- 06 de abril de 2019

Futuro triste, não!

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A SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados -, do governo de São Paulo, criou o índice “Futuridade” para avaliar as condições para idosos nos municípios do Estado mais rico do País.futuro_triste_nao

Segundo a SEADE, é “um indicador que caracteriza o município quanto às suas iniciativas na área da Assistência Social à pessoa idosa, na perspectiva do envelhecimento digno e saudável de seus munícipes. O Índice Futuridade varia de 0 a 100, sendo que quanto mais próximo de 100 o município estiver, melhor são as condições oferecidas aos idosos, tanto em termos de saúde, quanto de serviços sociais e atividades esportivas e culturais voltadas aos idosos”.

Tudo que se fizer visando o envelhecimento populacional é positivo, entretanto, alguns reparos podem ser feitos. A OMS (Organização Mundial da Saúde) adota o lema “envelhecimento ativo”; este é que proporcionará o envelhecimento digno e saudável. Por outro lado, não é a Assistência Social que deveria estudar e planejar iniciativas, mas sim um setor estratégico para avaliar os desafios gigantescos causados pelo envelhecimento populacional.

Assistência Social seria uma das atividades envolvidas com foco principalmente na população idosa mais carente de recursos e qualidade de vida. Outra parte muito significativa dessa população, em quantidade e comportamento, quer continuar produtiva e ativa em sentido amplo. Querem tomar parte intensamente no componente socioeconômico e não ter exclusiva dependência de favores ou assistência do Estado.

Assim, o indicador “Futuridade” é apenas uma faceta do tema Envelhecimento Populacional.

Para compreender melhor a importância do indicador as definições da SEADE para os aspectos levantados revelam:

Dimensão Proteção Social

Quantifica a cobertura das ações de proteção social, realizadas na esfera da assistência social, voltadas à população de 60 anos e mais em situação de vulnerabilidade social. Ou seja, se são oferecidos serviços que estimulem o convívio familiar e comunitário, o acesso à renda, o atendimento aos idosos com direitos violados e a proteção integral em casos de perda total com vínculo familiar;

Dimensão Participação

Identifica a oferta de atividades e/ou programas de cultura, esporte e turismo, realizados pela prefeitura para a população idosa e a existência ou não de um Conselho Municipal do Idoso;

Dimensão Saúde

Mensura as condições de saúde do idoso, baseado na taxa de mortalidade de pessoas entre 60 e 69 anos, considerada como precoce, e na proporção de óbitos nessa faixa etária, no total daqueles com 60 anos ou mais.

Conforme se pode inferir, é extensa a relação de ações que são observadas para o estabelecimento de notas para formar o resultado do indicador.

Os resultados indicaram fatos estarrecedores.

Exemplo:

Município de São Paulo: população = 11,6 milhões
pessoal de 60 anos em diante = 1.400.000
Índice Futuridade = 38,0 (em 100)
Classificação no Estado = 503º (em 645)

 

Com esse Índice Futuridade, os VIPPES de 60 anos em diante (e também os de 50 a 59) estão literalmente perdidos na maior cidade da América do Sul. Não se trata de imaginar o futuro.

Esse índice mede o presente. A tendência é a piora, visto que ações são muito mais lentas que a velocidade do envelhecimento etário.

Pior que tudo é o fato de existir o levantamento, chegar-se a um índice que representa a realidade e nenhuma medida efetiva ser tomada para mudar a tendência. Em qualquer nação organizada e preocupada com seus cidadãos, uma reunião política estratégica nacional seria estabelecida para tratar do tema e planejar a execução de ações efetivas.

Mas a cidade de São Paulo, capital do Estado, não está solitária no grupo das grandes concentrações urbanas paulistas:

Município

População

Índice

Futuridade

Classificação

no Estado SP

São Paulo

11.583.000

38,0

503º

Guarulhos

1.222.000

34,2

560º

Campinas

952.600

40,2

466º

São Bernardo Campo

736.400

34,9

549º

Outros Índices de Futuridade de cidades paulistas bem conhecidas:

Município

Índice

Futuridade

População

Santos

50,1

419.000

S. Vicente

43,4

332.400

Guarujá

32,8

290.700

Cubatão

52,2

118.700

Osasco

34,3

666.700

Ribeirão Preto

43,1

590.500

Por outro lado, entre os 100 municípios que obtiveram os mais elevados Índices Futuridade, apenas cinco são de municípios com mais de cem mil habitantes. Parece até que municípios menores apresentam condições mais adequadas para os idosos. Mas não é bem assim.

Na tabela, algumas das discrepâncias:

Município

Índice

Futuridade

População

(*)Santo Antônio da Alegria

86,2

6.300

Taquarivaí

16,6

5.100

Cássia dos Coqueiros

78,4

2.600

Nova Campina

15,8

8.500

Altinópolis

85,0

15.600

Barrinha

16,4

28.500

Araçoiaba da Serra

78,9

27.300

(*) Município que obteve o 1º lugar no Índice Futuridade

Como se constata, os maiores e os menores Índices Futuridade são de municípios com baixa população, portanto, não é o fator quantidade que favorece ou desfavorece as iniciativas nas áreas sociais.

Por outro lado, a quase totalidade das maiores cidades ficou com índices abaixo de 50, o que indica efetiva dificuldade em atender melhor a população de mais idade. Se não houver uma decisão política corajosa, unânime, desenvolvimentista e realista, o Estado de São Paulo e o País não conseguirão melhorar os índices e toda a sociedade será prejudicada. Está ficando tarde para a tomada de providências.

G. Hansen Jr.

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