- 04 de abril de 2019

VIPPES tatuados

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Tatuagens marcam novos VIPPES. Eles já estão usando piercings e tatuagens como grito de liberdade na pele e desfrutam de nova vida entre baladas e jovens.
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No corpo, desenhos de estrelas cobrem o ombro e braço direito e representam os filhos, netos e bisnetos. Nas costas, leva uma fada e um sol durante o amanhecer. E o sol representa o início da manhã, quando chega em casa de volta da balada.

Para esta VIPPES, Judith, a festa termina sempre às 6h30, horário que a padaria abre com a primeira fornada de pães. Ao chegar a casa, cruza com a filha mais velha, de 60, que assumiu já ter perdido o controle sobre as saídas da mãe. “Depois que ficou viúva, ela se libertou. Quando fala que vai viajar e passar uma semana fora, eu nunca sei se volta em três dias, uma semana ou três meses”, diz a filha.

Questionada se já sofreu preconceito pelo visual irreverente, a VIPPES faz uma breve pausa e responde: “Se sofri, não percebi. Meu sorriso vai na frente”. Para ela, as tatuagens e os piercings não são fundamentais, mas ajudaram a expor ao mundo e aos familiares a real personalidade. Velhice e morte não ocupam o pensamento da dona de casa.
“Idade pra mim é um número e tatuagem é avanço. Morte? Sei que tenho um prazo de validade. Vou lá saber quando vou vencer, meu. Minha vida é linda.”

Noel metaleiro
A relação entre este VIPPES de 59 anos, Vitor Sanchez, e as tatuagens não começou aos 60 anos, mas é um exemplo sobre o futuro dos jovens tatuados. A corriqueira pergunta “mas e quando você ficar velho?” não passou pela cabeça quando ele pisou num estúdio, aos 33 anos. Apaixonado por desenhos, Vitor iniciou sua saga com até três tatuagens por semana, entre 25 profissionais, até alcançar 94% do corpo tatuado.

A dor e o longo processo de cicatrização valeram a pena para apenas ser um cara diferente na multidão.
“Foi uma febre e nunca gastei nada com isso. Eu olhava para a minha mão e pensava que no dia seguinte nasceria com outra”, conta.
Todos os desenhos são assinados por artistas, por isso, ele nunca gastou com tatuagens. O custo de todo o trabalho seria de aproximadamente R$ 80 mil, calcula.

Entre a miscelânea de temas, o mais simbólico ocupa o braço esquerdo: figuras natalinas. Conhecido como o Papai Noel Tatuado na região de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, Sanchez vive a versão metaleira do bom velhinho. No final do ano, encarna o personagem em um shopping na zona norte da capital.

Sanchez disse ter sofrido constrangimentos pelo visual que escolheu. “Trabalhava num escritório de publicidade e perdi o emprego por isso. Em outra ocasião, em um banco, fui acusado de fraudar um cheque. Tudo pela minha aparência”, explica. No entanto, ele acredita que o preconceito perderá força diante de tantos tatuados na sociedade.

“Vestidinho de Papai Noel (com as tatuagens cobertas) pais e crianças me adoram. Mas garanto que a reação não seria a mesma se meu corpo aparecesse”. A paixão de Sanchez pelas tatuagens já conquistou seus dois filhos, de 21 e 14 anos. O mais novo promete que tatuar todo o braço quando alcançar a maioridade. Envelhecer com os desenhos é motivo de orgulho à Sanchez. “Se eu chegar aos 80 anos, como a Judith, vou ser um cara muito feliz”.

“Expressão na pele”
Para o experiente tatuador Sergio Maciel, o Leds, fundador do estúdio com o mesmo nome, na Zona Sul da capital, o número de velhinhos modernos e descolados irá aumentar.

“Tenho muitos clientes com mais de 60 e 70 anos, eles querem expressar liberdade. E o discurso é sempre o mesmo: queriam ter feito antes, mas esperaram por medo”. Estima-se que, entre os clientes que entram no estúdio por dia, ao menos três são VIPPES e diz que nunca se preocupou sobre como as tatuagens ficarão nos longevos.

Leds acredita que a sociedade conviverá com tantos idosos tatuados que o cenário passará a ser comum, e deixará de despertar olhares tortos nas ruas. “Hoje já encontramos tatuagens em todos os segmentos, atores, chefe de cozinha, modelo e dona de casa. Ela nunca determinou o caráter ou potencial de alguém, mas virou um acessório, como uma joia”.

Um exemplo da futura terceira idade tatuada é Anderson Lopes, de 31, que atua como diretor de arte e leva ao menos 15 tatuagens pelo corpo. E ele começou cedo. Aos 17 anos, decidiu tatuar o personagem Alex, do filme Laranja Mecânica, no braço.
“Sempre escolhi os desenhos que representam filmes, músicas ou quadrinhos que gosto. Então não dá para enjoar deles, é muito pessoal”.

Apesar de já ter sido questionado sobre envelhecer com as suas tatuagens, Lopes afirma não ter nenhuma preocupação.
“Se estão ali representam um momento da minha vida. Não vou perder tempo pensando como ficarão enrugadas. Serão ainda mais importantes porque carregam uma história.”

Autor: Mona C. Cury

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