Luca D´Ettore, garoto de 10 anos brincava com um joguinho na Internet. Dirigi a pergunta a ele que sem tirar os olhos da telinha do celular e mantendo as mãos na digitação desenfreada, deu-me uma resposta convicta:
“- Tio, Terceira Idade é a denominação que se dá para pessoas com mais de 60 anos”.
Era a sétima pessoa a quem eu fizera a mesma pergunta naquela noite. As anteriores eram adultos e nenhuma resposta sólida, precisa, objetiva.
Confirmei uma impressão que vai se fixando na minha avaliação sobre o envelhecimento populacional: a geração de agora que já faz parte de um fenômeno etário irreversível, sabe mais sobre o assunto.
O que leva crianças a essa consciência da composição etária?
Podemos arrumar mil explicações e talvez todas elas corretas. Mas uma criança pode ter métodos diversos para fazer observações. Imagino, por exemplo, uma criança que percebe que o pai ou a mãe ou os dois, possuem irmãos e que ela não tem nenhum.
E também descobre que a maioria dos seus colegas de escola ou de clube também não têm irmãos.
Essa descoberta prática dentro do ambiente próximo familiar é mais esclarecedora que qualquer relatório do IBGE ou do livro de geografia humana da escola.
A criança se sente em um mundo diferente: o do pai e da mãe era composto por famílias com mais crianças. Ela vê as fotos dos pais e dos tios e percebe que na sua casa não é a mesma coisa.
Exatamente é isso que está acontecendo e é essa geração que vai estar com mais de 50 anos em meados deste século. Uma geração que é fruto de uma redução preocupante da taxa de natalidade.
Não há mais irmãos para brincar. A solidão conduz para arrumar amiguinhos fora de casa ou nas telas da televisão, micros, notebooks, tablets e similares.
Será que a criança já imagina que vai estar na Terceira Idade com uma família reduzida e talvez sem descendentes?
Não há qualquer dúvida de que o comportamento social do mundo mais envelhecido é diferente. Não poderia ser de outro modo porque mais do que o volume de anos somados, uma grande transformação também acontece na expectativa do que vai ser o futuro.
O Japão é o exemplo de um País que no último quarto do século XX, precisou tomar uma iniciativa ciclópica para sair de uma redução alarmante da taxa de natalidade que provocaria o desaparecimento da Nação em pouco mais de um século.
O esforço nacional parece ter sido compensado e hoje a perspectiva de desaparecimento diminuiu substancialmente para quase garantir a manutenção da nacionalidade japonesa.
De qualquer forma, nada se pode fazer em menos de duas ou três gerações para mudar o comportamento social de um povo a não ser sob situações efetivamente dramáticas ou traumáticas.
O Brasil acabou com a pirâmide etária. O crescimento populacional já entrou em declínio acentuado e o pico de população total acontecerá daqui a 26 anos (2039) quando atingiremos 219.124 mil habitantes (IBGE –Projeção da População do Brasil Por Sexo e Idade – Revisão 2008).
No ano seguinte (2040) ela cairá para 219.075 mil e o declínio anual será mantido a partir daí.
É fundamental a criação de um Ministério da Transição Etária para que todos os aspectos ligados a esse fenômeno sejam observados, identificados e avaliados também sob o ângulo da preservação da nacionalidade.
Germano Hansen Jr.