- 05 de abril de 2019

Mentiras eletrônicas

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Bons produtos não necessitam de enganações ao consumidor. O marketing profissional trabalha com fatos, números, informações técnicas e realiza pesquisas de satisfação com os usuários.

mentiras_eletronicasO crescente mercado dos VIPPES vai se tornando atrativo a cada mês no Brasil – são 120 mil novos membros nessa classe etária.

A “velha geração de VIPPES” (nascimento nas décadas até 1950) é retraída na utilização de boa parte dos novos produtos eletrônicos.

Esse distanciamento não tem motivação contra a modernidade, ao contrário, ela sente muito não ter contado com essa tecnologia quando estava no auge da vida profissional e pessoal.
Por que então o retraimento?

Há vários fatores que levam ao afastamento de potencial usuário e produto, mesmo o mais desejado. Televisores, gravadores, equipamentos de som em geral, câmaras fotográficas e de filmar, computadores, impressoras e celulares principalmente, formam o conjunto fantástico das maravilhas da tecnologia.

Qualquer um desses aparelhos pode servir de referência para a determinação da “repulsa” (palavra pesada demais para o caso). Para facilitar podemos selecionar o telefone celular ou telefone móvel.

Naturalmente alguns dos fatores já constam de queixas nos órgãos de defesa dos consumidores, mas neste momento interessa o VIPPES da velha geração especificamente. Com certeza muitos VIPPES de gerações mais novas e parte de nãoVIPPES também manifestam algumas dificuldades de “relacionamento” com essas máquinas “high-tech”:

1-    A propaganda do telefone celular é fantasticamente complicada. As várias marcas disponíveis alegam vantagens extraordinárias e difíceis de constatar na prática. Quando se questiona o vendedor a respeito, sempre há uma justificativa para o não funcionamento nos padrões divulgados. É como se os motivos fossem responsabilidade de outros agentes envolvidos e não de quem vende o aparelho.

Ora, um VIPPES da velha geração comprava alguma coisa que sabia perfeitamente o que iria ter. Comprar um produto (muito caro ou não) que pode falhar por várias razões sem garantia de funcionamento permanente é desconhecer o comportamento de usuário que não quer comprar problemas que nunca teve antes.

2-    O manual de instruções é um livro técnico sem dicionário que o acompanhe. Os textos são elaborados por profissionais de elevada competência habituados com o mundo eletrônico e que pensam que todos estão no mesmo nível de conhecimento deles. É muito interessante ler o manual de instruções e perceber que palavras novas não existem nos dicionários normais e nem na Internet. Nem todos os VIPPES possuem netos ou sobrinhos que tenham a paciência de ensinar detalhe que para eles fazem parte do aprendizado normal do mundo atual.

Como fazer para comprar um celular e depois ter dificuldade para entender as instruções operacionais?

3-    Tamanho dos textos das embalagens, das teclas, das letras nas teclas, das letras no manual de instruções e de todas as letras de tudo que vem escrito. Percebe-se uma economia de papel que precisa ter o tamanho da embalagem que por sua vez não pode ser maior que o tamanho do produto.

Os VIPPES que se amolem com suas dificuldades normais para a idade.

4-    As argumentações de venda quando os VIPPES fazem perguntas lógicas. São argumentações de venda e não respostas às perguntas. O VIPPES questiona, por exemplo, sobre a disponibilidade da Internet no celular. A resposta é mais ou menos a seguinte:

-“Sem problemas! O senhor terá Internet 24 horas por dia. Se for um 3G terá facilidade para assistir filmes, enviar fotos e falar pelo SKYPE”.

Aí o VIPPES que conseguiu entender o que é o tal de 3G, a Internet e Skype, formula:

-“Como faço para acessar a Internet no celular?”

A resposta vem célere:

-“Fácil! O senhor coloca a senha do “Wi-fi” que vem com o “Wireless” do seu computador e pronto!”

O VIPPES ouve e tenta entender o que foi dito.

-“Que “Wi-fi” é esse? Que “Wireless” é esse? Por que preciso de um computador para acessar a Internet no celular? Se eu tenho o computador vou acessar a Internet no computador e não no celular”.

-“Pois é, mas se o senhor estiver em uma região onde a antena da operadora não funciona bem, o “Wi-fi” resolve”.

-“Mas espere aí. Eu compro um aparelho telefônico celular com um preço elevado, vou pagar uma taxa mensal para ter a Internet e terei que depender de locais adequados, presença de antenas da operadora, de senhas de “Wi-fi” de computadores? Então o celular não é um produto pronto completo como o modelo anterior sem Internet?”

-“Meu senhor, o senhor não está por dentro da tecnologia. Eu recomendo que o senhor vá até a loja da Apple e lá eles explicarão para o senhor sobre o que acontece tecnologicamente no sistema móvel”.

Data dessa conversa: 3 de março de 2014 em uma loja de uma grande operadora de telefonia celular em um famoso shopping de São Paulo. A conversa é uma verdade. A divulgação da facilidade na aquisição e operação de celulares é meia-mentira ou meia-verdade. É necessária porque toda a comercialização apresenta uma sucessão de fatores que afasta potenciais usuários VIPPES.

Naturalmente se pode justificar que o tal vendedor estava mal preparado. Então há uma epidemia de falta de preparo porque houve repetição da maior parte da conversa em mais duas operadoras.

Como os aparelhos eletrônicos são uma conquista extraordinária da inteligência do homem, se as empresas minimizarem os fatores negativos ou mal solucionados, além de ganhar uma nova parcela de consumidores interessados, também estariam fornecendo um acessório de grande utilidade para parte dos 23 milhões de VIPPES da velha geração. Repetindo: vinte e três milhões de VIPPES da velha geração. Esse é um mercado potencial que não quer entrar em lojas de celulares e ter uma conversa como a registrada acima.

Torquato Morelli

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