Alguns vocábulos acabam ganhando sentidos diversos daqueles originalmente aceitos como corretos. Ciência e Pesquisa caminham para mudança lastimável em seus significados antes perfeitamente identificados.
Até meados da segunda metade do século passado, um artigo científico significava um conjunto de normas lógicas observadas para o esclarecimento de dúvidas, inovações, teses, hipóteses e fundamentos técnicos ou teóricos. O mesmo acontecia para as denominadas “pesquisas científicas”. Esses artigos davam o suporte para a sociedade conhecer, aceitar e fazer uso das conclusões dos estudos divulgados. Era comum em congressos de qualquer área da atividade humana, a apresentação de artigos e pesquisas “científicas” que anunciavam novidades com segurança e confiabilidade.
Entretanto, a mentalidade capitalista gananciosa e destrutiva que, lamentavelmente, se tornou parcela majoritária no sistema, passou a financiar ciência e pesquisa dirigida para interesses específicos, comerciais por excelência. Até ingenuamente, muitos profissionais competentes e dedicados passaram a trabalhar com muita disposição na execução de estudos e pesquisas “científicas” com alvos e resultados previamente determinados.
A ciência e a pesquisa se tornaram instrumentos de projetos onde os resultados eram determinados nos escritórios e salas de reunião. Os laboratórios e centros de inteligência passaram a buscar elementos confirmadores dos desejos gestados pelas diretorias mercadológicas, financeiras e de negócios dos grandes grupos empresariais. Um avanço útil foi implantado quando as decisões foram estendidas para atendimento dos desejos dos usuários de produtos ou serviços. A ciência e a pesquisa científica se tornavam as encarregadas de “atender” a vontade do mercado.
Milhares de produtos, serviços e técnicas foram “introduzidos” no mercado sob a manta protetora das “mães ciência e pesquisa”, que efetivamente trabalharam para atingir resultados aguardados. Porém, a ausência de metodologia e da lógica científica, substituídas pela pressa nos resultados com o consequente encurtamento de fases essenciais, causou sérios problemas.
Muitos acertos foram observados. Em parte as soluções foram melhores que as esperadas. Por outro lado, outro tanto de resultados se revelou decepcionante e o que é pior, inadequado e até negativo, perigoso mesmo. Acidentes, efeitos colaterais adversos, resultados deficientes e insatisfação se tornaram comuns e deram margem ao nascimento de associações particulares e públicas para tentar estabelecer padrões mínimos de qualidade e resultados esperados. Prejuízo para a imagem da Ciência e da Pesquisa científica, vistas em muitos círculos da sociedade como ferramentas mercadológicas, unicamente.
Elas podem, entretanto, resgatar a imagem e consideração que já tiveram, se fizer da transição etária o campo próprio para a realização de atividade científica capaz de encontrar as mais racionais soluções para a infinidade de desafios que o fenômeno carrega intrinsecamente. Não deverá haver atendimento a interesses alheios aos postulados da verdadeira ciência. A realidade dos fatos terá que ser a norteadora exclusiva das conclusões, recomendações e soluções encontradas.
Há muito que fazer.
Ciência e Pesquisa científica serão as colunas mestras da nova sociedade criada pelo envelhecimento populacional. Diferente e inédita tem necessidade de alternativas em todas as áreas de atividade humana.
É o maior desafio deste século. Exatamente como gosta a Ciência.
Torquato Morelli
