- 04 de abril de 2019

Perfil mutante

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Pesquisas surgem mencionando o novo Perfil dos VIPPES. Qual o valor real dessas pesquisas ou dos seus resultados? Seria correto pensar em perfis mutantes? Como interpretar isto?

perfil_mutanteEm uma sociedade com uma estrutura etária relativamente estabilizada é perfeitamente possível definir um perfil etário que poderá ser representativo para um período longo.

No Brasil a situação é completamente diferente.

O processo de envelhecimento populacional é muito veloz e a mudança do perfil etário da sociedade potencializa significativamente alterações nos perfis individuais dos componentes dessa sociedade dinâmica.

Analisemos a questão da percepção de minoria. Até poucos anos atrás os idosos de 60 anos em diante não chegavam a representar 10% da população. Em 1980 eram apenas 6% e na virada do século 8,1%. Em 2011 atingiram 10,1% e vão continuar crescendo atingindo 30% em 2050. Se acrescentarmos a esse grupo os VIPPES de 50 a 59 anos, em 2050 representarão cerca de 46 a 47% da população.

Não há nenhuma dúvida que qualquer pesquisa com idosos em 1980 seria de valor limitado porque eram minoria e com pouco significado como agentes produtivos da sociedade já que a maioria deles não apresentava boas condições de saúde e muito menos importância econômica. No geral eram considerados como representantes ainda teimosamente vivos de uma classe de membros em fase terminal. O pior de tudo é que os próprios idosos sabiam de sua situação precária dentro da sociedade e a depressão e aceitação da insignificância acabavam por moldar suas atitudes e comportamentos. Dependiam totalmente da família e dos serviços públicos para ter até um lugar para morrer!

Como estabelecer um perfil desses VIPPES em condições tão precárias e constrangedoras?

Não havia perspectiva de futuro. A esperança de vida do homem não chegava aos 60 anos (para a mulher um pouco mais) em 1980. Assim, quem tinha 62 anos já se considerava longevo e gozando ainda do bônus de vida. Com 50 anos, nessa época, acabavam definitivamente todas as oportunidades de trabalho e muitos preferiam aceitar a morte como solução mais prática. Quanto à mulher a situação ainda era mais dramática, pois era dependente total do homem, principalmente, a casada. Todas as crianças até 14 anos em 1980 foram criadas no então mundo limitado pela idade e apreenderam que a vida valia até os 50 anos – e olhe lá.

São essas crianças que estão hoje no limiar dos 50 anos, que vão compor a nova geração de VIPPES completamente diferentes daqueles de 1980. E a cada ano vão se sentir mais participantes de um mundo novo onde as pessoas de idade estarão em toda parte trabalhando, estudando, viajando, malhando, participando ativamente da vida em sociedade e buscando viver muito mais e bem.

Qualquer perfil de idosos de 1980 tem pouco valor para estabelecer qualquer aspecto de mercado atual. Serve apenas como referência. Mais importante é o perfil dos jovens daquela época, pois eles sim,  tinham um comportamento condicionado pela maneira como se entendia a longevidade de então.

A acelerada mudança da importância dessa classe no conjunto social acaba exercendo forte influência no comportamento pessoal de cada um de seus membros. Ele passa a se sentir parte de um setor populacional que se expande dia a dia enquanto cai substancialmente a quantidade de crianças e jovens. Ele percebe que surgem oportunidades de emprego, que a aposentadoria pode vir mais tarde, que aparecem vantagens e ofertas comerciais que antes não se viam ao longe.

Ele vai registrando que as vagas escolares para a infância vão começando a sobrar, que os consultórios de pediatras se tornam menos procurados, que as lojas para roupas de bebê vão diversificando e aumentando o limite de idade.

Ele vai comprovando que a esperança de vida aumenta de um mês a cada quatro e que as vagas de idosos se tornam insuficientes a cada dia nos shoppings e supermercados de todo o País e mais ainda nas vias públicas. Nessas circunstâncias o perfil dos VIPPES muda rapidamente porque o comportamento sofre influência considerável do cenário geral.

Como as mudanças são francamente positivas, de uma classe que se expande velozmente, a adaptação comportamental é mais fácil ou menos traumática.

Pesquisas de perfil de VIPPES precisam ser contínuas a partir de agora porque os VIPPES de hoje serão diferentes dos VIPPES do ano vindouro e assim sucessivamente pelos próximos 40 anos –  no mínimo.

Germano Hansen Jr.

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