- 07 de abril de 2019

Previdência imprevidente

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Quando nasci, 1941, a esperança de vida era de 43 anos. Eu poderia me aposentar com 53 anos (35 de contribuição previdenciária), já somando 10 anos de bônus de vida. Ainda estou vivo (73), mas falido.

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Fiz o seguinte raciocínio:

A expectativa de vida para o ano que nasci era de 43 anos. Como pertencia à classe média, achei que poderia me alimentar melhor, conseguir melhor atendimento médico em eventuais problemas de saúde, viver com mais conforto e bem estar e passar menos dificuldades de modo geral.  Localizei estatísticas de outros países e concluí que poderia viver mais uns vinte anos acima da expectativa de vida da época. Chegaria então aos 63 anos! Pouco mais ou pouco menos, mas vinte anos a mais que a previsão normal.

Quando comecei a trabalhar, com 18 anos, achei que poderia ter um ritmo constante, sem interrupções. Trabalharia então 35 anos diretos e me aposentadoria com 53 anos. Como imaginava que viveria até os 63, teria dez anos inteiros para aproveitar a aposentadoria.

A vida foi passando e começaram os problemas: as empresas não queriam ninguém com idade acima dos 50 anos (a não ser para alguns poucos cargos diretivos ou superespecializados); alguns problemas de saúde começaram a aparecer.

Tudo parecia caminhar dentro do previsto. Aposentadoria aos 53 anos, saúde razoável para aproveitar os dez anos seguintes. Talvez realizar uma consultoria profissional de qualidade para aumentar um pouco a renda.

Dentro do planejado, a economia realizada durante a vida proporcionaria, juntamente com a parca aposentadoria oficial, condições para uma vida digna, sem luxo, mas também sem dificuldades financeiras. Tudo correu de acordo com o planejado até os 63 anos. Uma esticadela na economia pessoal permitiu mais 7 anos de “bonificação” de vida. Cheguei aos 70 anos. Assim, com uma esperança ao nascer de 43, estendi conscientemente para 63 e cheguei além do planejado, aos 70 anos.

Só que o meu planejamento financeiro não poderia ir além dos 70 improváveis anos de vida. Já estou com 73 e só conto agora com a parca aposentadoria, insuficiente para manter o padrão dos últimos dez anos. Na verdade, estou falido. A longevidade arrebentou o meu planejamento de vida. Vivo mais do que pensava. Vivo além das previsões e das estatísticas. Driblei as doenças, os acidentes, os erros médicos, os cálculos da Previdência.

Quantos não estarão na mesma situação?

E o Ministério da Previdência Social? Como estará me classificando? Eu deveria estar eliminado dos quadros de aposentados. Já sou um beneficiário de vinte anos de aposentadoria paga pelo Estado que também previu que eu não passaria dos 63, talvez dos 70 em última hipótese. Agora eu sou uma fonte de gastos previdenciários não previstos. Estou correndo o risco de ser cancelado se cometer a mínima infração às normas previdenciárias.

Serei eu um imprevidente com respeito à Previdência?

Seria a Previdência imprevidente prevendo que eu não viveria tanto assim?

E como vão ficar as contas?

As minhas já se encontram no vermelho. Já cortei todos os gastos possíveis. Não posso mais ficar doente, nem levar um tombo, gripe de maneira nenhuma (tomo vacina no Posto de Saúde todos os anos), não fumo e não bebo para preservar rins, fígado e pulmões. Faço todas as prevenções possíveis. Quase não preciso tomar medicamentos. Só a próstata é que aumenta o meu saldo devedor. Meu plano de saúde é o mais em conta do mercado e já começo a buscar o SUS. Consignado do INSS está no limite: 57 prestações para pagar (não sei se viverei até os 78 para liquidar a conta).

E como ficarão as contas da Previdência Pública? Quantos beneficiários estão na mesma situação que eu? Vivendo muito mais que as previsões? Mantendo muito mais tempo o nome na lista ativa? Aumentando o déficit da Instituição? Alguma coisa não está certa em toda essa história.

Mas se as coisas continuarem como estão acabarei sendo eliminado da Previdência senão ela explode. Eu e milhões de outros VIPPES que tiveram a ousadia de desafiar as previsões de esperança de vida do IBGE.

Portanto, as coisas não podem continuar como estão. É possível reformular a estratégia. Mas que comece agora.

Wolfgang K. L.

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