- 07 de abril de 2019

Preparação de Geriatras

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Faltam mais de 15 mil médicos geriatras no País e o “déficit” vai aumentar ainda mais. Mas há um problema ainda maior: a preparação dos geriatras para uma visão social do envelhecimento populacional.

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Tratar de VIPPES não é tão complicado quanto poderia parecer. VIPPES, em sua maioria, podem explicar o que sentem e facilitar em muito a elaboração de um diagnóstico correto. Outro aspecto que corrobora essa afirmação é o fato dos VIPPES poderem apresentar relatos e documentação referente aos problemas mais marcantes pelos quais passaram em matéria de saúde.

Naturalmente há aqueles que nunca se trataram e que pela falta de conhecimentos mínimos não conseguem nem expressar os sintomas de maneira compreensível. Esta classe de VIPPES está em declínio e se reduzirá mais a cada ano daqui para frente. A questão é preparar adequadamente os médicos para o exercício da especialidade geriátrica através de um intenso e profundo conhecimento dos VIPPES. Esse conhecimento não deve e não pode ser apenas no campo médico, mas também no campo social. Em boa parte dos casos, é neste que se observará a maior possibilidade de bom resultado em qualquer tratamento.

Dentro do “campo social”, o mais significativo é a condição econômico-financeira.  Pacientes VIPPES em sua maioria não dispõem de situação econômica capaz de enfrentar situações médicas que exijam gastos elevados. O próprio conceito de “elevado” tem que ser interpretado no lado prático.

Para um paciente da classe sócio-econômica A (1% da população) e pequena parte da classe B (17% da população), um medicamento que custa R$ 200,00 é muito barato. Para outra parte da classe B, já é de preço razoável. Para a classe C significa razoável para caro e nas classes D e E é simplesmente proibitivo.

Essa avaliação independe de serem os VIPPES beneficiários ou não de planos de seguro-saúde ou de assistência médica.

Há inúmeros casos de VIPPES que possuem planos pagos por parentes, mas que não cobrem determinados tratamentos e medicamentos. É prática comum, mesmo nos serviços de “home-care”, médicos rotulados como geriatras receitarem medicamentos, para compra em drogaria ou preparação em farmácias com manipulação, de preços muito acima das possibilidades financeiras dos pacientes e família.

Que adianta dar uma receita que não está no alcance de efetivação pelos VIPPES ou família?

Essa situação acontece também porque muitos VIPPES são cuidados por voluntários que não dispõem de recursos suficientes para arcar com medicação.

Atitudes que um Geriatra consciente socialmente poderia fazer quando decidir pelo tratamento:

  1.  avaliar as condições sócio-econômico-financeiras do paciente;
  2.  estabelecer o conceito de tratamento ideal que poderia ser recomendado após a avaliação das condições sociais; tratamento alternativo que seria indicado como adequado para determinada faixa de renda ou condição e finalmente um tratamento básico para todos os pacientes em condições menos propícias para outros de melhor nível de prognóstico;
  3.  recomendações e sugestões de alternativas indiretas para obtenção de determinados medicamentos em farmácias populares, revendedores e mesmo em órgãos governamentais ou serviços especiais privados de organizações humanitárias.

Essas medidas valem também para determinados tratamentos.

O que não pode acontecer e,  infelizmente tem sido observado com frequência preocupante,  é a ausência total de visão social.

Assim, há falta de geriatras suficientes e ausência de preparação social adequada para parte dos atuantes.

Desafio complexo para todos que se preocupam com o processo de envelhecimento populacional que varre o País em velocidade crescente. Desafio para os órgãos públicos responsáveis pela saúde pública no Brasil.

G. Hansen Jr.

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