- 07 de abril de 2019

Pediatras x Geriatras

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Se cada Pediatra pode ter dois mil pacientes, precisamos hoje de 25 mil Pediatras e de 20 mil Geriatras. Em 2020, uma inversão: 20 mil Pediatras e 25 mil Geriatras. Em 2050, bastariam 14 mil Pediatras mas não menos de 49 mil Geriatras.

pediatrasxgeriatrasA situação da demografia médica – composição da classe médica conforme as especialidades – é um dos grandes gargalos que o País vai ter com que se preocupar nos próximos 36 anos.

Uma análise bem detalhada precisa ser realizada. Não pode haver pressupostos em cima do cenário atual. O envelhecimento populacional estará provocando uma mudança espetacular em todos os aspectos e aquilo que hoje parece uma base de trabalho interessante vai derreter como sorvete em água quente.

Sabemos que vários fatores serão modificados drasticamente nos próximos anos no que diz respeito aos ângulos sociológicos que envolvem a população do País. Os VIPPES de hoje são diferentes daqueles de uma década atrás e serão substancialmente diversos dos VIPPES de 2030 e mais ainda dos de 2040 e quanto aos de 2050 é quase impossível comparar.

Para efeito de exercício racional sobre serviços profissionais que se tornarão mais valiosos com a transição etária, vamos rascunhar apenas uma situação: a relação Pediatras e Geriatras. São as duas extremidades de clientes médicos: crianças até 14 anos e VIPPES de 50 anos em diante (muitos defendem a redução para 40 anos).
Hoje temos 28 mil Pediatras em relação aos 25 mil necessários para atender 49,5 milhões de crianças. Como no geral as crianças têm boa saúde, apesar da distribuição inadequada no nosso território, os 28 mil Pediatras dão conta do recado. Os problemas são pontuais. Mas já é notada a redução de crianças nos consultórios que antes não tinham horários suficientes para atendimento.

No outro lado da demografia, os atuais 39,5 milhões de VIPPES de 50 anos em diante, contam apenas com cerca de mil profissionais Geriatras, ou seja, uma deficiência de 19 mil médicos especializados em clientes com mais idade. Em razão dessa deficiência, se aceita 65 anos como a idade adequada para o atendimento do Geriatra.
Na verdade, com 65 anos,  o paciente quase nada poderá fazer em matéria de tratamento preventivo, pois boa parte dos problemas de saúde já estará em evolução. O ideal é que  prevenção fosse iniciada aos 40 anos ou no máximo aos 50 anos para que ainda houvesse oportunidade de atrasar ou minimizar o aparecimento de problemas normais da idade mais avançada.

Mesmo considerando os 65 anos como a idade para cuidados do Geriatra, já estaríamos com uma deficiência de 5,5 mil geriatras para uma população de 13 milhões de VIPPES de 65 anos em diante. Não podemos nos esquecer de que o tempo normal para a formação de um Geriatra qualificado é de cerca de 15 anos (seis  da formação básica e nove da formação específica e prática). Dessa forma, se começarmos agora, só por volta de 2022 poderíamos contar com um atendimento melhor para o pessoal de 65 anos em diante.  Mas teríamos que ter até o final deste ano de 2013, nove mil (reforçando: nove mil) médicos formados iniciando a sua especialização em Geriatria.

A realidade está muito aquém dessa relação. Clínicos e Médicos Generalistas estão se dedicando de forma empírica a substituir os Geriatras, por falta destes. Se pararmos para pensar como tirar esse atraso na quantidade mínima necessária de Geriatras, centenas de medidas teriam que ser aplicadas rapidamente. Junto com elas, uma formidável logística.

Cursos e técnicas de formação profissional, material didático volumoso e especializado, equipamentos de nova geração, terapêuticas inovadoras, consultórios e centros de saúde orientados.  Equipes auxiliares adequadas e em quantidade, material de orientação para pacientes, instalações convenientes bem como a criação de estruturas de atendimento ambulatorial e residencial se tornarão imprescindíveis. Medicamentos, farmacêuticos, profissionais técnicos de várias habilidades, produtos nutricionais específicos, acessórios especiais, próteses e aparelhos ortopédicos terão que compor a logística ideal para a obtenção de resultados, no mínimo, satisfatórios para todos os envolvidos.

O Geriatra não é apenas mais uma especialidade médica, mas ele é, sobretudo, um técnico que pode manter por mais tempo as características de atividade e produtividade de pessoas que serão fundamentais para a manutenção de uma sociedade com menor quantidade de jovens.

O problema da relação Pediatras e Geriatras é uma grande oportunidade de remodelação da demografia médica de especialidades. Toda a sociedade vai ganhar com isso. Mas não pode haver delongas nas providências.

Germano Hansen Jr.

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