- 04 de abril de 2019

Realidade difícil

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Um dos grandes desafios para o ser humano é aceitar fato indesejado. Considerá-lo como sonho ajuda, mas não evita o confronto com a realidade indiscutível. Envelhecimento é um dos fatos.

artigo_3A sociedade demonstra hipocrisia ou aversão à realidade quando trata de assuntos relativos ao envelhecimento populacional.

As estatísticas apresentadas por institutos técnicos especializados não deixam nenhuma margem a dúvidas: o envelhecimento populacional é uma realidade. Não há como negar a tendência e principalmente a velocidade do processo.

Por que a dificuldade em aceitar esse fenômeno anteriormente previsto por algumas autoridades em demografia?

O que leva profissionais de vários setores a negligenciar a questão ou recusar-lhe importância?

Entre outras, duas respostas merecem avaliação:

1 – o envelhecimento populacional é uma preocupação com o futuro longínquo e é preciso viver e resolver os problemas do presente.

A segunda parte da resposta é correta. Efetivamente temos que realizar e resolver o que for possível no presente.

Entretanto, a primeira parte da resposta é completamente falsa. O envelhecimento populacional está em pleno processo e se desenvolve no presente já em velocidade crescente e contínua.

Essa constatação não é fruto de nenhuma imaginação irresponsável. Os números que refletem a natalidade decrescem sem nenhum mistério. Como eles, também as taxas de fecundidade (feminina) diminuídas estão em todas as estatísticas etárias não só do Brasil como de muitos países em todos os continentes.

E ainda mais disponível estão as demonstrações do formidável crescimento, nas últimas décadas, da esperança de vida ao nascer.
Juntando essas análises matemáticas é impossível não constatar que a sociedade envelhece e o processo está em curso tão adiantado que não é mais possível modificá-lo pelo menos em duas gerações.

O Brasil precisa se preocupar já com as mudanças que o envelhecimento começa a trazer para a sociedade. Não dá para deixar para mais tarde.

2 – o envelhecimento populacional é entendido como idade avançada de pessoas e o País precisa é se preocupar com a juventude.

Lamentavelmente, a confusão entre envelhecimento pessoal e populacional é observada em todas as classes sociais do País.

A ausência de identificação correta das duas expressões faz com que o tema seja tratado apenas pelo ângulo pessoal. Isto se deve ao fato de que praticamente todos conhecem pessoas de mais idade, geralmente parentes próximos.

A impressão causada é quase sempre negativa porque há uma associação direta com o lado mais preocupante do envelhecimento. Doenças e dificuldades diversas tornam a pessoa de mais idade um “fardo” irrecusável na unidade familiar. Irrecusável, mas não bem visto, na maioria dos casos.

Fica marcado o sentimento de que o envelhecimento é um fator inevitável e que irá determinar o fim de alguém que foi importante, necessário, amado e que se torna um exemplo do futuro de todos, ou seja, o ocaso da vida.

Normalmente ninguém gosta da perspectiva de enfrentar a morte ou de aceitá-la como possibilidade efetiva. Interiormente há uma defesa que “atira” a morte para o futuro longínquo. Os parentes queridos que envelhecem antecipam o futuro e a presença deles se torna um aviso contínuo de que a vida tem limite.

Quando entra uma notícia em qualquer meio de comunicação a respeito do envelhecimento populacional, a reação natural é “espantá-la”, pois vai trazer, “certamente, mais motivos de tristeza e medo da impotência de mudar o destino”.

As palavras podem ser diferentes, mas a sensação é a mesma.

Dessa maneira, a informação sobre o envelhecimento populacional “entra por um ouvido e sai pelo outro” ou simplesmente não é considerado.

É preciso que haja um completo programa de esclarecimento sobre o envelhecimento populacional sob um ângulo de aperfeiçoamento da sociedade e uma oportunidade de renová-la estruturalmente.

É preciso demonstrar que envelhecimento populacional é um poderoso fenômeno social que vai dar poder quase inimaginável aos VIPPES. Mas é essencial reconhecer a veracidade dessa afirmação. Nunca será tarde demais.

F. Aristóteles Filho

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