- 07 de abril de 2019

Como ganhar tempo

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Em outros países o tema Envelhecimento já lotou a prateleira de bibliotecas e os bancos de dados de dezenas de milhares de sites na Internet nos últimos tempos. Só quem não quer, não conhece o assunto.

como_ganhar_tempoComo em todos os temas, uma pesquisa metódica vai selecionar obras confiáveis que ajudarão a formar um conteúdo estruturado para a total compreensão do fenômeno etário e suas consequências.

O grande problema no Brasil é a velocidade do envelhecimento populacional. A rapidez na mudança dos parâmetros etários torna temerária a elaboração e avaliação de pesquisas a respeito.

Um levantamento criterioso de caráter nacional leva de seis a doze meses de preparação e planejamento e de três a seis meses de execução. Somam-se mais seis meses para a tabulação, ajustes, relatórios, análises e finalização. Os resultados serão divulgados em praticamente 24 meses do início do projeto.

Naturalmente é possível realizar tudo em três a seis meses, mas o custo se torna muito elevado. Algumas multinacionais e empresas pertencentes a grandes grupos financeiros podem enfrentar o desafio. Dificilmente os resultados levantados por esses agentes poderosos se tornarão públicos. Na verdade até serão rotulados como confidenciais e conhecidos por poucos executivos de alto nível para salvaguardar vantagens sobre a concorrência.

Entretanto, sempre uma garimpada no mercado no que existe disponível graciosamente ou com baixo custo, pode valer a pena.

Um deles é a obra “Age is Opportunit” elaborada pelo Conselho Nacional do Bem Estar dos Idosos e publicada pelo Conselho Nacional do Serviço Social da Grã Bretanha, de 1961 com 203 páginas.

A visão observada é de certo modo a mesma do Portal VIPPES Negócios, pois apresenta a idade como uma oportunidade para o desenvolvimento geral de setores diversos. Não podemos esquecer que o Reino Unido levou 46 anos para ter a população de 65 anos em diante passar de 7 para 14% da composição etária total.

Ainda na Europa na mesma época verifica-se a preocupação governamental das várias nações que mesmo atravessando crises políticas complexas no pós-guerra não descuidaram de se preocuparam com o envelhecimento de suas populações. Caso da Noruega com uma pesquisa divulgada em 1959, com 56 páginas sob o título “Care of the aged in Norwaw: a survey” publicada pelo Comitê Norueguês de Política Social Internacional.

Continuando na Europa, um dos órgãos componentes do predecessor da União Européia, Conselho da Europa (Council of Europe) divulgou um relatório de pesquisa com especialistas em saúde pública médica, de 1965 com 68 páginas. O tema foi avaliado em aspectos práticos que envolvem a atenção com VIPPES. Título: “Problems of the Accommodation and Medical-social Care of Old People”.

Da mesma forma que o projeto de trabalho do Portal VIPPES Negócios, a abrangência de informações no Velho Continente serve de modelo para países como o Brasil que carece de trabalhos mais detalhados sobre o processo de envelhecimento populacional.

Nessa linha destaca-se um longo relatório de pesquisa sobre instituições de longa permanência de idosos que se realizou na Inglaterra e no País de Gales, de autoria de Peter Towsend:
“The last refuge: a survey of residential institutions and homes for the aged in England and Wales”, de 1962. São 552 páginas com a demonstração de fatos e observações sobre um dos mais importantes ícones da sociedade envelhecida: os asilos, nem sempre assim chamados. Ler essa pesquisa é perceber o quanto estamos atrasados nas providências para fazer melhor o que já existia há mais de meio século.

O autor Peter Towsend já havia divulgado três anos antes (1959) um relatório de 90 páginas com edição da London University. “The personal, family and social circumstances of old people”: obra piloto de uma extensa pesquisa de abrangência nacional na Inglaterra para avaliação do envolvimento pessoal, familiar e social dos idosos. O trabalho foi desenvolvido em conjunto com Brian Rees sob auspícios da Associação Intenacional de Gerontologia, via Comitê de Pesquisa em Ciência Social, Seção Européia.

Muito interessante como alerta para as autoridades políticas e governamentais brasileiras de todos os níveis é um pequeno relatório apresentado em 1956 em uma conferência realizada na Dinamarca (Kopenhagen) pela Associação Internacional de Gerontologia via Comitê de Pesquisa de Ciência Social, Seção Européia (a mesma entidade mencionada no parágrafo anterior). O detalhe é que esse relatório “The need for cross-national surveys of old age” foi reproduzido e distribuído nos Estados Unidos pela Divisão de Gerontologia da Universidade de Michigan, conhecida pelos excelentes trabalhos sobre população idosa que deram muito suporte para projetos de parlamentares no Congresso desse País. Tudo isso em 1956 quando o Brasil tinha uma pirâmide perfeita da composição etária.

Lembramos que os Estados Unidos precisaram de 69 anos (1944 a 2013) para que a população de 65 anos de idade passasse de 7 para 14% do total; o Brasil levará apenas 21 anos (2011 a 2032) para registrar a mesma alteração.

O espaço de tempo que essas várias nações tiveram para se adaptar à mudança etária proporcionou a realização de milhares de trabalhos em instituições conceituadas principalmente no universo acadêmico e governamental. Esse fato aliviou as pressões sociais do envelhecimento, minimizando os efeitos adversos em todos os setores de atividade.

O Brasil começa a acelerar a velocidade do envelhecimento populacional e terá pouco tempo para ajustar um país de mais de duzentos milhões de habitantes em uma sociedade etária completamente diferente.

É a hora exata para pesquisar tudo que já foi realizado antes pelos outros para ganharmos o tempo que vai nos fazer muita falta.

F. Aristóteles Filho

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