- 07 de abril de 2019

Crônica da Próstata

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Sou um VIPPES que quer continuar a viver de forma produtiva, qualificada e saudável. Problemas de saúde podem atrapalhar, mas não devem ser barreiras intransponíveis a impedirem a vivência.

Certos procedimentos médicos podem, entretanto, prejudicar a mobilidade e nem sempre são simples e completamente seguros. É sempre conveniente pesquisar a fim de não ficarem dúvidas a respeito de tratamentos.

No caso da próstata, é aceita a teoria que considera que todos os homens terão um câncer de próstata. A diferença entre os VIPPES é que alguns desenvolverão um tipo mais agressivo de malignidade e outros apresentarão evolução mais lenta e inofensiva. Há informações de que muitos VIPPES de idade avançada, que não demonstravam nenhum problema com a próstata, eram portadores de câncer na glândula, com constatação, porém, só após a morte.

Como contribuição aos esclarecimentos que podem ser úteis para todos os VIPPES que se preocupam com o problema, segue abaixo uma crônica por mim escrita logo após uma consulta médica encerrada com um encaminhamento para realização de uma biópsia da próstata.
Para mim, a crônica é um meio de me livrar de uma crise psicológica. Escrevo crônicas em vez de me encher de álcool, drogas ou de chutar o cachorro.

CRÔNICA DA PRÓSTATA SUSPEITA

Uma CRÔNICA é um (vou usar o Aurélio) “texto jornalístico redigido de forma livre e pessoal, e que tem como temas fatos ou ideias da atualidade, de teor artístico, político, esportivo, etc., ou simplesmente relativos à vida cotidiana”. Esta crônica procura atender esta última conceituação.

PRÓSTATA! (novamente uso o Aurélio para manter o padrão): “glândula própria do sexo masculino, e que circunda o colo vesical e parte da uretra”. Trocando em miúdos, ela fica na retaguarda do pênis, debaixo da bexiga. No Dicionário ela parece tão simples quanto qualquer outra porção do corpo humano.

SUSPEITA! (se eu não usar o Aurélio, alguém perguntaria o motivo; assim, continuo com ele): “opinião, geralmente desfavorável, acerca de alguém ou de algo, desconfiança, intuição, pressentimento, suposição”.

Clareando o tema da crônica resta agora redigir a matéria completa. Não é matéria científica e nem pretende ser uma choradeira de paciente assustado. Também não é pelo receio de uma avaliação retal coletiva da próstata a ser realizada em um Congresso de Urologistas. Provavelmente seria uma tentação irresistível se eu fosse gay.
Acontece que eu estou com uma solicitação médica de biópsia da próstata com hipótese diagnóstica de câncer (CA na escrita formal). Não se trata de um achismo, apenas. O médico (cujo nome posso fornecer em contato pessoal porque não quero divulgar publicamente a fim de evitar eventual processo) escreveu exatamente isso na solicitação da biópsia por via retal.

Quer dizer que ele acha que é provável que eu esteja com um câncer na tal glândula. Ele acha que sim e eu acho que não. Pronto! Eis aí o problema. Ele, o profissional da saúde, dono do jaleco branco (verde nas salas de cirurgia), seis anos de estudo formal e mais alguns anos de clínica e hospitais, assina a opinião. (Por que os médicos usam jalecos brancos? É a mesma cor da roupagem dos anjos que só existem no céu para os que morreram. E trocam por verde nas salas de cirurgia. Será que é para o paciente aumentar a esperança – sempre representada pela cor verde, até para os palmeirenses – de sair vivo da sala?).
Eu não sou médico, mas, não sendo embotado, sei ler e procurar nos livros, na Internet e onde adequado, todas as informações possíveis sobre a Próstata e suas doenças. Mas mais que tudo, eu me conheço há 74 anos e esse médico apenas há dois anos. Quem tem razão? Ele que acha que eu estou com câncer na próstata ou eu que acho que não estou?

Certeza ele não tem e para isso precisa fazer a biópsia. Eu seria idiota se afirmasse que minha convicção é mais confiável do que uma biópsia. Entretanto eu tenho uma intuição pessoal que me dá uma enorme vantagem sobre a opinião dele, que não pode ter a “minha” intuição.
Alguém diria: “fácil resolver isso, basta fazer a biópsia”. É aí, porém, que reside o cerne (núcleo, centro, motivo) do problema. Fazer uma biópsia é uma invasão dolorida, perigosa e potencialmente fatal. É ainda a causa de redução da atividade sexual e profissional.

