- 05 de abril de 2019

VIPPES e o cinema

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De “Amor” a “O Quarteto”, cada vez mais filmes retratam a vida e a realidade dos VIPPES. A indústria cinematográfica começa, de olho no mercado, a prestar mais atenção nas experiências das pessoas longevas.

vippes_e_o_cinema_divulgacaoUm casal britânico de mais de 70 anos é separado pelo câncer. Após a morte da mulher, Arthur encontra um novo sentido para a vida cantando em um coro, hobby de seu antigo amor. A tragicomédia Song for Marion tem Vanessa Redgrave e Terence Stamp nos papéis principais e é mais um filme que mostra a vida na terceira idade. Cada vez mais diretores estão focando suas câmeras em protagonistas idosos. O tema não é novo ou revolucionário, mas nos últimos meses, diferentes filmes, de variadas nacionalidades, chegaram aos cinemas observando as diferentes facetas de envelhecer.

A tendência não se limita a um gênero. Está presente em filmes mais melancólicos e autorais, como Gloria, vencedor do prêmio de melhor atriz na Berlinale 2013 e que trata da transição entre a idade adulta e a velhice; e em histórias cheias de humor, como o bem sucedido O Exótico Hotel Marigold. A diversidade dá origem a abordagens cinematográficas completamente diferentes do processo de envelhecer e de questões relacionadas à morte.

Em comédias como E se Vivêssemos Todos Juntos?, de Stéphane Robelin, e O Quarteto, de Dustin Hoffman, os grisalhos protagonistas querem “sugar o tutano da vida”, como escreveu o autor americano Henry David Thoreau. Outros trabalhos, como o vencedor do Oscar Amor, de Michael Haneke, ou o documentário Vergiss mein nicht (em tradução livre: “Não se esqueça de mim”), de David Sieveking, tratam de temas mais difíceis como a demência e a eutanásia.

Fidelidade e vivência no cinema

Fatores econômicos têm, sem dúvida, um papel nessa tendência. Na era digital, o considerado “cinema de arte” voltou a ser lembrado, já que tem um público alvo confiável: os VIPPES.

A indústria cinematográfica descobriu que, para os Vippes, cinema não é só assistir um filme on-line na internet , mas ir ao cinema com um ritual culturalmente sólido.
Tradicionalmente, cerca de 50% do público que frequenta o cinema em Bonn, a Alemanha, por exemplo,  tem acima de 50 anos. Possivelmente, produtores têm deliberadamente escolhido temas nos quais os idosos possam se identificar, juntando um público fiel a filmes de orçamentos mais modestos.

Uma outra explicação seria a idade dos respectivos diretores. Talvez, só agora com 70 anos, o austríaco Michael Haneke tenha a compreensão e a bagagem necessária para fazer um filme como o premiado Amor. Mesmo famosos atores de Hollywood como Dustin Hoffman e Clint Eastwood, ambos com mais de 60 anos, têm feito filmes com orçamentos mais modestos e protagonistas sexagenários.

No entanto, essa explicação é limitada, já que Song for Marion, por exemplo, foi dirigido por Paul Andrew Williams, um inglês de 40 anos. A história da divorciada de 58 anos lutando contra a solidão no filme chileno Gloria foi contada pelo diretor Sebastián Lélio, de 39 anos.

Mudança demográfica

Dustin Hoffman dirigiu o bem-humorado “O Quarteto”. Não se pode negar o sucesso dos filmes onde o tema é envelhecer. Não importa a maneira, o que importa é que essas histórias estão sendo contadas – e com sucesso de crítica e de público. O Quarteto faturou 45 milhões de dólares nas bilheterias de todo o mundo,   já O Exótico Hotel Marigold arrecadou 134 milhões. Claramente, esses filmes têm um grande fator de identificação para uma sociedade que envelhece. O cinema refletiria então uma mudança demográfica? Teria uma geração, os Vippes, achado no cinema uma maneira bem-humorada e séria de encarar os sessentinha?

O cinema é, como todas as outras formas de arte, um gerador de discursos. Ou seja, um campo em que se pode confrontar com medos e situações da vida e simular soluções”, diz Britta Hartmann, especialista em cinema e que considera que o fenômeno não é passageiro. “Numa sociedade onde a idade média está cada vez mais avançada, as implicações do envelhecimento, problemas físicos e mentais, doenças e a morte serão abordados com maior interesse e profundidade nos próximos anos.”

Mona Cury

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