- 05 de abril de 2019

Médicos mais preocupados com Alzheimer

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Foto: ReproduçãoAs enfermidades neurodegenerativas, para as quais não há cura até o momento, atingem, no Brasil, mais de um milhão de brasileiros e é esperado que este número alcance 115 milhões em 2050. Já na Europa o número chega a 6,36 milhões de pessoas com mais de 65 anos. Problema também afeta diretamente 20 milhões de assistentes familiares.

Cientistas brasileiros descobriram o mecanismo responsável pela associação entre doença de Alzheimer e depressão. Na prática clínica, observa-se que uma das manifestações psiquiátricas mais comuns do paciente com Alzheimer são transtornos depressivos, que também atuam como fatores de risco importantes para a doença degenerativa. O que não se conhecia até agora era o mecanismo molecular exato por trás dessa relação.

O estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) concluiu que neurotoxinas chamadas oligômeros de abeta, presentes em maior quantidade no cérebro dos pacientes com Alzheimer, são capazes de levar a sintomas de depressão em camundongos. O tratamento desses roedores com antidepressivo reverteu o quadro depressivo e melhorou a memória.

A descoberta, que abre a possibilidade de investigar mais a fundo a eficácia da indicação de antidepressivos em fases iniciais do Alzheimer, foi publicada na revista Molecular Psychiatry, do mesmo grupo que publica a Nature.

Os oligômeros, estruturas que se agregam formando bolinhas, atacam as conexões entre os neurônios, impedindo o processamento de informações. Como são solúveis no líquido que banha o cérebro, eles se difundem, atacando o órgão em várias regiões. Pesquisas anteriores demonstraram que os oligômeros são os principais responsáveis pela perda de memória nas fases iniciais da doença.

Para testar a hipótese de que eles também provocam depressão, os cientistas aplicaram a toxina nos cérebros de camundongos. Após 24 horas, os animais foram submetidos a testes que identificaram comportamentos depressivos. Mediante o tratamento com fluoxetina, o quadro foi revertido. Uma boa surpresa do estudo foi que a fluoxetina também teve efeitos positivos na memória, diz um dos líderes do estudo, o pesquisador Sergio Ferreira, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ.

Segundo o neurologista Ivan Okamoto, membro da Academia Brasileira de Neurologia, quem não tem histórico de depressão e desenvolve um quadro depressivo com idade mais avançada tem de três a quatro vezes mais risco de desenvolver Alzheimer.

Agora, de acordo com Ferreira, o desafio é entender por que os oligômeros levam também à depressão. Observamos que eles induzem uma reação inflamatória no cérebro dos animais. É possível que essa reação esteja levando à depressão, mas os dados ainda não permitem garantir isso.

Para o neurologista Arthur Oscar Schelp, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é difícil reproduzir o Alzheimer em modelos animais, por isso a transposição do que se descobre nos roedores para os seres humanos ainda é difícil. Ele observa que a depressão predispõe ao surgimento de muitas doenças.

Alzheimer, depressão, câncer, osteopororse são doenças que costumam “rodear” os VIPPES … A área da saúde é sempre muito sensível e com muita demanda. Problemas sempre existirão, mas temos uma categoria obstinada e preparada para assumir desafios – os médicos. Não existe nada mais empolgante, mais instigante do que a medicina, porque ela exige não somente o domínio da profissão, mas a procura incessante por mais conhecimento, por respostas a perguntas que a evolução faz para se obter os avanços que a sociedade precisa. E foram médicos brasileiros que desvendaram o elo entre Alzheimer e depressão. Está-se entendendo como a doença funciona e evolui. Busca-se agora antecipar o diagnóstico com segurança para começar o tratamento o quanto antes. E a solução talvez não seja medicamentosa, mas de mudança de hábito.

Mona C. Cury

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