- 07 de abril de 2019

VIPPES e Deficiência Intelectual

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O número de deficientes intelectuais que se tornam VIPPES cresce no Brasil. Isso vai impactar tanto o setor privado quanto o setor público, que precisa desenvolver políticas adequadas para esse segmento da população.Foto: Reprodução

De acordo com a Associação Americana de Deficiência Intelectual do Desenvolvimento (AAID, na sigla em inglês), a deficiência intelectual caracteriza-se por um funcionamento intelectual (QI) inferior à média associado a limitações adaptativas em ao menos duas áreas de habilidades, que acontecem antes dos 18 anos de idade.

Os dados do IBGE mostram que, em 2010, 45 milhões de brasileiros declararam possuir algum tipo de deficiência, o que equivale a quase 24% da população do País. Os deficientes intelectuais correspondem a 2.617.025 pessoas. O que é novo nessa questão é que, assim com a população está envelhecendo, os deficientes intelectuais também ficam mais longevos. Uma pesquisa da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de São Paulo indica que, entre 1991 a 2000, a expectativa de vida dos deficientes intelectuais aumentou de 35 para 55 anos.

Isso acontece, principalmente, devido às melhorias na saúde em geral. “No caso da Síndrome de Down, as cirurgias que curam as cardiopatias, muito comum nessa população, contribuíram para aumentar a expectativa de vida” explica Leila Castro, supervisora do Serviço de Apoio ao Envelhecimento da APAE de São Paulo. “Somos a única APAE do Brasil que oferece esse tipo de serviço”, afirma. Outros fatores que têm contribuído para esse fenômeno são alimentação adequada, intervenções terapêuticas e atividades físicas.

Leila explica que, até pouco tempo atrás, idosos com deficiência intelectual eram invisíveis. Isso está mudando aos poucos, mas o Brasil tem ainda uma grande falta de pesquisas sobre o tema. Na Europa, desde o final da 2ª Guerra Mundial, ou seja, meados da década de 40, a sociedade começou a se preparar para o envelhecimento das pessoas com deficiência. Aqui no Brasil, só na década de 60 é que se começou a pensar na questão.

Uma das características do idoso com deficiência intelectual é que o declínio funcional se dá mais cedo. A partir dos 30 anos de idade já podem apresentar problemas como quedas e incontinência urinária, por exemplo. Doenças como demência e Alzheimer também podem aparecer.

Mas isso não significa que todos vão ter problemas ou que eles irão perder a autonomia. “Na APAE, nós trabalhamos com o conceito de envelhecimento ativo, no sentido de estar ativo para a vida e viver bem”, esclarece Leila. Quanto mais conviver e fazer as coisas que gosta, mais vai ter qualidade de vida.

O envelhecimento das pessoas com deficiência pode trazer também conflitos familiares. Afinal de contas, como eles estão vivendo mais tempo, os pais não vão estar sempre presentes para cuidar deles. Geralmente, quem fica cuidando são os irmãos. “Mas essa sobreposição de funções gera conflitos enormes”, afirma Leila.

Existem casos de famílias que colocam os longevos em Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPIs). “Mas essas tem um custo diferenciado”, alerta Leila. Existe a ideia de se criar moradias assistidas, quer dizer, locais onde as pessoas com deficiência intelectual possam viver de forma autônoma, com o direito de ir e vir e frequentar os locais de convivência, mas supervisionadas pelo Estado. Mas é, por enquanto, apenas uma ideia. “É uma falha do poder público, porque dentro da Política do Idoso, essa população não é contemplada”, critica Leila. Isso por conta do Estatuto do Idoso, que trata apenas de pessoas com mais de 60 anos. “Faltam pesquisas que comprovem cientificamente esse envelhecimento específico”.

O reduzidíssimo número de geriatras é outro problema. “Existem cerca de 700 geriatras no Brasil”, estima Leila. “Os especialistas em deficiência intelectual são poucos”. É um desafio que tem que ser respondido tanto pelo setor público quanto pela iniciativa privada.

Paulo Tomazinho

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