- 07 de abril de 2019

Mudanças irreversíveis

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Foto: ReproduçãoAs questões relativas à preservação do meio ambiente e as mudanças climáticas, por exemplo, envolvem expectativas de fatos que só acontecerão dezenas, centenas de anos ou de séculos adiante. Há casos de pouca expressão em volumes como a extinção de algumas espécies de seres vivos, animais e plantas, que podem ocorrer em uma ou duas décadas. No geral, a maioria das questões não provoca mudanças significativas no período de uma única geração humana.

Entretanto, a maior mudança estrutural da sociedade em toda a sua história, já está em desenvolvimento: o envelhecimento populacional. A participação das pessoas de mais de 50 anos no conjunto populacional aumenta de tal forma que é possível e conveniente registrar diariamente o seu incremento. No Brasil a cada período de vinte e quatro horas, cerca de 4.140 pessoas aumentam o contingente de VIPPES (de 50 anos em diante) na composição populacional.

Não se trata de imaginar como acontecerá a mudança climática ou como se observará os hábitos e costumes em razão da destruição do meio ambiente. O envelhecimento populacional já se tornou irreversível e já adquiriu velocidade que supera quaisquer valores usados em previsões para outros aspectos da sociedade.

Assim, a formidável transformação que vai alterar profundamente as relações e comportamentos sociais, já está acontecendo e começa a causar preocupação nos meios mais sensíveis ao seu efeito, ou seja, nas classes menos favorecidas da sociedade. No dia a dia, o desaparecimento do tigre ou da onça não vai provocar nenhum caos social e a natureza proporcionará a alguns pequenos animais o aumento de sua população por ausência dos seus principais predadores.

Já os VIPPES em rápida expansão não encontram assistência médica, condições de acessibilidade e mais uma gama de produtos e serviços especializados indicados para quem já não possui saúde e possibilidades de manter o ritmo de vida normal dos primeiros cinquenta anos de existência.

As cidades, em sua quase totalidade, não apresentam as condições mínimas para abrigar população mais idosa. O conceito de Cidade Amiga do Idoso, proposto pela OMS (ONU) ainda é uma utopia em todos os Continentes e, principalmente, no Brasil.
A tecnologia consegue hoje “enxergar” o Universo a milhões de anos-luz de nosso planeta, mas não é utilizada para criar a estrutura físico-social necessária para suprir as necessidades de centenas de milhões de pessoas idosas que vão se tornando mais densas na composição populacional.

A Ciência e a Pesquisa devem considerar o envelhecimento populacional como o novo Norte de sua atenção daqui para frente. Nenhum outro aspecto é tão concreto, importante, inevitável, desafiador e capaz de trazer um incontrolável caos social.
Em todas as áreas da atividade humana haverá repercussão e influência marcantes provocadas pelo envelhecimento populacional.

Todas as políticas públicas precisarão ser repensadas e com urgência. Nenhuma Economia se sustentará se não houver ações eficazes que resolvam a equação do desequilíbrio inédito entre população ativa e inativa com esta em volume maior. Os economistas e financistas em todo o mundo já sabem que o envelhecimento populacional é desde já a maior ameaça à estabilidade econômico-financeira do planeta.

A Sra. Lagarde do FMI, o então Ministro das Finanças do Japão e dezenas de institutos de estudos e análises financeiras em todo o mundo, admitem soluções drásticas para “administrar” a crise de sustentabilidade de muitas nações que já não conseguem manter a atividade econômica em equilíbrio por causa do crescimento do volume de idosos.

Já passa da hora de mudar o ponto de vista sobre o envelhecimento e aceitá-lo como o mais poderoso gatilho capaz de reinventar a sociedade. Ou isso ou uma nova Idade Negra na história da civilização.

G. Hansen Jr.

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