- 07 de abril de 2019

Novo Niemeyer

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A arquitetura globalizada precisa urgentemente de uma reposição para o gênio de Oscar Niemeyer. Tem de ser um “fora de série” que defina a nova linha da substituição etária. Como seria uma nova Brasília para VIPPES?

novo_niemayerOscar Niemeyer era um jovem quando imaginou Brasília. O País era de jovens e naquela época pensar em envelhecimento populacional (substituição etária) seria ridículo.

Tudo indicava que continuaríamos a crescer e que a população brasileira caminharia para superar até a americana em algumas décadas. Efetivamente a nossa elevada taxa de natalidade comparada com a americana não poderia oferecer avaliação diferente.

Brasília foi construída com a beleza e a grandiosidade dos espaços do território brasileiro. Tudo ali é amplidão, horizonte, áreas de liberdade.

Visitar Brasília e percorrer os seus espaços é um exercício de vitalidade, de rejuvenescimento.

Entretanto, o País está envelhecendo rapidamente. Brasília foi erguida para durar um milênio e em menos de trinta anos a nossa população começará a se reduzir. As multidões formadas por crianças e jovens irão se desvanecendo e em seu lugar os VIPPES formarão os grandes ajuntamentos.

Como Oscar Niemeyer planejaria Brasília nos dias atuais? Como faria para evitar o que acontece hoje no Congresso Nacional onde um elevador quebrado impede que VIPPES e pessoas deficientes físicas possam assistir às sessões plenárias “abertas ao público”?

Podemos fazer uma avaliação das recomendações da Organização Mundial de Saúde para que qualquer cidade seja considerada Amiga do Idoso, conforme o Guia Global já em uso em muitos países. Vamos verificar se Brasília atende a elas.

Naturalmente Brasília se tornou um aglomerado humano onde a capital oficial e as antes chamadas cidades-satélites se tornaram um conjunto inseparável. Nesta dimensão, Brasília não atende de forma geral o Guia Global.

Para efeito de tentar uma visão arquitetônica do que se chamava plano-piloto, vamos limitar a análise de Brasília a esse plano-piloto.

Guia Global

Espaços verdes e calçadas

* Há espaços verdes bem conservados e seguros, com abrigos adequados, banheiros e bancos de fácil acesso.

Bancos públicos

*Existem bancos públicos, especialmente em parques, nas paradas de ônibus e em espaços públicos, e colocados a intervalos regulares; os bancos são bem conservados e fiscalizados para que todos tenham acesso seguro a eles.

Aqui já temos problemas. Brasília não tem bancos públicos. É difícil andar porque não há pontos de descanso. Para VIPPES de mais idade se torna um passeio muito cansativo e quase impeditivo. Abrigos e banheiros públicos também não fazem parte do panorama.

Guia Global

Calçamento

*O calçamento é bem conservado, nivelado, antiderrapante e amplo o suficiente para acomodar cadeiras de rodas, com um meio-fio baixo para facilitar a transição para a rua.
Ruas

*As ruas têm cruzamentos em intervalos regulares, com faixas antiderrapantes, fazendo com que seja seguro aos pedestres atravessá-las.

*As ruas dispõem de estruturas físicas bem desenhadas e apropriadamente colocadas, como ilhas de tráfego, passagens ou túneis que ajudem os pedestres a atravessá-las, especialmente nas de muito movimento.

*Os sinais de trânsito são regulados para dar tempo suficiente para que os idosos atravessem a rua, e têm dispositivo visual e sonoro.

Brasília definitivamente não foi pensada para pedestres e tudo que se prevê para estes, VIPPES ou não, está fora do desenho original. Se continuar como está ela ficará cada vez mais afastada dos pedestres e dos VIPPES.

Guia Global

Tráfego

Ciclovias

*Há uma faixa exclusiva para bicicletas.

Não, em Brasília não há faixas para bicicletas.

Guia Global

Serviços

*Os serviços estão agrupados e localizados próximo de onde os idosos moram e são de fácil acesso (por exemplo, localizado no andar térreo dos prédios).

*Há um atendimento especial para os idosos, como filas separadas ou guichês específicos para idosos.

Novamente Brasília fica a desejar.

Guia Global

Prédios

Os prédios são acessíveis e têm as seguintes características:

– elevadores
– rampas
– sinalização adequada
– corrimãos em escadas
– degraus não muito altos ou inclinados
– piso antiderrapante
– áreas de repouso com cadeiras confortáveis
– número suficiente de banheiros públicos.

Banheiros públicos

– Os banheiros públicos são limpos, bem conservados e de fácil acesso a pessoas com diferentes graus de incapacidade; são bem sinalizados e estão em locais convenientes.

Exceto para alguns itens básicos em qualquer construção acima de um pavimento, parece que realmente Brasília foge das recomendações da OMS.

Ajustar a cidade às recomendações do Guia Global provavelmente modificaria alguns pontos fortes do projeto original de Niemeyer. Deixar como está seria desprezar as novas gerações de brasileiros VIPPES que serão a maioria até o final deste século.

Mas será muito mais barato readaptar Brasília ao novo padrão etário da população do que contratar um novo Niemeyer para a construção de uma nova capital para uma população principalmente de VIPPES.

F. Aristóteles Filho

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