- 07 de abril de 2019

Envelhecimento não é deficiência

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Hoje se faz uma confusão nem sempre premeditada de termos que se tornaram comuns na comunicação.  Exemplo disso é o vocábulo “deficiente”. Até parece que aumentou muito o número de deficientes na sociedade – não é verdade.

envelhecimento nao e deficienciaPor conta dessa “confusão” de termos, algumas medidas de comunicação acabam confundindo ainda mais as pessoas. É o caso, por exemplo, dos indicadores de lugares nos estacionamentos de shoppings, supermercados, empresas públicas e privadas e de uma infinidade de estabelecimentos. Eles indicam com setas, placas ou letreiros lugares reservados para deficientes, idosos e mulheres grávidas, geralmente pintados de azul e branco com logotipos característicos.

Por alguma razão de entendimento distorcido, a indicação “deficiente” acaba sendo dominante e com isso os idosos e as grávidas acabam fazendo parte dessa classe.

O entendimento inadequado é potencializado pelo desenho identificador para o idoso: figura humana masculina apoiada em uma bengala ou muleta.  Lamentável a idéia desse desenho que não representa de forma alguma a imagem normal de um idoso. Representa com muita propriedade a imagem de um deficiente na locomoção a pé, mas nunca a de um idoso saudável e a maioria dos idosos não apresenta deficiência motora.

É muito importante que não haja uma interpretação “furada” do significado das imagens e indicadores, principalmente, quando se trata de informação sobre seres humanos. Mas se a indicação normativa informa com imprecisão não dá para culpar aqueles que fazem uso dela. Quem tem que mudar é a indicação normativa e não os usuários dela.

É preciso de muito boa vontade e boa dose de deficiência cognitiva para aceitar a figura de muleta ou bengala como representativa do idoso. Já houve tentativa de explicação para justificar o erro, mas não há nenhuma medida efetiva para acabar com essa indicação negativa para uma classe que cresce dia a dia e vai chegar a quase um terço do conjunto social. Essa turma não pode ser considerada deficiente porque esse entendimento será uma fábrica de problemas sociais.

A base de tudo é o fato de que o envelhecimento humano não é uma deficiência e sim um modo natural, biológico de registro da passagem do tempo. O homem nasce, cresce, se desenvolve, alcança a maturidade e chega à idade madura. É um processo absolutamente normal e cada pessoa “normal” passa por ele sem exceção. Por razões diversas na essência genética ou nas condições de vida, alguns indivíduos não conseguem atravessar o ciclo inteiro sem problemas de saúde.

Assim, a qualquer momento na linha da vida de cada ser humano, um acidente, incidente ou determinismo, poderá torná-lo doente, incapaz, deficiente ou frágil.

Felizmente, as dificuldades são pontuais e seletivas: por acaso ou por fatores natos ainda incontroláveis. Enquanto as pesquisas com células-tronco não mudarem o panorama da contingência hereditária, a maioria dos indivíduos continuará saudável até o final da vida (com limitações, naturalmente) e, lamentavelmente, a minoria terá que lutar para sobreviver e usar dos benefícios conquistados.

É essencial para mudar a situação atual que os próprios VIPPES não aceitem a condição falsa dos indicadores. É preciso que advoguem a causa e lutem para que ocorram mudanças, ajustes. Não se trata de queimar placas, repintar os pisos, pichar quadros de aviso e tomar outras medidas agressivas contra a ordem pública, mas entrar em contato com os setores de recursos humanos, engenharia, normas e organização das empresas e instituições e apontar a incoerência e irracionalidade do que deveria ser informação exemplar.

Todos sabem que determinadas mentiras repetidas à exaustão acabam sendo aceitas como verdades. Manter a informação errada de que idosos são identificados como deficientes locomotores é uma mentira que não pode continuar porque a sociedade vai precisar cada vez mais das pessoas de mais idade como parte ativa na sustentação da economia nacional.

Não é útil insistir na classificação inadequada das pessoas mais maduras como se fossem deficientes porque elas também estarão na cabine de comando da sociedade nas próximas décadas. A transição etária será um fenômeno complexo e que precisará ser conduzido com maestria pelo conjunto da sociedade e indicações equivocadas não facilitarão a conquista de melhores resultados.

Os agentes públicos e privados têm a obrigação cívica de aparar as falhas nos sistemas e processos de comunicação na atualidade para que o futuro seja menos incerto.

Germano Hansen Jr.

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