Dolorida porque realmente dói. O pós-procedimento de uma biópsia é acompanhado por dores espasmódicas que podem durar dias. Quem já fez, homem, naturalmente, sabe bem o que é isso. É lógico que vai ter que tomar analgésicos, anti-inflamatórios, canja de galinha, resguardo geral e desconforto generalizado. O pênis, então, coitado. É obrigado a pingar sangue originado pela invasão com agulha e raspagem de algumas áreas (amostras) de material para análise laboratorial. Essa “pingação” (o Aurélio que me perdoe) pode durar dias ou semanas.

Assim, a primeira razão para não fazer uma biópsia é a dor, o desconforto e a inclusão de medicamentos na dieta.

Biópsia é perigosa. Se não houver perfeição (o termo aqui tem que ser compreendido em toda sua extensão), pode haver perfuração da bexiga, das glândulas seminais, da uretra e de outros setores próximos. Mas pior ainda é a probabilidade de haver uma única célula cancerosa na próstata (que não seria capaz de matar ninguém nas próximas décadas) e ela ser trazida pela agulha ao sair da glândula e desprender-se caindo na circulação sanguínea. O resultado será o transporte da célula cancerosa para outro lugar do corpo humano onde ela poderá ter uma expansão acelerada formando metástases de forma adoidada. O fato ainda mais dramático e triste é que o resultado da biópsia da próstata será negativo e semanas ou meses depois, o “paciente” biopsiado (Aurélio, me perdoe outra vez) e “isento” de câncer de próstata vai procurar médicos de outras especialidades porque o câncer já estará no pulmão, cérebro e sabe-se lá onde mais “graças” à biópsia “negativa” da próstata.

A biópsia ainda é perigosa porque pode causar uma infeção nas vias urinárias. Se não for percebida em tempo, poderá exigir providências drásticas para combatê-la. Os efeitos colaterais das medicações utilizadas nesses casos podem ser graves e comprometer alguns órgãos de maneira permanente.
Finalmente, a biópsia pode ser fatal porque uma anestesia ou sedação geral pode circunstancialmente provocar parada respiratória ou cardíaca e nem sempre o paciente responderá com sucesso às providências de emergência.
Variando muito de homem para homem, porém, atingindo a todos que realizarem uma biópsia da próstata, a vida sexual sofre paralisação e a profissional pode se tornar inviável por dias ou semanas.

Portanto, uma biópsia de próstata não é assim tão simples e agradável. Para o médico que faz a recomendação, sim, é decisão aplaudida e suportada pelas associações médicas, laboratórios farmacêuticos e de análises e pelos centros hospitalares. Todos ganharão! As estatísticas oficiais, formais divulgadas e que normalmente são mais otimistas que a realidade indica um índice de 5% de complicações graves e moderadas em biópsias da próstata.

Alguém já estará questionando: “E se a biópsia confirmar um câncer”?
Se ela confirmar um câncer, o problema passa a ser o câncer e não mais a próstata. É outra questão que deve ser analisada com suas particularidades.
A Crônica é sobre a próstata “suspeita”. Tem ou não tem câncer?
Agora vou apresentar uma avaliação comparativa da minha posição e aquela do médico, ou seja, eu acho que não é o caso de fazer uma biópsia e o médico (ou a Medicina, de forma geral) acha que devo fazer a biópsia apesar de todos os riscos que ela comporta.

Motivos que eu tenho para não fazer a biópsia Motivos que o médico tem para pedir a biópsia       Minha conclusão
A ultrassonografia da próstata de julho de 2015 mostrou a glândula com um peso estimado de 85,5 gramas. A ultrassonografia de fevereiro de 2016 indicou o peso estimado em 74 gramas. Em praticamente um ano, houve redução de 14% no peso da glândula.
A mesma ultrassonografia acima indica as medidas da glândula 16011,3 ou 5,7 x 5,3 x 5,3 A mesma ultrassonografia acima registra as medidas

