- 04 de abril de 2019

Reportagens repetitivas

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A televisão e os órgãos de imprensa divulgam ocasionalmente algumas notícias referentes à mudança etária. O que se nota nessas reportagens é a repetição de situações já muito conhecidas.

reportagens_repetitivasA simples divulgação de tabelas e números do IBGE ou de alguma pesquisa realizada por instituições particulares não aponta as reais consequências do envelhecimento populacional.

É difícil para todos compreender o que se passa e a profundidade do fenômeno.

Os programas procuram esclarecer melhor o que acontece e partem para reportagens em instituições que fazem trabalhos com VIPPES há muito tempo.

O que se observa nesses locais é exatamente o que já se fazia nas décadas de oitenta e noventa no século passado: programas de exercícios, artesanato, normas de trabalhos em tarefas secundárias, esportes sem nenhum risco e eventuais tardes semanais de dança e duas ou três festas anuais.

Ora, o Brasil de 1980 e 1990 era outro. Ainda era o Brasil da juventude em expansão. Ainda era o País de participação pequena dos VIPPES na composição etária. Era o País onde trabalhadores de 50 anos em diante não encontravam mais emprego em lugar nenhum porque jovens estavam disponíveis em grande número.

O Brasil de 2014 é um Estado que passa por um envelhecimento populacional em velocidade nunca vista; que teve uma redução anual de 39.000 nascimentos entre 2013 e 2014, redução que vai continuar até 2060 (último ano das projeções demográficas do IBGE).

Como a taxa de expansão da população de VIPPES cresce à razão de um milhão e meio de pessoas ao ano, as mudanças são profundas e o dinamismo é intenso. A transição etária é um fenômeno que vai mudar a sociedade em todos os aspectos. Pesquisas de comportamento social realizadas no século passado não têm valor prático e servem apenas como referencial de uma situação que não retorna mais neste século.

Mesmo as pesquisas realizadas na primeira década deste século precisam ser avaliadas com muita atenção porque os mesmos participantes estão começando a sofrer o impacto do envelhecimento generalizado.

Alguém que era de um grupo etário que não chegava a dez por cento no País, dobra sua participação em menos de uma década. É óbvio que essa mudança de importância exerce influência no modo de pensar, de encarar o presente e de repensar o futuro.

Os idosos que eram procurados aqui e ali para formarem pequenos grupos de interesse na prática de alguma atividade agora vão inchando mês a mês (cento e vinte mil VIPPES a mais a cada mês). Não se pode mais pensar em continuar a criar grupos similares aos que surgiram antes do fenômeno.

O perfil dos VIPPES é outro e o de 2014 permanecerá parecido não mais que dois ou três anos na melhor das hipóteses.

Quando uma emissora de televisão mostra uma entidade que mantém a mesma forma de operação das últimas duas décadas, ela não está levando para a sociedade um fato novo.

Estará, sim, criando uma distância maior da realidade etária e dificultando as mudanças necessárias para enfrentar o desafio.

Uma boa reportagem é aquela que parte de uma avaliação estatística inicialmente:

-Quantos VIPPES de 60 anos existem no País ou no município x?
-E quantos de 70, 80, 90 e 100 anos ou mais?
-Como pensam os VIPPES conforme esses grupos de idade?
-O que fazem esses VIPPES atualmente nos vários campos de atividade?
-O que gostariam de fazer?
-Por que não fazem e o que acham que precisariam para realizar os desejos?

Outras questões poderiam completar a avaliação estatística. Completada esta, aí os repórteres iriam às ruas procurar amostragem equivalente aos levantamentos estatísticos.

Hoje essa prática não existe. Uma reportagem hoje pode ser a mesma de dez anos atrás. Ninguém notará diferença porque provavelmente a maior parte dos participantes seja a mesma de dez anos atrás e nessas circunstâncias nada de novo aconteceu para esse grupo que já tinha um comportamento estabelecido e sem maiores objetivos.

Uma falha que se percebe claramente é a entrevista feita com um VIPPES de setenta anos gozando de ótima saúde e vitalidade e com vida totalmente diferente da média das pessoas dessa idade em todas as características que identificam um ser humano. As respostas dele não representam os VIPPES, mas apenas uma mínima parcela. Se esse VIPPES especial tiver um senso ético, lógico e positivo, poderá ser um exemplo, ainda que falso; caso contrário representará mal os seus colegas de grupo etário. Para a sociedade mais preparada, a reportagem assim feita será inócua, uma perda de tempo, apenas!

É conveniente que os primeiros profissionais a serem instruídos sobre o envelhecimento populacional e toda sua influência na sociedade sejam os jornalistas e repórteres porque eles podem, de forma mais veloz e eficaz, divulgar a grande oportunidade de remodelação social no século XXI, com reportagens inéditas, realistas, atualizadas, certamente!

G. Hansen Jr.

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