- 07 de abril de 2019

Cadê os Residenciais com DNA?

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As chamadas “instituições de longa permanência para Idosos – ILPI” popularmente conhecidas como asilos, casas de repouso, residenciais para 3ª Idade e outras, são em quantidade e qualidade insuficientes.

residenciais com dnaNão há dados atualizados confiáveis porque parte das ILPIs estão na informalidade e outras não preenchem as exigências mínimas mas são toleradas por insuficiência de unidades em razão de inação pública e particular.

De acordo com artigo da Economista Ana Amélia Camarano, na obra Idosos no Brasil – Vivências, Desafios e Expectativas na Terceira Idade – em 2003 existiam no Brasil cerca de 2 milhões de idosos com dificuldades para a realização de atividades da vida diária. Apenas 100 mil residiam em instituições.
Portanto, o que acontecia com os 1,9 milhão de idosos com deficiências? Residiam com familiares. Evidentemente as condições em que eram cuidados ficavam muito a desejar.

No Estatuto do Idoso de 2003, a família continua a ser considerada a principal responsável em cuidar dos idosos fragilizados, entretanto, a maioria delas mostra renda e situação econômica insuficiente para a realização do mínimo necessário.

Então não resta alternativa: é urgente um aumento na quantidade de instituições de longa permanência para Idosos (VIPPES de 60 anos em diante, fragilizados física e psicologicamente). Tanto o Estado quanto a iniciativa privada terão que agir.

Em 2003, o dois milhões de idosos com dificuldades representava 13,8% do total de idosos. Hoje, os mesmos 13,8% já são 3 milhões de pessoas e serão quase 4 milhões em 2020 e 5,6 milhões em 2030. Sem nenhuma melhoria no índice de atendimento e considerando a mesma proporção de residentes, hoje já teríamos que estar com 150 mil internados e 200 em 2020. Mas não é o que acontece.

Em uma pesquisa (2011- IPEA, supervisão de Ana Amélia Camarano) realizada em mais de 90% das instituições (3.548) que cuidam de idosos, apenas estavam cadastrados 83 mil idosos. Ainda ficou claro que o papel que o Estado representa é ínfimo com apenas 218 asilos em todo o País.

Do total de instituições, 65,2% são filantrópicas. Entretanto, a pesquisa demonstrou um viés muito significativo: entre os anos 2.000 a 2.009, 57,8% dos novos asilos eram privados com fins lucrativos.

Esse dado indica a abertura de uma visão mercadológica condizente com a importância do envelhecimento populacional e a grande oportunidade de negócios que ele carrega.

A pesquisa constatou que o valor mensal pago por idosos nos asilos variou de R$ 700,00 a R$ 9.800,00.

As instituições, insuficientes para atender os idosos em qualquer faixa de idade e de
condição socioeconômica, contam com parcos serviços imprescindíveis para atender as necessidades dos residentes permanentes. Dados da pesquisa:

Serviços médicos = apenas em 66% das instituições
Fisioterapia          = em 56%
Sala de Leitura    =  em 15%
Piscina                 = em 6,3%Analisemos a seguinte relação: Em um total de 3.548 instituições, apenas 223 tinham piscina. Todos sabem que a piscina para idosos fragilizados é provavelmente a melhor terapia, superior a qualquer outra atividade física. Evidentemente, parte dos idosos com limitação grave não teria condições para entrar em uma piscina mas a maioria poderia fazê-lo.

Se apenas metade dessas instituições instalasse uma piscina, precisaríamos hoje de 1.551 piscinas. Para tanto seriam necessários projetos arquitetônicos, empreiteiros, pedreiros, encanadores, materiais diversos e os equipamentos de manutenção.

Naturalmente, os projetos apresentariam uma diversidade de possibilidades conforme a condição econômico-financeira dos residentes potenciais.

Vale a pena lembrar que estamos mencionando números muito aquém das necessidades reais e estimados em função de uma base absolutamente inadequada e inaceitável.

Também não podemos nos esquecer de que ainda existe uma avaliação negativa sobre asilos e similares em razão de muitos casos de instituições de baixa qualidade estrutural e de pessoal. Alia-se a essa realidade o aspecto social que ainda considera a internação de familiares em instituições condenável e desumana.

Entretanto, a expansão volumosa da quantidade de idosos na sociedade não poderá mais se pautar pelas aparências do passado.

Milhões de idosos desejarão ser tratados com mais profissionalismo e respeito porque já conhecem as diferenças da sociedade mal organizada do século passado e as conquistas sociais, educacionais e tecnológicas dos últimos trinta anos.

Para atender hoje 20% (600 mil) dos 3 milhões de idosos com deficiências diversas que justificam e recomendam a internação em instituições de longa permanência, o País precisa de 20 mil residenciais (com média de 30 residentes) com estrutura adequada. Portanto, faltam mais de 16.000 instituições em todo o País.

Para efeito de comparação, enquanto o Brasil tem hoje menos de 4.000 asilos, o Japão, com população menor que a brasileira, já contava no ano 2.000 com mais de 28.000 unidades. Por outro lado, a própria conscientização japonesa da conveniência de um tratamento mais humano e adequado para o idoso fragilizado em uma instituição e não em casa, vem se consolidando significativamente.

Portanto, teremos que enfrentar a transição etária com convicção e mudança nos paradigmas.

E as instituições terão que florescer imediatamente sob novos conceitos em todos os aspectos.

Germano Hansen Jr.

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