- 07 de abril de 2019

Programas de Educação Permanente

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A.Jordão Netto, professor sociólogo e gerontólogo, pioneiro na implementação dos cursos universitários voltados para longevos, em S. Paulo, coordena os programas de Educação Permanente na PUC-SP e no Centro Universitário San’Anna.

lei_dos_vippes_extrapolaO que vem a ser Educação Permanente? Trata-se de um curso direcionado aos Vippes (pessoas acima de 50 anos), interessados em atualizar e reciclar seus conhecimentos de forma alegre e descontraída, a fim de entrar em sintonia com os principais fatos e acontecimentos do  mundo atual. A ideia de faculdades para os Vippes surgiu, inicialmente na França, na década de 70, e foi implementada pelo professor Pierre Vellas, na Universidade de Toulouse. À época, eram direcionadas para as pessoas com mais de 65 anos e tinham o nome de “Universidade Aberta à Terceira Idade”.

Em poucos anos esse conceito se espalhou pela Europa e para o restante do mundo desenvolvido: países que tem maior riqueza, educação e esperança média de vida como, por exemplo, Noruega, Austrália e Estados Unidos, entre outros. Já no Brasil, o primeiro curso surgiu na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Camp), em 1990.

Importante lembrar que, foi no ano de 1991 em São Paulo (SP), que o professor Antônio Jordão Netto concebeu, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), um
projeto-piloto de educação para longevos. Chamava-se também “Universidade Aberta à Terceira Idade”. Foi o primeiro curso de extensão universitária para Vippes na cidade de São Paulo. Posteriormente, o nome foi mudado para “Universidade Aberta à Maturidade”. Em 1996, o mesmo conceito foi implementado no Centro Universitário Sant’Anna, através da “Universidade Sênior”.

De acordo com o professor Jordão, a base pedagógica desses cursos é fundamentada em educadores como Jean Piaget, Carl Rogers e Roberto Freire, trabalhando com a pedagogia do prazer, em que a espontaneidade e a participação ativa dos alunos são enfatizadas. Além disso, tanto na PUC-SP quanto na Unisant’anna, o programa das faculdades gira em torno de três eixos:

1- reciclagem e atualização cultural,
2- orientações de saúde e, finalmente,
3- atividades socioeducativas.

Mesmo sendo um curso voltado para os mais velhos, também são aceitas pessoas a partir dos 40 anos de idade. “Você não precisa chegar aos 60 anos para pensar na velhice”, alerta o professor Jordão.

O programa – dividido em quatro fases, cada uma com a duração de um semestre e com seis matérias, seu grande diferencial é que a fase quatro pode ser feita quantas vezes o
aluno quiser, já que as matérias são sempre diferentes. “Por exemplo, uma das professoras, que é médica, em um semestre falou sobre cromoterapia e, no outro, sobre transgênicos”, explica Cleide Bucheroni Bellinello, 76 anos, uma das alunas na Unisant’anna. Nas palavras do professor Jordão, “é um curso que tem tempo para começar, mas não tem tempo para acabar”. A própria Cleide está fazendo a faculdade há sete anos.

A motivação  é uma diferença entre os alunos das faculdades para os VIPPES àquelas das universidades tradicional. Nessas, o estudante vai “empurrado” pelos pais ou em busca de um objetivo específico, a qualificação profissional. Nas faculdades para os VIPPES existe uma espontaneidade maior. “Ninguém vem às aulas como uma obrigação”, afirma Antônio J. Netto.

Em relação aos professores, existem também diferenças na maneira de dar uma aula. Com os alunos mais velhos, eles devem evitar um ar de superioridade e de uma atitude
condescendente. Além disso, são os próprios alunos que avaliam o professor e que participam das escolhas das matérias, isto na fase quatro.

Sempre é bom saber que para cursar as faculdades, não é preciso apresentar nenhum tipo de diploma, nem prestar exames ou fazer provas ao longo do curso. O nível de instrução dos alunos varia bastante, indo desde aqueles que concluíram apenas o ensino fundamental até aqueles com formação superior.

Mas isso não gera um curso fraco? “O que se verifica é um nivelamento por cima, não por baixo”, afirma o professor. E os resultados, para os alunos, aparecem rápido. Jordão conta que nota uma mudança na postura, na fisionomia. “É como uma cirurgia plástica sem bisturi”, brinca ele. Cleide faz  coro: “só pelo fato de sair de casa você se arruma, começa a pensar no que vai vestir…” As faculdades acabam sendo um serviço de utilidade pública, já que promovem uma inclusão social. Evitam que muitos VIPPES fiquem doentes ou que tenham que ir para asilos, retirando-os da solidão, do isolamento e da inatividade. “Eu estava conversando com a televisão. Agora, vivo trocando ideias com a família”, conta Cleide.

Enfim, sempre certo nas suas vivências, Jordão não gosta da expressão “no meu tempo”.

“O meu tempo é o presente”, afirma ele. Esta é a expressão de todos e também de Carlos Drummond de Andrade no poema: “Não serei o poeta de um mundo caduco… Estou preso à vida e olho meus companheiros…O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente…” Vivam os Vippes!!!

Paulo Tomazinho

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