocorram surpresas desagradáveis é preciso que um competente planejamento estratégico seja efetivado urgentemente para a preparação adequada de pessoas de atividades diversas que serão transformadas em prestadores de serviços profissionais especializados para idosos. Parte do atendimento será prestada pelo Estado e parte por particulares organizados em grandes redes nacionais, muito provavelmente.
Germano Hansen Jr