- 06 de abril de 2019

Mudanças de classe

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Uma das colunas mestras do planejamento de mercado para elaboração de orçamentos de venda é a divisão da população em classes econômico-sociais. O que altera com o envelhecimento populacional?

É um aspecto complexo.

Classe social pode ser estabelecida como um dos aspectos de identificação de grupos humanos dentro de um país. Essa identificação se faz através da soma de alguns critérios entre os quais o educacional e o econômico que são os principais para avaliação de potencial de mercado.

Em algumas nações há rigidez histórica na divisão de classes sociais e a eventual transição de classe entre membros da população é quase impossível independentemente de alterações nos aspectos pessoais superficiais.

No Brasil não há problemas em mudar de classe social. É comum e praticada a ascensão social baseada no crescimento das possibilidades financeiras, o chamado “trampolim social”.

Neste século noticia-se o crescimento substancial da quantidade de membros da classe C originada pelo aumento de renda do pessoal até então situado na classe D, imediatamente inferior.

Naturalmente é possível um grande debate sobre essas mudanças que contêm muita conotação política, já que os índices limites entre classes são frágeis e, portanto a migração entre elas não apresenta dificuldades.

Se a população estivesse se movimentando demograficamente nas mesmas condições de quase todo o século passado, seria possível projetar para o futuro, quase ano a ano, as alterações numéricas de componentes das várias classes.

Entretanto, um fenômeno novo vai desencadear uma alteração profunda nesse sistema. O envelhecimento populacional não carrega dentro de si apenas a substituição de índices de participação no conjunto populacional, mas provoca potentes reflexos na estratificação por classes.

Como acontece?

As classes A e B sempre tiveram acesso a facilidades que proporcionam melhor qualidade (e condição) de vida que os demais atores sociais. Com certeza a esperança de vida dos componentes das classes A e B sempre foi mais extensa graças à melhor alimentação, educação, saúde, informação e conforto. A classe C apresentou situações de alta e baixa conforme movimentos partidários e na economia.

Já as classes D e E nunca tiveram recursos para melhoria de suas condições insuficientes (D) e de penúria (E). Na primeira década deste século, alguns benefícios econômico-sociais promoveram uma melhoria de renda de parte da classe D que pode ascender aos níveis limites inferiores da classe C.

Com o envelhecimento populacional, as classes A e B continuarão com ainda maior participação na composição da população porque poderão aproveitar melhor os recursos da tecnologia, da prevenção de saúde e do próprio tratamento de doenças. A longevidade para os membros dessas classes é uma expectativa concreta.

Por outro lado, a classe C apresentará uma dupla direção: parte não determinada conseguirá obter benefícios que permitirão sua luta para ficar em padrão condizente com suas aspirações; outra parte terá dificuldades para se sustentar e acabará por retornar à classe D originária.

A classe E apresentará o menor crescimento no número proporcional de membros idosos, pois não conseguirá melhor condição de vida, de atendimento social, de cuidados com a prevenção da saúde e de tratamentos nas doenças causadas pela idade mais avançada.

A classe D, novamente aumentada, também terá uma diminuição de participação no conjunto populacional de mais idade porque não terá recursos para aproveitar os avanços em todos os ângulos da nova sociedade.

Essa a realidade que nos espera. Não adianta esperar que o perfil atual de classes econômico-sociais seja a mesma nos próximos cinquenta anos. A estrutura geral do País é frágil e a tendência é a redução das condições gerais de expansão do atendimento público. Os idosos sofrerão mais nas classes de menor poder aquisitivo e isso só poderia mudar com uma transformação política e econômica gigantesca.

Abaixo está uma tabela onde a partir dos dados do IBGE revisão 2013 – Projeção da População Brasileira 2000/2060, identificamos o total de pessoas por classe econômico-social em 2014. Localizamos duas pesquisas sobre classes econômico-sociais, ambas de institutos conceituados e muito divergentes em função de critérios de conceitos controversos. Para efeito de tese, efetivamos uma média simples para facilitar. O exercício é estabelecer a quantidade de membros por classe nos vários grupos etários. Com certeza, a tendência será de aumento na participação de maiores de 50 anos nas classes mais ricas.

                   BRASIL 2014  –  Participação por Classe Econômico-social

 

Pesquisa 1

Pesquisa 2

Média

Classe A

1%

1%

1%

Classe B

19%

15%

17%

Classe C

33%

49%

41%

Classes D/E

47%

35%

41%

É preciso ter do Estado uma disposição excepcional para evitar que a melhoria da participação de classes de melhor poder aquisitivo no total da população seja obtida com taxa de mortalidade maior nas classes mais pobres. Seria profundamente condenável e triste.

G. Hansen Jr.

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