A deficiente distribuição de renda no País causa transtornos sociais que tendem a se maximizar com a aceleração no envelhecimento populacional. Casas de repouso e ILPIs começam a se tornar células-chave na sociedade.
Não adianta esconder a cabeça na areia para não enxergar o horizonte. Asilos, casas de repouso ou ILPIs vão se tornando ícones da nova sociedade que envelhece. No final de julho de 2014 os VIPPES passarão de 44 milhões de membros no. O aumento de mais de quatro mil diariamente faz desse grupo etário um desafio assustador para a sociedade brasileira.
Assustador porque a visão que ainda convive em todas as camadas da sociedade é a da velhice como fase terminal da vida.
Na realidade, todas as fases etárias são transitórias e só a morte é terminal. Os VIPPES são compostos por faixas etárias diferenciadas e cada uma delas apresenta características próprias que se consolidam com precisão com o aumento substancial no número de seus membros.
Até meados do século passado, pessoas de sessenta anos eram consideradas como “caducas, decrépitas, velhas” com o destino já definido como “pé na cova”. A grande discussão familiar, principalmente na classe média, era “onde” colocar os “velhinhos” até que a Morte lhes desse o “descanso eterno”.
Chocante! Real! Triste!
Ainda no final do século XX, portanto menos que uma geração, profissionais de 50 anos em diante eram demitidos dos empregos como “dispensáveis”. Retornar ao mercado de trabalho com essa idade era tarefa utópica, “perda de tempo”.
Já passamos de uma década no século XXI e ainda há uma resistência da sociedade em aceitar a nova ordem etária em processo acelerado. Os VIPPES já são 20% da população brasileira. Em boa parte das famílias continua a discussão: que fazer com os sessentões?
Aí é que se pode perceber que o mundo não é mais o mesmo. Parte crescente dos “velhos” não espera a decisão familiar do que fazer com eles. Simplesmente eles entram na discussão e procuram fazer valer a sua posição. Essa mudança é fantástica. Seria comparável a bebês que repentinamente exigissem um “bifinho mal passado” em lugar da mamadeira.
Os VIPPES que já descobrem que não são mais “velhos terminais” e que “pé na cova” é a vovozinha (resquício da sociedade anterior) criam choques familiares impensáveis até então.
Falar em casas de repouso ou similares se torna assunto explosivo e capaz de destruir laços familiares até então “eternos”.
É lógico que um VIPPES na faixa de 50 a 60 anos já não se enxerga em asilos ou qualquer coisa parecida com asilo. E o mesmo já acontece com o pessoal na faixa acima entre 60 e 70 anos. O problema agora está se restringindo para a turma dos 70 em diante com tendência de mudar também.
Nas camadas mais pobres da população, entretanto, é mais lento o processo de mudança comportamental.
Em parte é porque ainda não é visível o ganho de mais saúde que permite alongar a vida útil das pessoas. A deficiência nos serviços públicos sociais é lamentável e injusta. Assim, a situação familiar nas classes mais pobres, exceção de uma parcela que deixou o nível de pobreza absoluta em razão do benefício bolsa-família, continua a mesma das décadas passadas.
O que fazer com os “velhos” que lá também se multiplicam? Queiramos ou não, terão que ser cuidados.
Asilos e ILPIs (Instituição de Longa Permanência para Idoso) terão que fazer parte do cenário habitacional daqui para frente.
Elas poderão ser instaladas sob padrões econômicos diferenciados, entretanto, contando com os recursos mínimos para esse tipo de serviço. Milhares delas são necessárias em curto prazo. Isso significa milhares de empregos, de negócios. Atendem-se os interesses empresariais e os sociais e o conjunto torna o Estado mais humanizado.
Se for realizado ainda em 2014 um levantamento detalhado das famílias que já enfrentam o desafio de cuidar de pessoas idosas, com certeza, haverá um susto em toda a sociedade.
Mas é possível “arrumar a casa” antes que ela desabe. Só que precisa haver pressa. Muita pressa!
G. Hansen Jr.
