- 07 de abril de 2019

Já passou da validade

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A substituição etária é também uma consequência do crescimento significativo da esperança de vida ao nascer, no Brasil. A velocidade desse crescimento é admirável e muita gente já passou da validade.

Vamos analisar as tabelas abaixo que comparam o aumento da expectativa de vida para os brasileiros:

ano

1910

1920

1930

1940

1950

1960

1970

 

 

 

 

idade

34,6

35,2

37,3

43,1

52,3

52,3

63,1

 

 

 

 

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1910-2000. Até 1981, dados extraídos de Estatística do Século XX, IBGE: Rio de Janeiro, 2007 no Anuário Estatístico do Brasil, 1981, vol 42, 1981.

Como houve uma revisão do IBGE na projeção da população brasileira em 2008, do ano de 1980 em diante e em 2013 do ano de 2000 em diante, usaremos a primeira para os anos de 1980 e 1990 e a segunda para o período do ano 2000 a 2060.

ano

1980

1990

2000

2010

2020

2030

2040

2050

2060

idade

62,7

66,6

69,8

73,9

76,7

78,6

79,9

80,7

81,2

aumento

em   10 anos

base

3 anos

e 11

meses

3 anos

e   3 meses

4 anos

e   2

meses

2 anos e   9

meses

1 ano e 10

meses

1 ano   e   4

meses

9 meses

6 meses

As aparentes contradições observadas como esperança de vida iguais para 1950 e 1960 e esperança de vida em 1980 menor que em 1970 se devem a ajustes originados pelos dados oficiais dos Censos Demográficos.

Vamos então fazer análises em cima da segunda tabela mais atualizada e, portanto mais confiável.

A década que teve como base o ano de 2000 apresentou o maior aumento – quatro anos e dois meses – no tempo de esperança de vida. É um ganho significativo que demonstra efetivamente que as pessoas que nasceram na primeira década do século XXI vão proporcionalmente viver muito mais.

Um indivíduo que nasceu em 1980 já tinha uma expectativa de viver até o ano de 2042. Se ele tivesse nascido dez anos depois a sua expectativa seria de viver até 2056 e se ele
tivesse deixado para conhecer o mundo no ano 2000 ele poderia viver até o ano de 2070, ou seja, ele teria ganhado um total de sete anos e um mês a mais da expectativa de quem nasceu vinte anos antes. Essa é a essência do aumento da esperança de vida.

Um VIPPES que nasceu em 1940 está hoje com praticamente 74 anos quando na primeira tabela a expectativa de vida não passava de pouco mais de 43 anos. Como se pode explicar essa diferença entre expectativa e realidade de tempo de vida?  E olhe que esse VIPPES de 74 anos ainda poderá ir mais longe e pode até dobrar a expectativa da época.

Na prática o que ocorre é que o VIPPES que “já passou da validade” teve possibilidades e condições de vida muito superiores à média geral da população.

Se em 1940 as condições de vida fossem distribuídas de forma mais equânime para toda a população, a expectativa de vida já seria maior do que os 43 e poucos anos de média e hoje já teríamos uma população bem maior de VIPPES com 74 anos – em lugar dos 696.363 VIPPES de hoje (IBGE-Projeção da População Brasileira por Sexo e Idade-revisão 2013). Não temos agora todos os elementos para calcular de forma precisa a quantidade de pessoas que não viveu os 74 anos, mas seria interessante como informação adicional para projeções.

Alguns dos dados que precisariam ser levantados para se chegar ao resultado final da população que não viveu os 74 anos poderiam ser:

    – óbitos por falta de hospitais e equipamentos adequados;
    – óbitos por falta de médicos;
    – óbitos por falta de transporte de pacientes para locais com recursos médicos;
    – óbitos por causa de nutrição insuficiente;
    – óbitos por falta de conhecimento mínimo de indicadores de problemas de saúde;
    – óbitos por ausência de políticas públicas de prevenção da saúde;
    – óbitos de crianças recém nascidas por falta de condições inadequadas de saneamento básico;
    – óbitos por ignorância de conceitos de higiene e nutrição (deficiência educacional)
    – óbitos por falta de políticos mais responsáveis;
    – óbitos por falta de serviços públicos dedicados;
    – óbitos por prática de atitudes preconceituosas da sociedade em geral;
    – óbitos pela deficiente relação governo/iniciativa privada nas questões sociais;

Esses dados são os maiores responsáveis primários pela esperança de vida de apenas 43 anos em 1940. Entretanto, as justificativas divulgadas por “especialistas” em demografia e política partidária jogam a culpa em cima de alguns tópicos acessórios:

         – ainda não havia tomografia e ressonância magnética para diagnósticos;
         – ainda não havia medicamentos “maravilhosos”;
         – ainda não havia academias, clínicas e SPAs;
         – ainda não havia estudos sobre colesterol, câncer de mama e próstata;
         – ainda não havia transplantes;

Realmente não existiam esses acessórios. Mas hoje estão vivos com 74 anos quase setecentos mil VIPPES que também viveram nesse período. Sem tomografia, sem ressonância magnética, sem transplantes, sem hospitais de referência, mas tendo oportunidade de usarem os recursos existentes até então.

O desafio da substituição etária é a criação de condições para que a maioria, senão a totalidade da população consiga também “passar da validade”. Independentemente da melhoria geral de condições de vida (nem estamos falando de qualidade de vida) já haverá uma mudança etária portentosa, porque todos querem viver o mais que puderem.

A sociedade tem a obrigação de proporcionar a vida, mas com qualidade.

E pode! E não será filantropia. Vai se ganhar muito dinheiro!

É uma questão de querer fazer. Só isso!

G. Hansen Jr.                                           

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