- 07 de abril de 2019

Alternativa dos asilos sem culpa

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A legislação brasileira reforça a família com o compromisso de cuidar das pessoas idosas. Na Constituição, na Política Nacional do Idoso e no Estatuto do Idoso. E os asilos para que servem?

alternativadosasilossemculpaO aumento em taxas elevadas e velozes da população idosa na composição etária brasileira faz com que se coloque em discussão a questão de “quem” vai cuidar dos idosos?

A legislação existente, inclusive o “recente” Estatuto do Idoso de 2003, indica a família como a responsável pelo atendimento e cuidado com os ascendentes.

A própria sociedade brasileira tem adotado essa solução como aquela que melhor atende aos sentimentos pessoais. De outro lado parece que se criou uma obrigação moral e ética que obriga a família a não colocar os idosos em asilos e instituições.

Muita gente se sente constrangida só de pensar em contratar uma pessoa de fora para cuidar de um parente, quanto mais em enviar para uma instituição pública ou particular.

Essas constatações, entretanto, precisarão de substituição a curto e médio prazo. Não haverá possibilidade de a família arcar sozinha com responsabilidades que também são do Estado.

Por que vai se tornar difícil o cuidado com os idosos em casa?

Na verdade já é complicado esse “cuidado”. Os idosos podem ser sempre divididos em duas categorias principais em matéria de saúde: os saudáveis e os frágeis ou debilitados ou doentes ou incapacitados. Também se poderia trocar por outros adjetivos: os autônomos e os dependentes.

Os autônomos ou saudáveis podem efetivamente viver no meio de uma família, pois não exigem muito trabalho ou atenção e até se tornam produtivos e competentes para várias tarefas.

Já os frágeis ou dependentes necessitam de graus diversos de atenção e cuidados e na prática não oferecem nenhuma condição de se tornarem prestativos para a manutenção das mínimas obrigações residenciais.

No período em que a pirâmide representava a demografia real, a grande massa de crianças e jovens podia suprir a necessidade de braços, carinho e atendimento para uma reduzida quantidade de idosos. Não era raro encontrar famílias com idosos de idade mais avançada, onde os adolescentes também atendiam os avós com esmero e solidariedade admiráveis.

Acontece que a pirâmide acabou. Agora vai crescendo a massa de idosos e simultaneamente vai se reduzindo velozmente a natalidade e fecundidade. É uma inversão completa em relação às últimas sete décadas.

A maioria das famílias terá uma redução na quantidade de membros como nunca se viu em nossa história. Os idosos, principalmente os dependentes, não terão braços de parentes para alimentá-los, vesti-los, higienizá-los, tratá-los de forma adequada. Muitos não terão nem condições financeiras para atender a todas as exigências de tratamento.

Os asilos se tornarão a melhor e muitas vezes a última alternativa para manter os idosos em situação digna e confortável. Mas é preciso começar urgentemente a mudar a imagem e a conotação do que é um asilo ou as chamadas Instituições de Longa Permanência para Idosos – ILPI.

Esses estabelecimentos em número assustadoramente insuficiente para a quantidade de idosos pode oferecer os recursos que se tornarão a cada ano mais escassos no mercado trabalhista profissional ou informal.

A mudança é possível?

Podemos transcrever um trecho do excelente artigo de Ana Amélia Camarano (economista, doutora pela London School of Economics, com pós-doutorado em demografia na Nihon University, Japão, é docente na Escola Nacional de Ciências Estatísticas e pesquisadora do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) “Intituições de longa permanência e outras modalidades de arranjos domiciliares para idosos” publicado na obra “Idosos no Brasil – Vivências, Desafios e Expectativas na Terceira Idade” (SESC/Fundação Perseu Abramo), com uma visão do que aconteceu no Japão, país que atravessou uma mudança etária parecida com a que ocorre aqui:

“É provável que essas mudanças estejam sendo acompanhadas por uma nova percepção sobre as instituições de longa permanência para idosos, como uma alternativa de cuidado/moradia para a população idosa. O Japão, onde os valores familiares eram muito arraigados, pode ilustrar uma transformação na percepção dos idosos japoneses em relação à co-residência com filhos adultos casados. Uma pesquisa de opinião levantou por vários anos seguidos a percepção dos idosos no tocante às relações com os membros mais jovens da família. A maioria deles declarou que o melhor para a família como um todo seria viver junto. No entanto, esta proporção decresceu de 59,4% para 43,5% entre 1981 e 2001. Por outro lado, aumentou a proporção de idosos que afirmaram que o melhor é que os membros jovens e idosos de uma família se encontrem ocasionalmente para fazer uma refeição conjunta ou um simples bate-papo (Sagaza, 2003). Outras evidências apontam uma redução na intenção de pessoas mais velhas em confiar no cuidado dos filhos. A proporção de pessoas idosas que têm escolhido hospitais ou instituições para ser cuidadas tem crescido (Okazaki, 1994). Outra pesquisa investigou as expectativas das mulheres de meia-idade quanto ao recebimento de apoio por parte dos filhos. As informações foram obtidas pelas respostas dadas à pergunta: “Você está planejando depender do seu filho quando ficar idosa?”. A Proporção de mulheres que declararam que sim declinou de 65% para 17% entre 1950 e 1994. Por outro lado, a de respondentes que se achavam responsáveis pelo cuidado dos pais passou de 80% para 51% no mesmo período (Ogawa, Retherford e Saito, 2001, p.23-24).”

Conforme se depreende, ocorreu uma mudança na mentalidade japonesa e o Brasil terá que alterar também a maneira de entender e aceitar as consequências e exigências trazidas pelo envelhecimento populacional.

É preciso que os agentes formadores de opinião parametrados pelos profissionais de marketing organizem uma divulgação ampla da nova situação etária e como resolver melhor as situações práticas sem o sentimento de culpabilidade.

Germano Hansen Jr.

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