- 05 de abril de 2019

Pesquisas insuficientes

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Foto: ReproduçãoA esperança é que nesse futuro não muito distante, todos ou a maioria dos medicamentos destinados aos VIPPES tenham sido efetivamente avaliados com critérios rígidos quanto à eficácia, qualidade e efeitos colaterais indesejáveis.

Hoje, entretanto, os 45 milhões de VIPPES já em atividade, não podem aspirar à tranquilidade. As pesquisas clínicas existentes são insuficientes. Não se trata de negligência ou irresponsabilidade da indústria farmacêutica séria. O problema é mais complexo e necessita de uma análise profunda e honesta.

Vamos aos pontos mais evidentes:

1 – As pesquisas em humanos não contemplam o amplo e quase individual espectro das características inerentes ao público de idade mais avançada. O idoso que vai ter doenças próprias da idade, tais como osteoporose, hipertensão, diabetes, cardiopatias, lesões renais, etc. é em si um mundo individual, pois o grau em que apresenta essas patologias é consequência também de seus hábitos e maneira como atravessou a vida. A genética é apenas um dos elementos formadores do conjunto orgânico.

Um medicamento que combate uma inflamação em um determinado órgão terá, certamente, efeito diverso se os doentes tiverem idade e experiências de vida diversas e quanto maior a diferença etária, mais pronunciada será a diversidade dos resultados. É normal que isso ocorra porque todos os órgãos humanos são parte de um sistema que trabalha em perfeito sincronismo para que o indivíduo sobreviva com menores danos.

Os idosos sempre apresentarão desgastes ou deteriorações em seus órgãos de acordo com doenças, acidentes e situações que atravessaram através dos anos.

Crianças e jovens, ao contrário, apresentam uma renovação celular que os idosos não podem mais almejar. Pesquisas com determinadas substâncias nessas classes etárias mostram resultados muito próximos uns dos outros. Em idosos, os resultados nunca são parecidos e podem até ser opostos.

2 – A indústria farmacêutica sempre operou com a fabricação de medicamentos destinados a faixas etárias dominantes como foram as de crianças, jovens e adultos de meia-idade. A classe etária dos idosos sempre foi numericamente pouco representativa em termos de mercado.

Nessas circunstâncias, as pesquisas sempre foram direcionadas para os grandes mercados que realmente tornam compensador o imenso investimento de capital. Nunca foi vantajoso realizar ações ainda mais custosas para atender às necessidades de um então proporcionalmente pouco significativo grupo etário.

A mudança etária muito veloz nas últimas três décadas ainda não foi adaptada aos processos de estudo, produção, pesquisas clínicas e lançamento de produtos especialmente indicados para o público idoso. Naturalmente há observações registradas através dos últimos anos que acrescentaram informações adicionais sobre o uso de determinadas substâncias em pessoas de mais idade. Elas permitem que as indicações se tornem menos tentativas, mas não servem como pesquisas qualificadas para a elaboração de orientações muito confiáveis.

Mesmo substâncias que estão em uso secular não possuem pesquisas válidas para o uso em idosos.

3 – Os médicos que tratam de pacientes idosos não fazem anamnese completa e muito menos “pesquisam” os medicamentos que eles já utilizaram anteriormente. Parte significativa da classe médica não costuma nem mesmo avaliar a correlação de tratamentos simultâneos que estão sendo realizados.

É de conhecimento geral que determinadas drogas são antagônicas entre si e não devem ser indicadas para pacientes que já se tratam com uma delas.

São escassas as pesquisas que dão prioridade ao estudo das interações medicamentosas em idosos. Muitas vezes os médicos assumem o risco de medicações paralelas pela inexistência de informação adequada. O risco para os pacientes pode ultrapassar aos previstos com a continuidade da doença sem tratamento.

Com o aumento contínuo na quantidade de idosos é preciso que as pesquisas sejam intensificadas de forma extensiva. Quando produtos apresentarem o suporte de ensaios clínicos confiáveis e regulamentados para idosos, as embalagens, bulas e divulgação deveriam conter destacadamente a expressão “avaliado para idosos (VIPPES)” ou algo similar.

Exemplos de algumas “informações” contidas em bulas de medicamentos receitados para idosos de setenta anos:

a- “os idosos têm frequência aumentada de reações adversas aos AINEs, especialmente sangramento e perfuração gastrintestinal, que podem ser fatais”;

b- “recomendado o uso de faixa de doses habituais”;

c- “não há, até o momento, contraindicações para o uso em idosos”;

d- “não há estudos sobre a posologia em pacientes idosos, com disfunções renais e/ou hepáticas. Nenhum risco específico para estes pacientes pôde ser identificado a partir dos dados de pós-comercialização. Não é necessário realizar ajuste posológico para pacientes idosos, com disfunções renais e/ou hepáticas” (sic);

e- “não há contraindicação relativa a faixas etárias”;

f- “posologia para crianças e adultos”.

Percebe-se que não há nenhum padrão nas orientações. O motivo principal é a falta de estudos específicos na utilização de produtos farmacêuticos em idosos.

Um grande e enorme campo profissional está aberto para uma completa reavaliação de todo o arsenal terapêutico-medicamentoso já existente e as inovações: a realização de pesquisas técnicas sobre os resultados e os efeitos colaterais em idosos das várias faixas etárias.

G. Hansen Jr.

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