- 05 de abril de 2019

Mergulho na realidade VIPPES

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O grande vencedor da Palma de Ouro de Cannes em 2012 e também do Oscar 2013 como melhor filme estrangeiro foi “Amour”, do diretor Michael Haneke. Um “showroom” do universo dos VIPPES e das oportunidades de negócios.

mergulho_na_realidadeO filme, estrelado por atores extraordinários (Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva), mostra a realidade da vida de um casal VIPPES aos oitenta anos. Interessante é observar que só um grande amor pode justificar o valor humano dos personagens. Na vida real, esse amor existe e são muitos os casais que tiveram e têm a oportunidade de vivenciá-lo em toda a sua plenitude.

Mas onde está o problema e a oportunidade de negócios? O fato é que o casal precisa enfrentar um inesperado problema de saúde (derrame) e aí tudo se complica. De forma brilhante, dramática mas não irracional, desfila diante do espectador o conjunto de aspectos que torna complexa a continuidade da vida nas novas circunstâncias. A logística de manutenção da residência com alimentação, enfermeiras e empregados demonstra a complexidade de desafios para VIPPES que gostariam de continuar com a autonomia que norteou a sua existência. Até uma cadeira de rodas motorizada passa a fazer parte de um mobiliário tradicional.

Graças a uma condição econômica adequada, podia-se manter a visitação médica semanal e certos cuidados no controle de saúde.

O grau social e educacional do casal proporcionava a possibilidade de superação da inatividade de trabalho com a literatura e a música. A resistência em utilizar um asilo ou “residencial para VIPPES” se apresentava como a inaceitável renúncia ao amor absoluto que servira como sustentáculo de vida até então.

A mensagem do amor abnegado é admirável! O trabalho artístico como cinema é magnífico! Palma de Ouro e Oscar justos. Perfeitos! Mas não se pode ficar apenas nessa admiração da sétima arte como se nada ficasse para auxiliar a transformação da sociedade. Um filme como esse desperta a visão aos aspectos práticos das necessidades humanas materiais e relacionais. O final da obra de arte é chocante, trágico, quase inconcebível, mas profundamente realista. A tragédia se torna aceitável, admirável e os personagens transformam-se em eternos.

Mas será que nada se pode fazer a não ser assistir ao roteiro que leva ao desastre fantasmagórico? É lógico que tudo pode ser feito. É preciso criar uma nova forma de enxergar o mundo dos VIPPES que cresce minuto a minuto. Todos seremos VIPPES mais cedo ou mais tarde e teremos que passar pelos problemas da idade mais avançada.

Boa parte das dificuldades podem ser evitadas com a prevenção. Prevenção em todos os ângulos de vida, da saúde à alimentação, da educação à cidadania.

É necessário criar um sentido novo para as instituições que cuidam de VIPPES. Elas não podem mais ser encaradas como um depósito de pessoas. Elas devem ser entendidas como centros de convivência para pessoas com dificuldades de sobrevivência autônoma.

É evidente que não se pode mudar a mentalidade e o sentimento de toda uma população em um dia ou em uma geração. Mas se nada for feito agora, nada mudará nunca!

Por outro lado, no filme pode-se perceber:

– a falta de profissionais cuidadores técnicos qualificados,
– a ausência de profissionais gerontólogos,
– a ausência de ambientes adequados,
– a falta de racionalidade na administração da situação,
– a interpretação equivocada de sinalizadores emocionais,
– a inexistência de analistas e orientadores especializados,
– a negligência de familiares mais próximos.

Diante dessas lacunas “relacionais” o que se poderia esperar no final? Tudo que faltou em um país como a França que levou 120 anos para ter uma população de 65 anos passar de 7 para 14% do total, tem que ser construído no Brasil em 22 anos apenas. Vamos ter que contar com milhões de cuidadores e centenas de milhares de profissionais de várias especialidades; incontáveis produtos e serviços para quase 100 milhões de pessoas com diversos níveis e graus de perfil socioeconômico e por outro lado um país acostumado a encontrar soluções inéditas. As oportunidades de negócios podem revitalizar a economia, ao mesmo tempo  que, tornarão o envelhecimento populacional um acontecimento oportuno para revalorizar a qualidade e a dignidade da vida aos componentes do segmento VIPPES.

Vamos trabalhar para mudar o final do grande vencedor de Cannes e do Oscar.

Germano Hansen Jr.

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