- 07 de abril de 2019

Previdência previdente

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Será que o envelhecimento populacional é motivo para assustar o sistema previdenciário público e privado no Brasil? Há motivos para preocupação ou está tudo sob controle?

vippestvCom ou sem envelhecimento populacional o sistema previdenciário público ou privado sempre será motivo de preocupação. Isso se deve aos enormes valores envolvidos e ao fato de que significa a economia de toda uma vida.

Se a administração do sistema for competente não haverá motivo de preocupação com os resultados operacionais. É relativamente simples o mecanismo de receitas e desembolsos principalmente desde o advento da informática.

Na verdade é uma grande operação matemática de entradas e saídas de dinheiro. O que normalmente complica os resultados é a decisão financeira de aplicar saldos positivos gigantescos em operações de risco e o inchaço no quadro de pessoal.

A decisão financeira de trabalhar o capital previdenciário no mercado acionário é para obter maiores ganhos e assim manter o sistema com saldos positivos aumentados e que proporcionem atualizar para cima os valores recolhidos dos trabalhadores.

Quanto ao quadro de pessoal acima das necessidades efetivas é fruto do uso político-partidário das instituições estatais. O quadro normal pode ser suportado pelas taxas administrativas programadas, porém os excessos, não!

Qual seria então o motivo de maior preocupação por causa do envelhecimento populacional se os fatores eventualmente complicadores nada têm a ver com ele?

A razão dessa “maior” preocupação é a ideia de que com a redução da população dos ainda não VIPPES, estes acabariam por representar um volume maior para receber aposentadorias sem a contrapartida similar das entradas.

Como se vê, continuamos com análise matemática.

Se a ideia estiver correta, a situação previdenciária no País se tornará explosiva daqui para frente, porque a rapidez do envelhecimento populacional não pode ser modificada nas próximas décadas.

De um ponto de vista simplista, parece lógica a análise. Efetivamente os contribuintes principais para a receita de qualquer sistema previdenciário são os não VIPPES.

Se considerarmos que os contribuintes começam a vida trabalhista aos 18 anos e os homens deverão trabalhar durante 35 anos e mulheres 30 anos (para aposentadoria plena), eles poderão se aposentar aos 53 e 48 anos e se tornarem beneficiários aposentados.

O quadro abaixo mostra os números reais da população do Brasil em alguns anos conforme IBGE-Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade 2000/2060 – Revisão 2013:

População brasileira

Homens

Mulheres

Total

18 a 53

+ de 53

18 a 48

+ de 48

18 a 48/53

+ de 48/50

2000

43.763

11.024

41.093

16.102

84.856

27.126

2014

53.521

15.126

49.118

26.225

102.639

41.351

2020

55.974

19.263

51.041

31.300

107.015

50.563

2030

57.352

30.793

50.941

40.861

108.293

71.654

2040

54.280

33.763

47.170

49.829

101.450

83.592

2060

44.807

42.126

37.877

58.716

82.684

100.842

A análise matemática simples indica que no ano 2000, a proporção possível de aposentados foi de 32%. Três trabalhadores sendo descontados para pagar os aposentados.

Tecnicamente o sistema previdenciário público deveria ter apresentado resultado financeiro muito favorável o que na prática não foi constatado.

Apenas quatorze anos depois – 2014 – a proporção tornou-se de 40% de aposentados ou 2,5 trabalhadores para pagar cada aposentado.

E pior ainda daqui a seis anos: 47% que equivale a dois trabalhadores ativos para pagar um aposentado.

Em 2060, haverá mais aposentados que trabalhadores sendo descontados. E aí o que vai acontecer?

A pergunta não é fácil de responder, porém, se não se fizer nada desde agora, não será necessário chegar a 2060 para comprovar a falência do sistema previdenciário.

E o que é possível fazer para evitar essa catástrofe social?

O mais essencial é um compromisso político nacional para evitar que o sistema previdenciário seja parte da política partidária que vigora praticamente em todas as instituições públicas do Estado, principalmente as de fundo social. O sistema previdenciário tem que ser administrado de forma apenas técnica e nunca política. Não pode haver interferências de entidades sindicais ou ligadas a partidos políticos.

Os três poderes do Estado devem estabelecer um pacto neutralizando o sistema previdenciário do jogo político-partidário. Tem que ser criada uma Agência Nacional da Previdência que atue nas mesmas condições de autonomia do Banco Central, dirigida e administrada por pessoal técnico qualificado com exigência de currículo similar ao exigido para a indicação dos ministros do Supremo Tribunal Federal no campo jurídico.

A Previdência Pública é uma questão fundamental de segurança nacional, pois ela é o fiel da balança no equilíbrio social. Sem um sistema previdenciário sólido, o caos social ocorrerá inexoravelmente.

Pelo lado matemático, várias alternativas são possíveis e podem ser efetivadas à medida que os resultados assim o exijam. O problema é que na maneira como o tema é conduzido atualmente, qualquer mudança necessária se torna um processo com forte conotação político-partidária e a demora na solução acaba agravando cada vez mais situações de risco operacional e financeiro.

Algumas das possibilidades matemáticas que podem ser tomadas:

– extensão do tempo de serviço mínimo para a aposentadoria para todos
– extensão do tempo de serviço mínimo para o sexo feminino que apresenta a maior inadequação entre mulheres ativas e inativas
– aumento no valor das contribuições previdenciárias para os salários mais elevados
– contribuição previdenciária obrigatória para aposentados que recebem aposentadoria e continuam a trabalhar
– extensão da idade mínima da aposentadoria por idade
– redução da idade mínima para o trabalho com introdução da contribuição previdenciária para a faixa dos 16 aos 18 anos.

Essas medidas seriam introduzidas automaticamente de acordo com índices predeterminados, sem necessidade de exaustivas e intermináveis discussões legislativas.

G. Hansen Jr.

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