- 07 de abril de 2019

Alemanha controversa

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De um lado ausência de iniciativa governamental e política da Alemanha em reconhecer a transição etária e redução populacional. Do outro, empreendedores e acadêmicos agem.

alemanha_controversaNa Alemanha há uma distinção inequívoca entre o mundo da iniciativa privada e a política pública no assunto demografia etária. Em parte, a população apóia o executivo porque não aceita a idade como sinônimo de poder e felicidade. As empresas de modo geral não se opõem ao executivo porque dependem muito dele para a execução de seus projetos de longo prazo e não se arriscam a tomar direção contrária.

Entretanto, é indiscutível a substituição etária na Alemanha. As estatísticas demográficas mostram desde 2008 uma participação de mais de 20% de pessoas de 60 anos em diante na composição populacional. (Para ter ideia do que isso significa, no Brasil atual de 2014, o grupo etário de 60 anos representa 11,3% do total da população).

Em 2050, tanto na Alemanha quanto no Brasil, as pessoas de 60 anos em diante serão uma em cada três. (A rapidez do envelhecimento no Brasil faz que no mesmo período, o
Brasil saia de 11,3% para 30% contra os 20% de hoje da Alemanha).

Para os investidores, profissionais de mercado, estudiosos demográficos, sociólogos, jornalistas e pessoas de bom senso sem preconceitos, a realidade observada é mais importante e válida que as teorizações condicionadas a interesses não racionais.

Então o que acontece é a movimentação desses agentes ativos para entender e atender aquilo que as pessoas, os potenciais usuários de produtos e serviços efetivamente precisam e desejam.

Vamos então avaliar o que está acontecendo na Alemanha real, na Alemanha das ruas, na Alemanha da população que envelhece com o governo, os políticos e os míopes querendo ou não:

  •   em Grossräschen (à uma hora de Berlim) a loja Deliga realiza um desfile de moda para VIPPES. Nenhuma relação com desfiles das modelos raquíticas muitas das quais menores; ali as modelos e o público são VIPPES. A loja ainda vende:
  •   telefones com teclas grandes para facilitar a leitura para quem tem problemas de visão e artrite;
  •   amplificadores para rádios e despertadores;
  •   despertadores que “falam” a hora;
  •   roupas íntimas para usuários com incontinência urinária;
  •   lentes especiais para ampliar textos nos aparelhos de televisão;
  •   sapatos próprios para quem problemas nos pés e com solas antiderrapantes;

A loja está instalada para a finalidade de público para a qual foi criada. Não há escadas e os corredores são amplos. Cadeirantes e VIPPES com acessórios para andar podem circular à vontade.

Naturalmente os agentes ativos que querem fazer negócios com o envelhecimento populacional sabem perfeitamente que o poder de compra dessa população de 60 anos é de 320 bilhões de euros anuais (Instituto Alemão de Pesquisas Econômicas – 2010).

Os empresários que estão aplicando dinheiro e trabalho na instalação de serviços e produtos para VIPPES mostram surpresa pela ausência de maiores investimentos nesse setor. Na verdade falta mais conhecimento a respeito dos VIPPES.

Entretanto, começam a pipocar em várias regiões os chamados “supermercados da nova geração” com carrinhos de compra motorizados, distribuição de prateleiras que facilitam a visão e retirada de produtos, corredores que permitem até cadeiras de rodas motorizadas, placas orientadoras em letras grandes e atendentes pacientes e prestativos.

Interessante é que quatro ou cinco anos antes, algumas lojas abriram e depois de pouco tempo fecharam, mas não por falta de público e sim por falhas administrativas e mercadológicas.

Em suma, ausência de um bom trabalho de mercado. Vão reabrir com novos visuais, novos serviços, novos produtos e principalmente nova visão da importância desse mercado que não pode mais ser tratado como nicho, mas sim como o grande mercado em forte desenvolvimento.

Na Alemanha, consultores informam que o setor vai se tornando atrativo para todas as atividades. Alertam, entretanto, que os empreendedores precisam conhecer muito bem a mentalidade dos VIPPES. O suporte tecnológico para esse novo mercado em expansão vem dos setores acadêmicos.

Um dos centros de estudo e pesquisa de referência na Alemanha, a Universidade de Munique, investiga novas maneiras de facilitar a vida de uma população envelhecida, pois não há mais dúvida que esse é o futuro da nação germânica. Ernst Pöppel, do Instituto de Pesquisa de Gerações dessa Universidade informa: “Uma das críticas mais freqüentes à tecnologia moderna é que ela seria feita por engenheiros jovens, inteligentes, destros e do sexo masculino, que desenvolvem aquilo que eles podem e não necessariamente aquilo que as pessoas precisam”.

Esse pessoal está desenvolvendo dezenas de produtos para todas as finalidades com o diferencial de evitar esforço físico e qualquer dificuldade de entendimento. A ideia é criar um mundo novo em todos os aspectos. Entre os projetos há um telefone celular sem necessidade de manual de instruções e um automóvel com pouca movimentação do motorista.

Para que os projetos atendam as expectativas, os pesquisadores buscam informações mais precisas sobre as consequências físicas efetivas do envelhecimento. Essas avaliações permitirão que as soluções levem em conta os aspectos práticos das dificuldades originárias apenas da idade mais avançada e não de outras causas.

E um fato curioso: a Universidade de Munique desenvolveu dentro dessa linha abrangente, uma série de cursos para o pessoal acima de 60 anos que desejassem aumentar o nível de conhecimentos em temas gerais universitários. Em boa parte dos cursos, o número de aposentados é maior que o dos estudantes normais da Universidade.

Os empreendedores brasileiros já podem viajar à Alemanha para avaliar o que já está acontecendo por lá no cotidiano, mesmo com a classe dirigente governamental e política evitando reconhecer o fenômeno etário.

Wolfgang K.L.

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