13717,0 ou 5,5 x 5,8 x 4,3

O volume total reduziu 15%.
Ainda nessa ultrassonografia, o resíduo de urina na bexiga foi 25 ml. O resíduo de urina foi 18 ml. Melhora na redução do resíduo (28% menos) Significa que urino muito melhor.
PSA atual –fev. 2016 = 7,55 PSA em 31/03/2015 = 9,28 Melhora substancial na redução do PSA (19% menor)
Nenhuma dor e ausência de dificuldade urinária Nenhuma dor e ausência de dificuldade urinária Nenhuma mudança nas ótimas condições
Os cinco aspectos acima comprovam uma melhoria substancial nas condições funcionais da micção e, portanto, ausência de qualquer sintoma de dificuldade. Muito ao contrário, a melhora é evidente mesmo considerando uma piora da insuficiência renal.
 

HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DA SITUAÇÃO DA PRÓSTATA QUE SUPORTAA AVALIAÇÃO POSITIVA ACIMA

 

1ª BIÓPSIA em 31/03/2010 apresentou resultado negativo para malignidade ou inflamação.

Peso da próstata = 64 g

Volume: 4,7 x 5,8 x 4,5 = 12267,0

O médico achou excelente que não houvesse câncer O médico (outro) que fez o pedido da Biópsia afirmou que havia câncer e que a biópsia serviria para delimitar o campo da prostatectomia. Já previra tratamento rádio e quimioterápico no pós-operatório
Evolução do PSA

26/02/2011 = 4,88

10/10/2011 = 4,13

12/01/2013 = 6,82

28/03/2013 = 7,46

21/11/2013 = 6,17

Medicação indicada foi Secotex para reduzir volume da próstata.

Provocou ejaculação retrógrada e congestão seminal.

O médico (o mesmo da 1ª biópsia) achou que as condições estavam melhores em relação ao pedido da biópsia com resultado negativo. Não pediu outra.
Como se percebe houve acompanhamento da evolução do PSA. Sintoma que surgiu foi algumas mudanças na micção que às vezes aumentava no período noturno ou apresentava alguma dificuldade na fluidez.

A partir daí, por várias razões, eu troquei de Convênio Médico.

Em 16/07/2014 a médica geriatra do novo Convênio pediu um PSA e o resultado foi de7,79. Encaminhou para um médico urologista (não o atual) que pediu uma biópsia e receitou Combodart para uso contínuo. Novo médico achou muito necessário fazer nova biópsia porque houve uma aceleração em pouco tempo do crescimento do PSA. O médico considerou que o colega que então cuidava da próstata já deveria ter pedido outra biópsia apesar da relação PSA livre e total ser negativa p/câncer.
2ª BIÓPSIA em 19/09/2014

Apresentou como resultado: “Reação Imuno-histoquímica inconclusiva, com foco suspeito mínimo esgotado”.

 

Peso da próstata = 108,5 g

Volume: 6,8 x 5,7 x 5,6 = 21705,6

O novo médico considerou que não havia motivo para nenhuma ação e aguardaria uns seis meses para nova biópsia A crise contínua de cálculos renais com três procedimentos cirúrgicos que retiraram cálculos, mas não desobstruíram o ureter, impediu qualquer ação em relação à próstata.

Importante notar que a próstata estava muito maior que a atual (58% a mais) – ainda não havia aparecido o efeito do Combodart. Também o peso da próstata era 46% maior do que é agora.

PSA em 7/03/2015 = 11,84

PSA em 31/03/2015 = 9,28

 

 

 

 

 

 

 

O médico atual achou alto, mas considerou que a prioridade era o problema com os cálculos. Deixou para levar em conta só após a solução dos cálculos Eu achei que o PSA estava muito alto, pois já fazia seis meses que eu tomava o Combodart. Disse a ele que me preocupava mais com a próstata, pois além do PSA elevado eu estava com muitas dificuldades de micção. Naquele momento eu faria uma biópsia sem qualquer hesitação.
19/02/2016

PSA de 07/02/2016 =

7,55

Médico decide pela biópsia sob a Hipótese Diagnóstica de CA (Câncer de Próstata). Eu decido pela não realização da biópsia por não encontrar piora em relação às situações anteriores.

Evidentemente que a decisão pela não realização da biópsia poderá ser modificada se e quando houver mudanças nos aspectos que efetivamente possuem significado indiscutível.

Autor: G. Hansen Jr.

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