A democracia tem como um dos principais postulados a possibilidade da mudança de partidos políticos no governo em seus níveis municipais, estaduais e federal. Muito saudável. E o envelhecimento populacional?
Cada partido tem um determinado programa de metas nos campos econômico, social e do poder de forma geral. Em vários pontos os diferentes programas partidários podem ser parecidos já que muitos problemas são visíveis para toda a sociedade e as causas bem conhecidas. Muitas vezes a diferença é na coragem e determinação de resolver parte dos problemas.
Um dos aspectos, entretanto, que não fazem parte da similaridade entre partidos é o que envolve o envelhecimento populacional. O fenômeno em questão terá consequências diretas em toda a sociedade e nenhum setor ficará livre das repercussões que sacudirão as atividades em todos os campos da vida nacional.
Assim, o tema envelhecimento populacional deveria ser de fundamental importância nos programas partidários de todos os partidos, sem distinção de ideais e objetivos práticos.
Mas não acontece assim, lamentavelmente.
Para alguns partidos o assunto simplesmente não existe, para outros não interessa. Alguns o consideram em plano secundário e raros são aqueles que se preocupam com o perfil etário em transição acelerada.
Tem sido comum que os partidos no poder – municipal, estadual ou federal – se mantenham por duas legislaturas em média significando oito anos da mesma filosofia partidária. Se for um partido que em seu programa de metas tenha em lugar de destaque o envelhecimento populacional, a sociedade será recompensada com realizações que auxiliarão a transição etária sem choques ou medidas emergenciais temerárias.
A dificuldade se tornará um problema de grande porte se o partido despreza a questão ou a coloca como preocupação secundária ou postergável. Nesta circunstância ocorrerão situações emergenciais que exigirão soluções drásticas e provavelmente impopulares ou inconvenientes.
Se pensarmos em termos da cidade de São Paulo, 12% hoje são cidadãos de 60 anos em diante, portanto 1,5 milhões de VIPPES. Se considerarmos o grupo completo de
VIPPES (de 50 anos em diante) são mais de 2,2 milhões de habitantes. Se um prefeito assumir o governo da cidade e mantiver a prefeitura em duas legislaturas, entraria em 2014 e ficaria até 2021.
Vejamos no quadro abaixo o que significaria esses oito anos em matéria de aumento da população de VIPPES na maior cidade do País.
Projeção da População de São Paulo Capital de 2014 a 2021 – Fonte IBGE (2013)
Habitantes de 50 anos em diante (VIPPES) e menos de 50 anos (Não VIPPES)
(em milhares de pessoas)
Total da
População S.Paulo Cap |
VIPPES
50 anos em diante |
Diferença de
VIPPES no período |
Total da
População Não VIPPES |
Diferença de
Não VIPPES no período |
|
2000 |
9.460 |
1.360 |
– |
||
2014 |
11.000 |
2.200 |
840.000 |
8.800 |
700.000 |
2015 |
11.087 |
2.278 |
78.000 |
8.809 |
9.000 |
2016 |
11.172 |
2.355 |
77.000 |
8.817 |
8.000 |
2017 |
11.254 |
2.433 |
78.000 |
8.821 |
4.000 |
2018 |
11.332 |
2.510 |
77.000 |
8.822 |
1.000 |
2019 |
11.410 |
2.588 |
78.000 |
8.822 |
-3.000 |
2020 |
11.485 |
2.667 |
79.000 |
8.818 |
-4.000 |
2021 |
11.555 |
2.746 |
79.000 |
8.809 |
-9.000 |
O quadro é muito evidente. Só no período de 2000 a 2014, o aumento na população de VIPPES foi 20% maior que a população de Não VIPPES.
Essa situação vai continuar no mesmo ritmo até o final deste século. Não há como modificar e qualquer tentativa para tal precisaria começar a ser planejada e executada a partir de agora.
Desnecessário discorrer sobre as profundas adaptações e mudanças estruturais que a cidade teria que providenciar para suportar essa formidável multidão de VIPPES daqui para frente.
Assim, os partidos políticos precisam sofrer pressão da sociedade para que nenhum deixe de colocar o envelhecimento populacional e consequências como uma das metas fundamentais e prioritárias dos programas partidários de conquista do poder.
Torquato Morelli