- 04 de abril de 2019

Realidade impossível

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Observa-se uma extraordinária dificuldade na visualização do envelhecimento populacional por parte da sociedade em geral. Pior, entretanto, é conseguir ver, mas não aceitar como realidade.

passatempoUm internauta que leu vários artigos publicados pelo Portal VIPPES Negócios admirou-se da reação da maioria das pessoas com quem comentou o assunto.

“- Disseram-me que ninguém está preocupado com o que vai acontecer daqui a vinte anos. Acrescentaram que os problemas da previdência, da saúde, da educação, da falta de hospitais, médicos e melhor atendimento social são imediatos e têm que ser resolvidos já”.

Esse é efetivamente o grande desafio do envelhecimento populacional. As pessoas não conseguem perceber que tudo o que falta no País é fruto de mais de uma centena de anos de governos incompetentes.

Querer consertar agora o que está torto, não vai dar certo. É como quebrar o nariz e buscar solução quando já estiver consolidada a fratura. Nesse caso, só quebrando de novo para a obtenção de um resultado aceitável.

Reclamar do que existe ou não, é esforço em vão.

Sabemos que o País precisa agora de mais de 10 mil geriatras. Não é uma previsão para as próximas décadas.

A deficiência de ILPIs – Instituição de Longa Permanência para Idosos (VIPPES de 60 anos em diante) – ultrapassa 17 mil unidades. Agora! Em 2014!

A cidade de São Paulo com doze milhões de habitantes precisa já de oito hospitais de grande porte para um atendimento compatível.

Em praticamente todas as capitais estaduais e grandes cidades, a acessibilidade para VIPPES não existe ou está muito aquém do mínimo sugerido pela ONU/OMS.

Essas não conformidades com as necessidades reais exigem providências urgentes, entretanto, não podem ficar divorciadas das projeções para o futuro.

Um amigo que visitou a China há uns dez anos deslocou-se em uma estrada monumental com viadutos gigantescos, porém, com tráfego escasso. Questionou o guia a respeito do aparente desperdício de materiais e mão de obra.

“- Há dois anos não havia nenhuma estrada aqui e nenhuma atividade em toda a região, entretanto, daqui a dez ou quinze anos, ela vai escoar enorme produção de fábricas que já começam a surgir em toda a sua extensão.”

Esse é o espírito de quem vivencia o futuro antes de sua ocorrência. Antever o que acontecerá.

O que não pode continuar a ocorrer é a negação de uma realidade que pode incomodar muito. Desconhecer que o envelhecimento populacional é uma questão atual que tem de ser tratada e debatida hoje é ser alienado social. Achar que não há necessidade de providências imediatas é demonstrar profunda ignorância dos fatos ou então uma fuga doentia do desafio. Também é pessimismo e falta de coragem lamentável.

Aqueles que possuem informações têm a obrigação de divulgá-las e principalmente de alertar a sociedade para as consequências da omissão ou indiferença em relação às responsabilidades que cada um precisará assumir para se evitar um caos social.

Os profissionais de mercado não podem continuar a disfarçar a realidade. Há uma profunda mudança acontecendo. É um processo em andamento. Se considerarem o envelhecimento populacional como uma transição, como uma adequação nos grupos etários, como a substituição de um grupo por outro, o medo de uma crise de negócios desaparecerá.

E não teremos problemas complexos de logística para atender os 100 milhões de VIPPES de 2060.

Lembrete: esses 100 milhões não surgirão do dia para a noite. Estão hoje em 43 milhões e crescerão à razão de 1,5 milhão a cada ano nos próximos 30 anos.

J. Mark Torrence

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